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abdução das ancas), podendo tam-
bém haver agravamento agudo de
roturas crónicas pré-existentes;
• roturas associadas a artroplas-
tia da anca, particularmente em
situações de encerramento incom-
pleto ou deiscência da incisão
efetuada no médio glúteo após
artroplastia da anca por vias late-
ral (transglútea) ou ântero-lateral.
Ao longo deste texto vamo-nos
focar apenas nas roturas tendi-
nosas não associadas a artroplas-
tia da anca. As roturas são mais
frequentes no médio glúteo e em
um terço destas existem também
roturas concomitantes no pequeno
glúteo. Ocorrem habitualmente
na sua porção tendinosa ao nível
da inserção no grande trocânter
devido a esta região estar mais
sujeita a forças de tensão, ser
menos vascularizada e estar sujeita
a conflito mecânico em situações
de grande trocânter proeminente
ou com osteófitos. Atingem mais
frequentemente o sexo feminino e
a meia idade, tanto em sedentários
como desportistas, em particular
corredores. Podem ser de espessura
parcial (mais frequentes), espessura
total ou roturas intra-substância.
A sua extensão é variável, desde
roturas simples em U a roturas
massivas ovais ou circulares (Figura
2). 1,2,4,5,11,15,21,23,27 A presença de coxa
vara, offsets femorais elevados,
trocânteres proeminentes, distân-
cia bi-ilíaca diminuída e membro
inferior contralateral mais curto
aumentam a tensão da banda
iliotibial contra o grande trocânter,
favorecendo forças compressivas
lesivas sobre o médio glúteo, sendo
portanto considerados fatores
anatómicos de risco para desenvol-
vimento de patologia glútea. 4,16
A sintomatologia típica das rotu-
ras dos abdutores da anca inclui
dor mista ao nível da região trocan-
térica e, dependendo da dimensão
da rotura, alteração da marcha
do paciente por incapacidade de
estabilização pélvica durante o apoio
monopodálico por insuficiência dos
músculos abdutores. A dor é mista,
de predomínio mecânico, e agrava-
-se à palpação local nas atividades
que implicam apoio monopodálico,
tais como marcha e subir escadas,
e também no apoio em decúbito
lateral sobre o lado sintomático e
em longos períodos em posição sen-
tada. 1,2,4 Por sua vez, a insuficiência
dos abdutores é o sinal mais sensível
e específico da rotura glútea. No
sinal e marcha de Trendelenburg
positivos, aquando de insuficiência
dos abdutores, no apoio unipodálico
do lado do médio glúteo disfuncional
há queda da hemipélvis contralateral
por incapacidade desse médio glúteo
em contrair (a sua contração man-
tém a distância entre ilíaco e grande
trocânter) e manter a bacia equili-
brada (Figura 3). Como tentativa de
compensação para elevar a hemiba-
cia contralateral, há inclinação do
tronco para o lado do glúteo disfun-
cional. Habitualmente as mobilidades
passivas da anca estão mantidas, mas
há frequentemente diminuição da
força de abdução da anca, testada em
decúbito lateral ao pedir ao paciente
para elevar o membro inferior, sem e
contra resistência. 4,14,19,23,28,29
Diagnóstico
músculo-tendinoso abdutor da anca
é a ressonância magnética, podendo
também identificar diferentes graus
de retração, atrofia muscular e dege-
neração adiposa, que vão influenciar
a eficácia da reparação e cicatrização.
Nas roturas de espessura total iden-
tifica-se descontinuidade completa
das fibras tendinosas, enquanto nas
de espessura parcial habitualmente
identifica-se descontinuidade focal
associada a espessamento infla-
matorio do tendão com hipersinal
em T2. Habitualmente associada à
rotura identificam-se também sinais
de bursite trocantérica. 1,4,5,21,23,25,30-32
A ecografia também pode identifi-
car roturas e bursite, no entanto é
menos fidedigna e mais depedente
do radiologista em comparação com
a ressonância. 4,33 A radiografia da
bacia e das ancas poderá ser útil
para excluir patologia artrósica da
anca e permite identificar escle-
rose e osteófitos ao nível do grande
trocânter, em particular nas roturas
tendinosas crónicas. 1,2,13,23 O diag-
nóstico diferencial mais frequente
da rotura glútea é a tendinopatia
dos glúteos, nos quais a sintomato-
logia pode ser semelhante, mas na
ressonância não se identifica rotura.
Podem ser identificadas calcificações
intra-tendinosas na radiografia, cor-
respondendo a tendinopatia calcifi-
cante, semelhante à que acontece ao
nível do supraespinhoso no ombro.
Como referido previamente, as
roturas degenerativas são parte do
processo contínuo de tendinose glú-
tea, tratando-se portanto da mesma
condição. Muitas vezes o fenómeno
Além da sintomatologia e testes
clínicos descritos previamente,
o exame gold-standard para diag-
nóstico de roturas no aparelho
Figura 2 – Rotura do médio glúteo ao nível da sua porção tendinosa 1
Figura 3 – Marcha normal e marcha por
insuficiência do músculo médio glúteo
direito (sinal e marcha de Trendelenburg)
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