LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
dezoito anos, o corpo franzino exibindo-se no tronco sem camisa, dois deles com
uma pistola velha em punho e outro com um fuzil que levava preso por uma
correia que passava por seu ombro, balançando de forma ritmada conforme
andava. Cada um levava um rádio preso na bermuda, na altura da cintura.
Chegaram em frente à casa de seu Francisco, tiraram o suor do rosto para uma
sensação de alívio no dia quente e um deles chamou em voz alta:
– Seu Francisco, vem aqui que a gente precisa conversar!
Mas nenhuma resposta vinha lá de dentro.
Alguns curiosos foram se juntando ao redor do local, fingindo fazer algo
como conversar sobre o tempo ou ir às compras, mas com os olhos focados na
cena que se desenrolava em frente à casa de seu Francisco.
Um dos rapazes ajeitou para o lado a arma que pendia sob seus ombros e
foi conversar com uma das mulheres que estava no grupo de curiosos que se
formava.
– Dona Lúcia, me dá um copo d’água?
– Sim meu filho… e como anda a sua mãe?
– Vai bem, estava meio gripada mas está melhorando.
Ela o conhecia de longa data, era amiga de sua mãe e quando ainda era
mais jovem ele brincava de pipa na laje das casas com seu filho. O rapaz, por
sua vez, ainda guardava-lhe certo respeito que se tem com os mais velhos que
se conhece por intermédio dos pais e que se aprendeu a respeitar. Após curto
período de tempo, dona Lúcia voltou com um copo cheio de água gelada, e o
rapaz bebeu tudo de um gole só.
– E como vão as coisas? – perguntou à mulher, de forma meio ríspida.
– Bem, bem… – e a mulher deu um suspiro de cansaço, como se já
exausta, o último “bem” tão desanimado que logo desbotou no ar, quase sem ser
ouvido.
O rapaz devolveu o copo e virou de volta à cena, que não havia mudado
em nada desde que a deixara: o homem não aparecia de jeito nenhum.
Como ele não saía, resolveram-se por entrar à força na casa. Ouviu-se
alguma discussão, sons de objetos sendo arrastados, e logo vinham os três
levando um seu Francisco com semblante preocupado, os olhos fugidios mirados
para o chão, a camisa de botão ainda aberta. Atrás deles vinha a sua mulher:
vestido amarelo desbotado, as sandálias mal calçadas arrastando no chão
enquanto tentava segurar seu marido de alguma forma, suplicando que o
deixassem em paz, que com ele não fizessem nada. Seu Francisco respondeu a
isso como se despertasse de suas preocupações, esbravejando irritado na direção
da mulher, ameaçando-a, chamando-a de vadia e que viria se vingar do que
havia feito. A mulher ia correndo atrás e puxando o marido, jurando não ter feito
nenhuma denúncia e ao mesmo tempo pedindo aos homens que lhe soltassem,
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