Revista ideaas | UM |
Coluna
SLOW
MEDICINE
E
José Carlos
Campos Velho
*Atualizações em:
slowmedupdates.com
mbora seja um pouco difícil de conceituar-
mos Slow Medicine, poderíamos descrevê-la
como “uma prática da Medicina na qual se é
cuidadoso ao entrevistar (e examinar) os pacientes, em
ponderar os riscos e benefícios das intervenções diag-
nósticas e terapêuticas, sem pressa de intervir quando
os sintomas são pouco específicos; uma prática que
se utiliza da observação clínica como importante es-
tratégia diagnóstica e terapêutica e cautelosa sobre
a adoção de novos testes diagnósticos e terapias, até
que as evidências estabeleçam seu valor” (*).
A Medicina sem Pressa, como traduzimos a expressão
livremente para o português, é uma filosofia e um con-
junto de princípios que propõe um novo paradigma
para a prática médica.
A Slow Medicine tem quatro pilares: a relação médi-
co-paciente, enquanto o fulcro da prática médica;
o compartilhamento de decisões com pacientes
e familiares, desde que adequadamente informados;
o tempo enquanto valor essencial que permite uma
escuta diferenciada do doente e o uso cauteloso e
ponderado da tecnologia, tanto diagnóstica como
terapêutica.
A Slow Medicine não é uma especialidade médi-
ca. Trata-se de um conjunto de princípios que
podem nortear a prática médica dentro de uma
perspectiva mais humanista e centrada no pa-
ciente. Também não se trata de um conjunto
de regras, diretrizes e protocolos.
Os princípios da Slow Medicine podem ser apli-
cados nos mais diversos ambientes onde há a
atenção em saúde: consultórios, hospitais, pos-
tos de saúde, instituições de longa permanência
e mesmo na casa do paciente.
Sabemos que a sustentabilidade dos sistemas público e
privado no Brasil se encontra em um momento muito
delicado. Uma maior racionalidade na utilização dos
recursos se faz mister, na medida em que convivemos
tanto com uma abundância de recursos como com
sua mais absoluta escassez. Um aspecto importante
é a utilização excessiva de recursos diagnósticos, uma
verdadeira epidemia silenciosa, que se constitui como
um problema de saúde pública: o sobrediagnóstico e o
sobretratamento. Esses problemas podem ser lesivos
aos pacientes, e têm custos econômicos significativos
além de possíveis prejuízos individuais.
Desta maneira, a Slow Medicine pode sugerir outra
forma de praticar a medicina, induzindo a uma prá-
tica mais reflexiva, reduzindo a solicitação abusiva
de exames complementares e intervenções de baixo
valor, fato que pode ter impacto inclusive nos custos
da assistência médica.
Importante salientar que a Medicina Sem Pressa não tem
seu foco na redução de custos, mas, sim, no uso racional de
recursos, buscando os melhores resultados terapêuticos
para o paciente.
12