Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2018 | Page 31
Sociedade Portuguesa de
Artroscopia e Traumatologia
Desportiva
Rev. Medicina Desportiva informa, 2018; 9(5):29–31. https://doi.org/10.23911/Epifisiolise_Proximal_Femur_e_Conflito_Femoroacetabular
Epifisiólise Proximal do Fémur
e Conflito Femoroacetabular
Sintomático Concomitantes
num Jovem Futebolista
Dr. André Miguel Costa 1 , Dr. Eurico Bandeira Rodrigues 2
1
Interno de formação específica; 2 Assistente hospitalar. Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital
de Braga
RESUMO / ABSTRACT
A epifisiólise proximal do fémur é uma das causas de desenvolvimento do conflito femo-
roacetabular tipo cam, podendo levar ao aparecimento precoce de osteoartrose da anca.
Apresentamos o caso clínico de um jovem futebolista com epifisiólise de apresentação
clínica do tipo crónico, que originou mais tarde sintomas compatíveis com conflito femo-
roacetabular. No mesmo tempo cirúrgico foi submetido a fixação in situ por via percutânea
e osteoplastia artroscópica do colo femoral. Às seis semanas de pós-operatório regressou
progressivamente à atividade desportiva de alta competição e após dois anos de follow-up
continua assintomático e sem limitação para a prática de futebol.
Slipped capital femoral epiphysis is a known cause of cam-type femoro-acetabular impingement,
which may lead to early hip osteoarthrosis. We present a case of a slipped capital femoral epiphysis
in a young football player with a chronic clinical presentation who later developed femoro-acetabular
impingement symptoms. In the same surgical approach was submitted to in situ percutaneous fixa-
tion and arthroscopic osteoplasty of the femoral neck. Six weeks later he gradually returned to high
level competition and, after two years of follow-up, continues free of symptoms in football practice.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Epifisiólise proximal do fémur, conflito femoroacetabular, desporto
Slipped capital femoral epiphysis, femoroacetabular impingement, sports
Introdução
A epifisiólise proximal do fémur
(SCFE, do inglês slipped capital femoral
epiphysis) é uma das patologias mais
frequentes na anca do adolescente,
ocorrendo um deslizamento póstero-
-medial da cabeça femoral através da
fise. 1 A fixação in situ é o tratamento
padrão no tratamento da SCFE,
promovendo o encerramento da fise,
prevenindo um maior deslizamento 2
e o agravamento da proeminência
ântero-lateral da metáfise femoral. 3
A história natural da doença é
controversa. 1 Bellemans et al
femoroacetabular (CFA) tipo cam, em
que há um contacto entre a deformi-
dade da junção colo-cabeça femoral e
o rebordo acetabular. 5,6 O CFA, se não
tratado, leva ao dano intra-articular
precoce e ao desenvolvimento de
osteoartrose. Habitualmente, os
sintomas têm início na idade adulta,
mas têm sido reconhecidos cada vez
mais na população pediátrica e
podem ser precipitados pela
demanda física excessiva, tal como
acontece no desporto competitivo. 7
Outros autores documentaram que
mesmo na SCFE ligeira a deformi-
dade residual leva a lesões significa-
tivas da cartilagem e do labrum
acetabulares em 75-100% dos casos,
podendo ser encontradas após um
ano de evolução 3 , e recomendam a
osteoplastia do colo femoral precoce
de forma a diminuir o risco de
osteoartrose secundária. 5
Métodos
Descreve-se o caso de um adoles-
cente de 14 anos, do sexo masculino
e jogador de futebol numa equipa
de elite, com SCFE de apresentação
clínica crónica e CFA secundário. Foi
descreveram algum potencial de
remodelação da
deformidade
como explicação
para os bons
resultados dez a
vinte anos após a
fixação isolada in
situ na maioria
dos doentes com
estilo de vida
menos ativo. 4 No
entanto, a SCFE
origina secunda-
riamente um
conflito
Figura 1 – RX ântero-posterior da bacia: SCFE à esquerda
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