Revista FAATESP Ano 1 / N° 1 - Ago 2014 | Page 53

Revista FAATESP – Ano 1 / n° 01 – Ago 2014 meu cliente satisfeito que comprava os meus produtos em qualquer ponto de venda. Isso diminui minha capacidade de aumentar preços. O poder de compra do consumidor não é infinito. Mas isso foi só o começo. Coisas piores vieram depois. Promoções, liquidações, crises econômicas, sites de comparação de preços, como o Buscapé e o Mercado Livre. Tudo isso reflete no meu preço. E o consumidor começa a pensar se meus produtos são tão bons assim. Se minha marca vale mesmo aquele preço todo que estou cobrando. E quando o comprador começa a duvidar da sua marca, dos seus produtos, então é hora para um trabalho reforçado de marketing. Iniciativas populares começaram a surgir aos montes nas recém-criadas redes sociais. No começo eram apenas alguns sites de gente que reclamava de algum produto. Mas eram um ou outro entre milhões de sites na internet. Depois vieram os blogs. Mas também eram poucos. Algumas dezenas, que a maioria das pessoas, os usuários de internet nem sabiam que existiam e jamais iriam encontrar. Mas quando as redes sociais chegaram, as coisas ficaram difíceis de verdade. Uma única reclamação poderia atingir milhares, milhões de pessoas. A imagem de uma empresa, que levou tantos anos para ser construída, poderia ruir em questão de dias. Boatos verdadeiros ou falsos poderiam atravessar o mundo em instantes e destruir para sempre qualquer reputação. Qualquer erro seria visto com lente de aumento. Empresas de defesa do consumidor como PROCON estavam ultrapassados. Associações de consumidores apareciam aos montes. Ações solitárias ou de pequenos grupos tomavam forma e cresciam mais a cada dia. Apenas para citar um caso de sucesso em ações de consumidores independentes, temos o caso do Rio Surreal (6), que cresce em adeptos e colaboradores no Facebook. Digo colaboradores porque qualquer pessoa que discordar do preço de algo em um estabelecimento do Rio de Janeiro, publica no perfil da Rio Surreal o preço absurdo que viu em algum lugar. E aquele dito ponto de venda começa a perder clientes até que feche as portas ou cobre preços cada vez mais acessíveis. Algum leitor menos atento pode achar que está tudo bem para mim, afinal, eu entrego meus produtos e cobro o preço que eu quiser. Mas não é assim. O dono do bar, com o tempo vai pedir desconto no preço dos meus produtos. Vai pedir mais prazo para pagamento, vai pedir uma geladeira, um freezer vertical, uma facilidade qualquer ou vai tentar um repasse de preço. E isso vai comer meu lucro. Isso vai reduzir minhas margens de lucratividade. Isso vai diminuir aos poucos o valor da minha marca, fazendo com que ela seja equivalente a outra marca qualquer, com menos tempo de mercado, de pior qualidade. Ao mesmo tempo em que o valor das empresas atuais diminui, no mercado de cerveja o número de concorrentes aumenta ano após ano. Cervejas comuns aparecem aos montes. As importadas entram no mercado. E não é só isso; no segmento Premium, que é o de cervejas de maior qualidade, as mais caras e lucrativas, outras marcas vêm surgindo. Comerciantes locais, aventureiros, cervejarias de cidades interioranas e distantes dos grandes centros urbanos, até pessoas comuns descobriram como fabricar a própria cerveja e o próprio chopp. Tudo isso diminui minha participação de mercado, o chamado “marketing share” e corrói os preços estabelecidos. Os paraquedistas, como chamamos em nosso meio os pequenos empresários aventureiros que tentam a sorte em mercados estabelecidos, mas sem que tenham a 53