LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
“Caros eleitores, o candidato diz o que vocês querem ouvir, ele foge da verdade
amarga. Precisamos do dólar alto para tornar nossas empresas competitivas.
Temos que dificultar o acesso ao crédito. Antes de voltar a crescer é preciso parar
de produzir e consumir em demasia”.
Seria o Carlos do PDP que falava? “Meu Deus eu devo estar ficando louco”, suas
vozes eram indistinguíveis. Um mal estar tomou conta de mim. Comecei a suar
frio e a tremer.
O que aconteceu a seguir é de difícil explicação, eu considero sua causa o esforço
contínuo e infrutífero que eu fiz durante horas de discurso, ao tentar achar uma
diferença entre os dois candidatos. Com as vistas doloridas e um zumbido no
ouvido, o palanque a minha frente começou a girar e rodopiar. Achei que iria
desmaiar, eu estava prestes a gritar por ajuda quando de repente todos os meus
sintomas desapareceram.
Ainda ofegante olhei para frente e vi apenas um candidato com o dedo em riste,
vociferando e apontando para os eleitores. Era impossível identificá-lo. Seu
discurso não era de esquerda ou de direita, era um discurso de situação, servia
apenas para criticar ou apoiar o que lhe convinha. Percebi que os demais
cidadãos aplaudiam e vaiavam o mesmo (o único) candidato, no final das contas
eles não conseguiam perceber que eles não eram vermelhos ou azuis, mas
apenas roxos.
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