Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2018 | Page 17
(T3), hormona de crescimento (GH),
insulin-like growth factor (IGF-1) e
leptina, bem como a aumento da
secreção de cortisol e beta-hidro-
xibutirato, independentemente da
prática desportiva. 15,16 Por outro lado,
a ingestão alimentar menor ou igual
a 45Kcal/Kg de massa livre de gor-
dura/dia indica, de forma estimada,
uma baixa disponibilidade ener-
gética entre atletas adolescentes e
jovens adultos, especialmente nas
do sexo feminino. 17-20
A associação entre a ingestão caló-
rica reduzida sustentada e a disfun-
ção menstrual pode assumir espec-
tros de gravidade distintos: desde
períodos menstruais irregulares
(oligomenorreia – intervalo entre dois
ciclos menstruais superior a 45 dias),
até amenorreia (ausência de ciclos
menstruais transitória, intermitente
ou permanente, classificada como
primária ou secundária). A presença
de amenorreia no contexto de baixa
DE e prática de exercício intensa
deverá ser diagnóstico de exclusão
e associa-se a uma ação inibitória
hipotalâmica sobre os neurónios
secretores de hormona libertadora de
gonadotrofinas (GnRH) e, consequen-
temente, uma disrupção da pulsati-
lidade fisiológica de LH hipofisária,
sendo por isso designada por ame-
norreia hipotalâmica ou funcional. 21
A associação entre disfunção
hipotalâmica, hipoestrogenismo e
baixos níveis de leptina nas atletas
em amenorreia foi associada a um
risco de fraturas de stress 2 a 4 vezes
superior e menor densidade mineral
óssea (DMO), a qual pode não ser
recuperável mesmo com a norma-
lização dos ciclos menstruais ao
longo da vida adulta. 21-23 O rastreio e
diagnóstico de baixa DMO precoces
são especialmente importantes, uma
vez que 90% do pico de massa óssea
é atingida até aos 18 anos de idade. 24
Posteriormente, o conceito de
baixa DE foi diretamente relacio-
nado com a saúde óssea deficitária,
traduzida pela maior probabilidade
de fraturas de stress, de forma inde-
pendente da coexistência de hipoes-
trogenismo, destacando o impacto
direto e autónomo da energia dispo-
nível sobre o osso. 25-27
Em especial nos desportos em
que o atleta pertence a determinada
categoria-de-peso ou em que a com-
posição corporal são um importante
HIGH RISK
RED LIGHT
No competion
No trainning
Use of written contract
MODERATE RISK
YELLOW LIGHT
LOW RISK
GREEN LIGHT
May train as long as he/she is following
the treatment plan
Full sport participation
May compete once medically cleared
under supervision
Figura 2 – Estratificação do atleta por categoria de risco de RED-S para decisão de
retorno à competição, adaptado de Aspetar Sports Medicine Journal, 2018; (6):414-419.
condicionante da performance
atlética, a disponibilidade energé-
tica encontra-se frequentemente
condicionada, existindo maior risco
de perturbação do comportamento
alimentar entre atletas de ambos os
sexos. 7,9,28
Uma vez que os sinais e sintomas
de RED-S são muitas vezes subtis, é
necessária elevada suspeição clínica
durante a avaliação do atleta em
risco, com recurso a uma história clí-
nica detalhada (incluindo descrição
de hábitos alimentares, programa
de treino, história ginecológica e
história pregressa de intercorrências
infeciosas ou fraturas de stress). O
exame físico deverá incluir avaliação
dos sinais vitais e dos dados antro-
pométricos do atleta. A presença de
bradicardia, hipotensão ortostática,
IMC < 18.5Kg/m 2 em atletas com
idade superior a 18 anos, hipertrofia
parotídea ou sinais de hipoperfusão
tecidular periférica poderão elevar a
suspeita de aporte nutricional inade-
quado e/ou presença de perturbação
alimentar. 9
A utilização de meios comple-
mentares de diagnóstico adicionais
pode ser necessária com solicitação
de densitometria óssea, especial-
mente em atletas do sexo feminino
com disfunção menstrual, baixo IMC
(< 17,5 Kg/m 2 ) ou perda ponderal
superior ou igual a 10% peso corpo-
ral no período de um mês, história
prévia de duas fraturas de stress e/
ou presença de perturbação alimen-
tar. 7 Nas crianças, adolescentes e
na mulher pré-menopausa deverá
ser utilizado o valor Z-score (e não
T-score) para o diagnóstico de baixa
DMO. 6 A avaliação analítica deverá
incluir ionograma, hemograma com
fórmula leucocitária e avaliação da
integridade da função do eixo hipo-
tálamo-hipófise (incluindo hormona
tireoestimulante (TSH) e tiroxina
livre (t4l), foliculoestimulante (FSH),
LH e prolactina). 22
Embora haja uma sensibilidade
e conhecimento crescentes para a
identificação das diferentes compo-
nentes da síndrome, será necessá-
ria uma formação continuada aos
diferentes membros das equipas que
acompanham os atletas de forma a
alertar para o impacto negativo do
défice energético, para além da dis-
função gonadal e da saúde óssea e,
sobretudo, para a inclusão de atletas
do sexo feminino e do sexo mascu-
lino nesta entidade nosológica. 29-34
A capacitação destes profissionais é
essencial para a precocidade do diag-
nóstico e minimização do impacto
negativo sobre a saúde e performance
do atleta e deverá ser feita através da
utilização de ferramentas padroniza-
das, periodicamente, durante o seu
acompanhamento. 9
De forma a simplificar e unifor-
mizar o rastreio e o seguimento, o
COI criou em 2015 uma ferramenta
de avaliação clínica (RED-S CAT)
para assistir os profissionais que
avaliam o atleta. O rastreio poderá
ser incluído como parte da ava-
liação de saúde anual do atleta e/
ou sempre que houver evidência
de perturbação do comportamento
alimentar (anorexia nervosa, buli-
mia, dieta restritiva ou técnicas de
perda ponderal extremas), disfunção
menstrual (amenorreia secundária >
6 meses ou amenorreia primária >16
anos), história pregressa de fratura
Disponibilidade energética (DE)
Ingestão energética total diária – energia gasta exercício
Massa livre de gordura corporal
Figura 1 – Fórmula de cálculo de disponibilidade energética esti-
mada de acordo com Loucks et al., 2011.
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