Tema 3
Rev . Med . Desp . informa , 2018 ; 9 ( 5 ): 17 – 19 . https :// doi . org / 10.23911 / Abordagem _ Conservadora _ da _ Espondilolise
Abordagem Conservadora da Espondilolise e Espondilolistese no Atleta
Dra . Inês Mendes Ribeiro 1 , Dra . Elsa Marques 2
1
Interna de Formação Específica MFR , Hospital Prof . Doutor Fernando Fonseca , EPE . 2 Assistente Hospitalar Graduada MFR , Centro Hospitalar Lisboa Central .
RESUMO / ABSTRACT
A espondilólise e a espondilolistese são causas comuns de lombalgia na criança e adolescente e a sua incidência aumenta nos praticantes de modalidades desportivas com hiperextensão repetida da coluna lombar . Não existe consenso na literatura relativamente ao tratamento conservador ideal . A avaliação da sua eficácia baseia-se , segundo alguns autores , na resolução dos sintomas , consolidação radiológica e / ou retorno à atividade . Apresentamos uma revisão bibliográfica do conhecimento atual do tratamento da espondilólise e espondilolistese no atleta .
Spondylolysis and spondylolisthesis are common causes of low back pain in children and adolescents . The incidence increases in children participating in sporting activities with repetitive hyperextension of the lumbar spine . There is a lack of consensus regarding the best conservative treatment . According to some authors its efficiency is based on the symptomatic resolution , radiologic consolidation and / or return to sport activity . We present a review of literature of the current knowledge of spondylolisis and spondylolistesis in athletes .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Espondilólise , espondilolistese , ortótese de tronco Spondylolysis , spondylolisthesis , brace , orthosis
Introdução e Epidemiologia
A espondilólise ( do grego spondylo = vértebra , lisis = separação ) corresponde a um defeito uni ou bilateral da pars interarticularis . Na espondilolistese ( olisthesis = deslizamento ) há translação anterior de um segmento vertebral sobre outro , habitualmente precedido por espondilólise . 1 , 2 A espondilólise tem maior prevalência no género masculino , embora a progressão da espondilolistese seja mais frequente no género feminino . A prevalência é maior nas crianças e adolescentes que praticam modalidades desportivas que envolvam hiperextensão repetida da coluna lombar , nomeadamente ginastas , halterofilistas , praticantes de saltos para a água , natação ( mariposa e bruços ) e remo . 1 , 3 A incidência da espondilólise varia entre 11 % nos ginastas e 43 % nos praticantes de saltos para a água . 3
A incidência na população geral é difícil de determinar , uma vez que apenas os casos sintomáticos são investigados . No entanto , a literatura sugere uma incidência de espondilólise de 4,4 % em crianças de idade inferior a 6 anos e 6 % aos 18 anos , percentagem que se mantém estável na idade adulta . 3 Existe grande variabilidade étnica , com incidência de 40 % nos esquimós , 5-12 % nos caucasianos e 1-3 % nos afro-americanos . 1
Fisiopatologia
A etiologia é multifatorial , havendo o contributo de fatores predisponentes , como os hereditários , displasia vertebral e morfologia sacropélvica , mas também de fatores ambientais , como o ortostatismo , marcha e cargas repetidas na coluna lombosagrada . A carga associada ao ortostatismo desempenha um papel importante , verificando-se que a incidência aumenta desde o início da capacidade de marcha até cerca dos 18 anos , mantendo-se estável na idade adulta . Nas crianças e adolescentes o arco posterior vertebral não está completamente ossificado e o disco intervertebral é muito elástico , contribuindo para a suscetibilidade da pars interarticularis à fadiga perante forças de tensão e cisalhamento , especialmente nos praticantes de modalidades com hiperextensão e rotação axial repetidas da coluna . 1 , 3 , 4
A espondilolistese degenerativa afeta mais frequentemente L4-L5 , comparativamente a L5-S1 , o nível mais envolvido nas crianças e adolescentes . 1
Classificação
A classificação de Wiltse-Newman de 1976 é a mais utilizada para classificar a etiologia da espondilolistese . Dos 5 tipos de espondilolistese ( displásica , ístmica , degenerativa , traumática , patológica ), as mais comuns na criança e adolescente são a displásica ( tipo I ) e a ístmica ( tipo II ). Marchetti e Bartolozzi propuseram em 1997 um sistema de classificação alternativo e que distingue a espondilolistese adquirida e a de desenvolvimento . Esta última inclui as formas displásicas e ístmicas . Estas classificações têm em consideração a etiologia , mas não permitem estabelecer um algoritmo terapêutico . 1 , 4
O sistema de classificação de Meyerding ( Figura 1 ) é usado para determinar o grau de listese , descrevendo a percentagem de deslizamento da face inferior de um corpo vertebral em relação ao corpo vertebral infrajacente ( Figura 2 ). 3 , 4
Apresentação clínica
Frequentemente a espondilólise e a espondilolistese de baixo grau são assintomáticas . 1 A sintomatologia mais característica é a dor lombar de características mecânicas e geralmente de início insidioso . 1 , 4
Habitualmente os sintomas que sugerem envolvimento radicular e alterações vesico-esfincterianas surgem na espondilolistese de alto grau ( Meyerding III ou IV ). 4
Na espondilolistese de alto grau a dor é frequente na hiperextensão da coluna lombar . 3 Nestes jovens pode verificar-se aumento da base de sustentação em ortostatismo para
Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2018 · 17