LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Demônio Noturno
Carlos Zancanella
Rodeio/SC
Tinha olhos grandes e sérios. Não olhavam, invadiam a alma. Era assim que eu
lhe poderia descrever aquele demônio. Vinha sobre quatro patas, com
movimentos suaves e pulava sobre minha cama. Via sua pelagem negra, seus
olhos brilhantes no escuro. Queria-me roubar a alma, mas eu, tola, pensava em
tocar-lhe.
Sempre uma armadilha! Ele queria que eu fizesse isso, atraia-me para este fim, e
então, virava-se rapidamente e agarrava minha mão. Não sangrava, pois eu não
deixava que chegasse a tal ponto. Escondia-me embaixo da coberta. Esperava
que fosse embora, todavia, parecia-lhe agradável a ideia de me atormentar um
pouco. Ficava uns minutos por cima da coberta, me deixando ouvir a sua maldita
respiração. Não o via, mas sentia um sorriso no ar. Gosta de me atormentar, ama
ver-me no sofrimento, temendo sua presença. Alimenta-se disso este demônio!
Então em um momento, ficava aborrecido.Saltava da cama e parava ao pé da
porta. Parecia querer me dizer que amanhã voltaria, que minha alma era dele e
nada eu podia fazer. Ele saia e o ambiente voltava a ter cor. Nesses momentos
pensava “Como eu odeio o gato da minha tia!”.
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