Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2018 | Page 12
Rev. Med. Desp. informa, 2018; 9(5):10–13. https://doi.org/10.23911/Roturas_aparelho_abdutor_anca
Roturas do Aparelho Abdutor
da Anca
Dr. Diogo Lino Moura 1 , Dr. José Pedro Marques 2 , Dr. António Figueiredo 3 , Prof. Doutor António
Bernardes 4 , Prof. Doutor Fernando Fonseca 5
1
Médico Interno de Ortopedia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC); Assistente
Convidado de Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC); 2 Assistente
Hospitalar de Medicina Desportiva do CHUC; 3 Assistente Hospitalar Graduado de Ortopedia – Setor da
Anca do CHUC; 4 Regente de Anatomia da FMUC; 5 Diretor de Serviço de Ortopedia do CHUC. Coimbra
RESUMO / ABSTRACT
A patologia dos músculos médio e pequeno glúteos tem sido cada vez mais reconhecida
como uma causa importante, e provavelmente subdiagnosticada, da frequente dor persis-
tente na região trocantérica. Também chamado de coifa dos rotadores da anca, o aparelho
abdutor da anca pode ser afetado por roturas degenerativas crónicas, mais frequentes, ou
por roturas traumáticas agudas. Além da dor trocantérica, está também presente um qua-
dro típico de marcha de insuficiência dos abdutores da anca. Quando estes sintomas são
refractários a tratamento conservador anti-inflamatório e de reabilitação, está indicada
a ressonância magnética. Se a rotura glútea se confirmar e for concordante com a clínica
está indicada a reparação cirúrgica. Neste artigo apresentamos uma revisão da literatura
científica atual sobre a anatomia e biomecânica do aparelho abdutor da anca, da clínica,
diagnóstico e tratamento das suas roturas.
Gluteus medius and minimus muscle disease has beed increasingly recognized as an important
cause and probably underdiagnosed of the common persistent trochanteric pain. Also known as hip
rotator cuff, the abductor apparatus of the hip can be affected by more frequent chronic degenera-
tive tears and also by acute traumatic tears. Besides the trochanteric pain, it is also present the
typical abductor weakness gait. When these symptoms are unresponsive to anti-inflammatory
and rehabilitation conservative treatment, the magnetic resonance is indicated. If a gluteus tear is
confirmed and is consistent with the symptoms, its surgical repair is indicated. In this paper we
present a review of the current scientific literature about anatomy and biomechanics of the abductor
apparatus of the hip, and the symptoms, diagnosis and treatment of gluteus tears.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Aparelho abdutor, anca, glúteo médio, coifa dos rotadores, rotura, tendão, dor no grande
trocânter,
Abdutor apparatus, hip, medius gluteus, rotator cuff, tear, tendon, great trochanteric pain
Anatomia e biomecânica do
aparelho abdutor da anca
O aparelho abdutor da anca é
constituído por músculos abdutores
trocantéricos (os principais, respon-
sáveis por 70% da força abdutora,
são médio e pequeno glúteos) e por
músculos tensionadores da banda
íliotibial, que são a porção superior
do grande glúteo, o tensor da fáscia
lata e o vasto lateral (Figura 1). O
complexo muscular abdutor da anca
envolve a articulação da anca de
forma semelhante à coifa dos rota-
dores na articulação glenoumeral,
sendo fundamental para a estabili-
dade dinâmica das ancas e da bacia
e, consequentemente, é essencial
para a marcha. 1-4 O músculo médio
glúteo é o músculo ílionfemoral
(porque se dirige do ílion ao fémur)
mais importante deste complexo e é
10 setembro 2018 www.revdesportiva.pt
sobre este que nos vamos debruçar
neste texto. Trata-se do músculo
abdutor primário e controlador
principal da rotação da anca, sendo
ainda responsável por suportar e
estabilizar a bacia, mantendo as
duas ancas à mesma altura durante
a marcha e o apoio unipodálico,
Figura 1 – Aparelho abdutor da anca 1,4
devendo a sua função estar íntegra
para a marcha normal. O músculo
dispõe-se maioritariamente no plano
sagital e a sua amplitude permite
que os vários grupos de feixes mus-
culares funcionem como uma coifa
responsável pela rotação da anca
(coifa dos rotadores da anca). 1-3,5-9
Roturas do aparelho abdutor
da anca
A patologia glútea tem sido cada vez
mais reconhecida como uma causa
importante e provavelmente subdiag-
nosticada da frequente dor persis-
tente na região trocantérica ou região
lateral da anca, a chamada síndrome
de dor trocantérica. Consideram-
-se atualmente lesões primárias a
tendinopatia e as roturas totais ou
parciais dos abdutores da anca e
lesões secundárias, consequentes
às primárias, a bursite trocantérica,
a retração e degeneração adiposa
glútea e o desenvolvimento de escle-
rose e osteófitos ao nível do grande
trocânter, em particular nas roturas
tendinosas crónicas. 1-5,10-21
As roturas dos músculos abduto-
res da anca podem s er: 1,3-5,13-16,22-26
• roturas degenerativas crónicas,
surgindo como sequência de um
processo contínuo de tendinose
glútea (por desequíbrio anabo-
lismo-catabolismo tendinoso por
fricção e microtraumas repetidos,
forças de tensão e forças com-
pressivas pela banda iliotibial, que
favorecem o catabolismo), sem
haver causa traumática aguda
evidente;
• roturas traumáticas agudas, que
resultam da forte contração dos
abdutores da anca (em quedas
ou em exercícios vigorosos de