Revista FAATESP Ano 1 / N° 1 - Ago 2014 | Page 56

[email protected] consumidor preferir fazer isso em casa? Sem ter que ir muito longe, sem gastar muito? O impacto é em cadeia. Em toda a cadeia produtiva ou “supply chain”. O consumidor fica em casa e gasta menos combustível. A indústria dos combustíveis perde. Este consumidor cansado fica em casa e não vai a um bar ver música ao vivo. O músico perde o emprego. Um empregado a menos no país é um consumidor a menos gastando seu dinheiro. O restaurante fica sem clientes e os funcionários do restaurante ficam sem trabalho. O consumo de bebida diminui, afinal, o consumidor sempre bebe uma ou outra a mais quando está em um local apropriado. O clima ajuda, as pessoas, as conversas. Mas se todos se reunirem na casa mais próxima, e levarem um isopor com latinhas de cerveja mergulhadas no gelo, os valores despendidos serão menores, o deslocamento será menor, o custo será reduzido, e o consumidor beberá menos cerveja, porque se ele levar apenas seis latas, não vai ter como passar disso. Se ele tiver em mãos duas latas, até ir e voltar do supermercado, que fica dentro do complexo de compras do Shopping Center, depois de enfrentar o trânsito, depois de estacionar. Bem, o nosso consumidor já desistiu há muito tempo. E o fator econômico pesa muito neste momento. Os consumidores se organizaram em “Grupos de Isoporzinho” e formam verdadeiras manifestações em locais públicos ou imóveis particulares. Há grupos formados nas redes sociais (11), outros por acaso (12) e outros ainda que ganham repercussão na mídia tradicional como TV e jornais impressos e são republicados na internet. Essa maneira inovadora dos consumidores em lidar com os preços cada vez mais altos dos produtos, somando nesta conta os valores despendidos com serviços associados a estes produtos parece ter começado na cidade do Rio de Janeiro (13), e se espalhou pelo país, com reflexos até no extremo norte (14). Lembro-me do caso específico do rapaz que fez contas rápidas de sua noite. Foi para a praia com seu isopor, juntou-se a outras pessoas, conversaram, riram, divertiram-se e todos foram para casa andando e felizes. Não houve acidentes, nada de usar carro, nada de trânsito, nada de garçon trocando pedidos, nada de aborrecimentos. Este participante disse que gastou R$ 23,00 a noite toda. E que se tivesse ido a algum lugar, só o que ele consumiu não sairia por menos de R$ 80,00 (15). Mas qual é o impacto disso na indústria de cerveja? Analisando no primeiro momento, a empresa continua vendendo. Talvez tão bem quanto antes. Talvez até mais, afinal, o consumidor poderá consumir o produto sem medo de esbarrar em nenhuma lei. Errado! Se o consumidor for apenas um casal, eles consumirão menos bebida. Se for um grupo, talvez o consumo aumente. Mas se estas pessoas não estiverem indo a estabelecimentos para consumir os produtos, os bares, restaurantes e afins sentirão o impacto e comprarão menos barris ou caixas. Isso se reflete na indústria. A mesma que foi afetada com a concorrência, com as diversificações na oferta de marcas, produtos, sabores e gostos e a diminuição da frequência de consumo, afinal, se o consumidor médio vai levar um isopor para uma praça e espera se encontrar com os amigos, nem sempre será possível uma reunião. Isso demanda disponibilidade. O consumo tende a diminuir. E mais. Se um dos consumidores sugerir uma partida de futebol ao invés de ficarem todos parados bebendo, o consumo também diminuirá. Após a partida, alguma bebida será consumida, mas em menor escala. O tempo está mais curto.