Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2018 | Page 10

entre os segmentos de T10-L2 de modo a melhorar a irrigação do membro inferior e a diminuir a hiperestimulação simpática apresentada pelo atleta . Desde a primeira sessão o tratamento foi articulado com o preparador físico da seleção . Nas primeiras semanas o tratamento foi complementado com trabalho de mobilidade e estabilidade das áreas mais afetadas .
No 2 .º mês de tratamento manteve a eletroestimulação percutânea ( uma vez por semana ) e iniciou trabalho específico para ganho de força-resistência e força- -potência . Durante os primeiros dois meses de tratamento esteve medicado com gabapentina e paracetamol + tramadol administrados por via oral .
Imagem 1 – RM antes do início do tratamento ( corte coronais e sagitais com osteopenia e desmineralização óssea local com padrão mosqueado característico da SDRC )
Imagem 2 – RM após o tratamento ( cortes coronais e sagitais com regressão franca da osteopenia e da desmineralização óssea ).
Observou-se melhoria clínica progressiva , com diminuição das queixas álgicas , recuperação progressiva da massa muscular da coxa , resolução do edema articular e normalização da temperatura do joelho direito . Repetiu RM no final de março , a qual revelou resolução quase completa dos sinais imagiológicos de osteopenia e edema local ( imagem 2 ). Dada a boa evolução clínica , em abril de 2016 progrediu no plano treino com com introdução gradual de exercícios mais específicos para a melhoria do rendimento na modalidade e posição específica . No final do terceiro mês de tratamento retomou treino de voleibol sem restrições e em junho de 2016 voltou a competir como titular na Seleção Nacional , tendo posteriormente realizado toda a época desportiva de 2016 / 17 sem recidiva da patologia diagnosticada .
Discussão
A síndrome dolorosa regional complexa constitui uma entidade clínica de fisiopatologia complexa , de diagnóstico e tratamento habitualmente difíceis . 1 , 2 Atualmente utilizam- -se os critérios de diagnóstico propostos pela IASP em 2007 – Critérios de Budapeste ( critérios autonómicos , motores ou tróficos , sudomotores e vasomotores – Tabela 1 ). 3 A SDRC tipo I é caracterizado por um quadro de dor neuropática , com importante variabilidade a nível sintomático , sensorial , autonómico , trófico e motor que surge na ausência de lesão nervosa identificada . O tipo II ( menos frequente ) apresenta um quadro clínico semelhante ao tipo I , mas com existência de lesão nervosa comprovada . 4 De acordo com a literatura , o atleta apresentava :
• alterações sensitivas – dor de intensidade desproporcional ao evento traumático inicial , de características neuropáticas
• alterações autonómicas – alteração da temperatura local e desmineralização óssea
• alterações motoras – fraqueza muscular . A SDRC afeta primariamente as extremidades , surgindo após traumatismo local , embora o mecanismo causal continue a suscitar controvérsia e carece de explicações definitivas . 1-4 Não existe correlação entre a gravidade da lesão inicial e a severidade do SDRC , pelo que qualquer evento traumático é passível de desencadear o aparecimento de SDRC tipo I ( inclusive simples punções ou cateterismos estão descritos como mecanismos desencadeadores da SDRC ). 4
No contexto desportivo , o aparecimento da SDRC , é muito pouco frequente , sendo raros os casos descritos na literatura científica . Acredita-se igualmente que a baixa incidência do SCRD em atletas mais jovens deve-se ao baixo grau de suspeição clínica nesta faixa etária . 5 , 6 Dada a crescente utilização de PRP , e apesar do gesto terapêutico aparentemente simples , a SDRC tipo I deve estar presente nas hipóteses diagnósticas de complicações após este procedimento , mesmo em atletas de alta competição , devendo o diagnóstico clínico de SDRC ser tão precoce quanto possível de forma a permitir um tratamento atempado e eficaz . 7 , 8 Realça-se a necessidade e importância do diagnóstico e tratamento precoces uma vez que se verificou que , numa percentagem importante de doentes que apresentam dor crónica , os mesmos são observados por vários médicos com consequente atraso no diagnóstico e respetivo tratamento . 9 Os exames complementares e diagnóstico são utilizados sobretudo para exclusão de diagnósticos diferenciais . 10 No caso presente ,
8 setembro 2018 www . revdesportiva . pt