Tema 2
Rev . Med . Desp . informa , 2018 ; 9 ( 5 ): 14 – 16 . https :// doi . org / 10.23911 / Defice _ Energetico _ Relativo _ no _ Desporto
Défice Energético Relativo no Desporto ( RED-S )
Dra . Adriana de Sousa Lages 1 , 2 , Dr . Alexandre Rebelo-Marques 2 , 3 , 4 , Dr . Francisco Carrilho 1
1
Serviço de Endocrinologia , Diabetes e Metabolismo do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra ;
2
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra ; 3 USF Condeixa , ACeS Baixo Mondego , ARS Centro ;
4
Clínica do Dragão , Espregueira-Mendes Sports Centre – FIFA Medical Centre of Excellence , Porto
RESUMO / ABSTRACT
A designação de Tríade da Atleta Feminina foi redefinida para Défice Energético Relativo no Desporto , passando a incluir todos os atletas e dimensionando esta entidade como uma síndrome multi-órgão com repercussões na saúde e na performance do atleta . Os sinais e sintomas são subtis , sendo necessária uma elevada suspeição clínica para estabelecer diagnóstico . Foi criada uma ferramenta de avaliação clínica ( RED-S CAT ) que categoriza os atletas em três níveis de risco , definindo aqueles em que a prática desportiva deverá ser restringida . O tratamento baseia-se no restabelecimento da disponibilidade energética do atleta através do aumento do aporte energético diário e / ou diminuição do gasto com treino .
The Female Athlete Triad was redefined to Relative Energy Deficiency in Sports to emphasize that the syndrome affects not only female but all athletes and it is multi-organ condition which impairs both health and performance status . The signs and symptoms are often subtle , so high level of suspicion is required to establish an early diagnose . A clinical tool ( RED-S CAT ) was created to categorize athletes in three risk levels tailoring those who sports activities should be restricted . The treatment is based on restoring energy imbalance by improving energy intake , reducing exercise load or a combination of both strategies .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Energia , desporto , atleta , endocrinologia Energy , sport , athlete , endocrinology
A Tríade da Atleta Feminina foi conceptualmente definida , em 1997 , pelo American College of Sports Medicine ( ACSM ), como uma condição observada frequentemente entre atletas do sexo feminino , que combina a presença de perturbação alimentar , amenorreia e osteoporose . 1 Em 2007 , o ACSM redefiniu este conceito de forma a incluir três componentes inter-relacionados : disponibilidade energética ( DE ), associada ou não à presença de perturbação alimentar , função menstrual e saúde óssea . 2 Introduz-se , assim , o conceito de DE enquanto energia disponível para funções fisiológicas corporais , após subtração da energia gasta com o treino físico , a partir da energia total obtida através da ingestão alimentar . Deseja-se que este balanço seja equilibrado entre a ingestão e o gasto energético , de forma a otimizar as diferentes funções fisiológicas basais , incluindo crescimento e desenvolvimento ( Figura 1 ). 3 , 4 Uma baixa DE representa , assim , a pedra angular das consequências metabólicas associadas à Tríade da Atleta
Feminina ( disfunção menstrual e saúde óssea ).
Em 2014 , o Comité Olímpico Internacional ( COI ) definiu o conceito mais abrangente de Défice Energético Relativo no Desporto ( RED-S ), enfatizando , por um lado , a inclusão de todos os atletas ( não só do sexo feminino ) e , por outro lado , dimensionando o problema como uma síndrome multi-órgão , não fazendo assim sentido manter a designação de “ tríade ” e passando a abranger dez áreas distintas : função menstrual , óssea , endócrina , metabólica , hematológica , crescimento e desenvolvimento , fisiológica , cardiovascular , gastrointestinal e imunológica , e dez consequências relacionadas com a performance do atleta ( menor resistência , maior risco de lesão , resposta ao treino deficitária , menor capacidade de julgamento e cognição , condicionamento da coordenação e concentração , irritabilidade , depressão , menor reserva de glicogénio e menor força muscular . 5-8 Destaca-se que o componente psicológico tem a particularidade de poder causar , preceder ou ser resultado do surgimento do RED-S . 9
O impacto supressivo sobre a função imune é traduzido por uma resposta imune do tipo 1 deficitária , corroborada pelos dados que reportam uma maior prevalência de intercorrências infeciosas , sobretudo de etiologia virusal ( respiratória e gastrointestinal ) durante competições . 10-13
O efeito dos programas de exercício intenso , da baixa percentagem de massa gorda corporal e do baixo peso corporal sobre o setor hipofisário anterior , nomeadamente sobre a função gonadal , e consequentemente da sua ação supressiva na função anabólica óssea , é descrita classicamente . 2 , 14 Uma disponibilidade energética inferior a 30 Kcal / Kg de massa livre de gordura foi associada à disrupção da pulsatilidade de hormona luteínizante ( LH ), níveis inferiores de insulina , triiodotironina
Figura 1 – Consequências para a saúde do Défice Energético Relativo no Desporto ( adaptado de 4 )
14 setembro 2018 www . revdesportiva . pt