Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2018 | Page 13

abdução das ancas), podendo tam- bém haver agravamento agudo de roturas crónicas pré-existentes; • roturas associadas a artroplas- tia da anca, particularmente em situações de encerramento incom- pleto ou deiscência da incisão efetuada no médio glúteo após artroplastia da anca por vias late- ral (transglútea) ou ântero-lateral. Ao longo deste texto vamo-nos focar apenas nas roturas tendi- nosas não associadas a artroplas- tia da anca. As roturas são mais frequentes no médio glúteo e em um terço destas existem também roturas concomitantes no pequeno glúteo. Ocorrem habitualmente na sua porção tendinosa ao nível da inserção no grande trocânter devido a esta região estar mais sujeita a forças de tensão, ser menos vascularizada e estar sujeita a conflito mecânico em situações de grande trocânter proeminente ou com osteófitos. Atingem mais frequentemente o sexo feminino e a meia idade, tanto em sedentários como desportistas, em particular corredores. Podem ser de espessura parcial (mais frequentes), espessura total ou roturas intra-substância. A sua extensão é variável, desde roturas simples em U a roturas massivas ovais ou circulares (Figura 2). 1,2,4,5,11,15,21,23,27 A presença de coxa vara, offsets femorais elevados, trocânteres proeminentes, distân- cia bi-ilíaca diminuída e membro inferior contralateral mais curto aumentam a tensão da banda iliotibial contra o grande trocânter, favorecendo forças compressivas lesivas sobre o médio glúteo, sendo portanto considerados fatores anatómicos de risco para desenvol- vimento de patologia glútea. 4,16 A sintomatologia típica das rotu- ras dos abdutores da anca inclui dor mista ao nível da região trocan- térica e, dependendo da dimensão da rotura, alteração da marcha do paciente por incapacidade de estabilização pélvica durante o apoio monopodálico por insuficiência dos músculos abdutores. A dor é mista, de predomínio mecânico, e agrava- -se à palpação local nas atividades que implicam apoio monopodálico, tais como marcha e subir escadas, e também no apoio em decúbito lateral sobre o lado sintomático e em longos períodos em posição sen- tada. 1,2,4 Por sua vez, a insuficiência dos abdutores é o sinal mais sensível e específico da rotura glútea. No sinal e marcha de Trendelenburg positivos, aquando de insuficiência dos abdutores, no apoio unipodálico do lado do médio glúteo disfuncional há queda da hemipélvis contralateral por incapacidade desse médio glúteo em contrair (a sua contração man- tém a distância entre ilíaco e grande trocânter) e manter a bacia equili- brada (Figura 3). Como tentativa de compensação para elevar a hemiba- cia contralateral, há inclinação do tronco para o lado do glúteo disfun- cional. Habitualmente as mobilidades passivas da anca estão mantidas, mas há frequentemente diminuição da força de abdução da anca, testada em decúbito lateral ao pedir ao paciente para elevar o membro inferior, sem e contra resistência. 4,14,19,23,28,29 Diagnóstico músculo-tendinoso abdutor da anca é a ressonância magnética, podendo também identificar diferentes graus de retração, atrofia muscular e dege- neração adiposa, que vão influenciar a eficácia da reparação e cicatrização. Nas roturas de espessura total iden- tifica-se descontinuidade completa das fibras tendinosas, enquanto nas de espessura parcial habitualmente identifica-se descontinuidade focal associada a espessamento infla- matorio do tendão com hipersinal em T2. Habitualmente associada à rotura identificam-se também sinais de bursite trocantérica. 1,4,5,21,23,25,30-32 A ecografia também pode identifi- car roturas e bursite, no entanto é menos fidedigna e mais depedente do radiologista em comparação com a ressonância. 4,33 A radiografia da bacia e das ancas poderá ser útil para excluir patologia artrósica da anca e permite identificar escle- rose e osteófitos ao nível do grande trocânter, em particular nas roturas tendinosas crónicas. 1,2,13,23 O diag- nóstico diferencial mais frequente da rotura glútea é a tendinopatia dos glúteos, nos quais a sintomato- logia pode ser semelhante, mas na ressonância não se identifica rotura. Podem ser identificadas calcificações intra-tendinosas na radiografia, cor- respondendo a tendinopatia calcifi- cante, semelhante à que acontece ao nível do supraespinhoso no ombro. Como referido previamente, as roturas degenerativas são parte do processo contínuo de tendinose glú- tea, tratando-se portanto da mesma condição. Muitas vezes o fenómeno Além da sintomatologia e testes clínicos descritos previamente, o exame gold-standard para diag- nóstico de roturas no aparelho Figura 2 – Rotura do médio glúteo ao nível da sua porção tendinosa 1 Figura 3 – Marcha normal e marcha por insuficiência do músculo médio glúteo direito (sinal e marcha de Trendelenburg) Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2018 · 11