Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2018 | Page 25

nos quais é essencial realizar uma avaliação multiparamétrica . Os atletas que mais frequentemente apresentam estes padrões duvidosos são de raça negra , do género masculino e praticam desportos caracterizadas por elevada intensidade de exercício estático . No que respeita às características típicas de ´ coração de atleta ’ identificadas no ecocardiograma , destaca-se a remodelagem balanceada e homogénea de todas as cavidades cardíacas e a presença de uma função diastólica normal ou supranormal .
Além das modalidades convencionais fornecidas pelo ecocardiograma transtorácico , têm sido desenvolvidos novos parâmetros que podem melhorar a avaliação do atleta e ajudar a diferenciação entre remodelagem fisiológica e patológica como , por exemplo , a análise da deformação miocárdica . Por outro lado , em casos específicos de indivíduos com MCH , outras técnicas de ecocardiografia poderão ser úteis , como o ecocardiograma de esforço para a deteção de obstrução da câmara de saída do ventrículo esquerdo , o ecocardiograma transesofágico para caracterização estrutural , nomeadamente do aparelho valvular mitral , bem como o ecocardiograma de contraste para identificar padrões atípicos como a MCH apical .
Apesar da importância deste exame na avaliação do atleta , a realização do ecocardiograma transtorácico por rotina na avaliação pré- -competitiva do atleta não apresenta atualmente uma custo-efetividade favorável . No entanto , este exame é obrigatório e de primeira linha na avaliação de atletas com alterações patológicas no ECG ou na avaliação física , permitindo tanto o diagnóstico como a exclusão de MCH .
Contudo , pode haver MCH sem expressão fenotípica ... o que se deve fazer ? Repetir anualmente , de dois em dois anos , o ecocardiograma ?
Como já referido , as alterações da MCH surgem em cascata e o fenótipo estrutural pode manifestar-se apenas muitos anos após a evidência de outras alterações , nomeadamente eletrocardiográficas . A noção deste
Figura 2 – Imagens ecocardiográficas de atleta com MCH ( hipertrofia septal assimétrica )
facto é muito relevante , não apenas para justificar uma vigilância mais regular destes indivíduos , mas também porque a morte súbita , embora com frequência distinta , pode surgir em qualquer etapa do desenvolvimento da doença .
A presença de alterações patológicas no ECG sem evidência do fenótipo de MCH nos exames de imagem ( ecocardiograma e RM cardíaca ) ou de outras alterações localizadas na ‘ zona cinzenta não exclui a doença . Estes atletas devem realizar uma avaliação multiparamétrica , englobando variáveis clínicas , antecedentes pessoais e familiares , bem como dados de outros exames complementares de diagnóstico , como o Holter de 24 horas ou a prova de esforço . Se existirem casos confirmados de MCH em familiares de primeiro grau , o estudo genético pode ser realizado para estabelecer o diagnóstico .
Relativamente à realização do ecocardiograma transtorácico , embora não esteja estabelecida uma periodicidade fixa , sugere-se que nestes casos seja repetido anualmente , tendo sempre em consideração as especificidades de cada caso .
A RM cardíaca é então e agora fundamental . Fala-se em RM morfológica , funcional e de realce tardio . O que significa tudo isto ?
A RM cardíaca é considerada o exame gold-standard para a avaliação cardíaca morfológica e funcional . Na suspeita ou na presença de MCH confirmada , a RM cardíaca , além de estabelecer o seu diagnóstico , permite detetar apresentações atípicas da doença , identificar parâmetros pré-fenotípicos adicionais que se associam a uma maior probabilidade da presença da doença e fornecer informação com impacto prognóstico . A RM cardíaca é fundamental no diagnóstico diferencial entre MCH e outras formas patológicas de hipertrofia ventricular esquerda . A sua capacidade diagnóstica permite ainda detetar padrões atípicos de MCH , tais como a MCH apical , muitas vezes não identificada por ecocardiograma transtorácico , bem como padrões segmentares isolados de hipertrofia e a extensão ao ventrículo direito .
Além da capacidade para avaliar a estrutura e a função cardíacas , diversas modalidades da RM podem ser úteis na avaliação dos doentes com miocardiopatias , entre as quais se destaca o realce tardio e o T1
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