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consumidor preferir fazer isso em casa?
Sem ter que ir muito longe, sem gastar
muito?
O impacto é em cadeia. Em toda a cadeia
produtiva ou “supply chain”. O consumidor
fica em casa e gasta menos combustível. A
indústria dos combustíveis perde.
Este consumidor cansado fica em casa e
não vai a um bar ver música ao vivo. O
músico perde o emprego. Um empregado a
menos no país é um consumidor a menos
gastando seu dinheiro. O restaurante fica
sem clientes e os funcionários do
restaurante ficam sem trabalho. O
consumo de bebida diminui, afinal, o
consumidor sempre bebe uma ou outra a
mais quando está em um local apropriado.
O clima ajuda, as pessoas, as conversas.
Mas se todos se reunirem na casa mais
próxima, e levarem um isopor com latinhas
de cerveja mergulhadas no gelo, os valores
despendidos
serão
menores,
o
deslocamento será menor, o custo será
reduzido, e o consumidor beberá menos
cerveja, porque se ele levar apenas seis
latas, não vai ter como passar disso. Se ele
tiver em mãos duas latas, até ir e voltar do
supermercado, que fica dentro do
complexo de compras do Shopping Center,
depois de enfrentar o trânsito, depois de
estacionar. Bem, o nosso consumidor já
desistiu há muito tempo. E o fator
econômico pesa muito neste momento.
Os consumidores se organizaram em
“Grupos de Isoporzinho” e formam
verdadeiras manifestações em locais
públicos ou imóveis particulares. Há grupos
formados nas redes sociais (11), outros por
acaso (12) e outros ainda que ganham
repercussão na mídia tradicional como TV
e jornais impressos e são republicados na
internet.
Essa maneira inovadora dos consumidores
em lidar com os preços cada vez mais altos
dos produtos, somando nesta conta os
valores
despendidos
com
serviços
associados a estes produtos parece ter
começado na cidade do Rio de Janeiro (13),
e se espalhou pelo país, com reflexos até
no extremo norte (14). Lembro-me do caso
específico do rapaz que fez contas rápidas
de sua noite. Foi para a praia com seu
isopor, juntou-se a outras pessoas,
conversaram, riram, divertiram-se e todos
foram para casa andando e felizes. Não
houve acidentes, nada de usar carro, nada
de trânsito, nada de garçon trocando
pedidos, nada de aborrecimentos. Este
participante disse que gastou R$ 23,00 a
noite toda. E que se tivesse ido a algum
lugar, só o que ele consumiu não sairia por
menos de R$ 80,00 (15).
Mas qual é o impacto disso na indústria de
cerveja? Analisando no primeiro momento,
a empresa continua vendendo. Talvez tão
bem quanto antes. Talvez até mais, afinal,
o consumidor poderá consumir o produto
sem medo de esbarrar em nenhuma lei.
Errado!
Se o consumidor for apenas um casal, eles
consumirão menos bebida. Se for um
grupo, talvez o consumo aumente. Mas se
estas pessoas não estiverem indo a
estabelecimentos para consumir os
produtos, os bares, restaurantes e afins
sentirão o impacto e comprarão menos
barris ou caixas. Isso se reflete na indústria.
A mesma que foi afetada com a
concorrência, com as diversificações na
oferta de marcas, produtos, sabores e
gostos e a diminuição da frequência de
consumo, afinal, se o consumidor médio
vai levar um isopor para uma praça e
espera se encontrar com os amigos, nem
sempre será possível uma reunião. Isso
demanda disponibilidade. O consumo
tende a diminuir. E mais. Se um dos
consumidores sugerir uma partida de
futebol ao invés de ficarem todos parados
bebendo, o consumo também diminuirá.
Após a partida, alguma bebida será
consumida, mas em menor escala. O
tempo está mais curto.