Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2013 | Page 25

alguns aspectos importantes e a reter : 1 .º Os pais devem estar mais preocupados com a capacidade técnica do treinador do que com a quantidade de treino ;
2 .º A maioria das lesões ocorre por deficiência de material e proteção inadequada ( ex : caneleiras no futebol , joelheiras , etc .). A supervisão do treinador é o aspeto essencial ;
3 .º O treino mais intenso deve ser acompanhado por alimentação adequada . Um jovem que treina 8 vezes por semana não se pode alimentar como um sedentário ;
4 .º A maioria das alterações provocadas pelo treino intenso é benigna e reversível .
A prática desportiva no sexo feminino : benefícios vs riscos
Prof . Dra . Carla Rêgo Pediatra – Hospital CUF Porto . Professora Auxiliar de Pediatria da FMUP . Professora Convidada da ESB- UC Porto .
Introdução A prática regular de exercício físico está inquestionavelmente associada à promoção da saúde e à prevenção da doença durante todo o ciclo da vida . É durante a idade pediátrica que se processa o crescimento e a maturação , não apenas sob o ponto de vista somático , mas também hormonal , metabólico e psicossocial . O adequado desenrolar destes processos biológicos e sociais assenta na promoção de estilos de vida saudáveis , onde a atividade física e a alimentação equilibrada desempenham um papel primordial .
A prática regular de exercício físico com fins de lazer , quando devidamente orientada sob o ponto de vista técnico , e se suportada num reajuste equilibrado da oferta alimentar , não interfere com o normal processo de crescimento e maturação . Importa , no entanto , não esquecer que é durante a idade pediátrica que se processa a seleção de talentos , bem como o incremento da intensidade e da frequência do treino físico , visando a competição . Nestes casos , particularmente nas modalidades individuais e naquelas em que a técnica ou a estética obrigam a um controle do peso corporal ( ginástica ,
patinagem …), torna-se imprescindível a vigilância médica regular do crescimento , do estado nutricional e de marcadores de saúde óssea e mental , entre outros , visando a deteção e a intervenção precoces relativamente à ocorrência da tríade da atleta feminina .
Estado da arte O estado de nutrição e o padrão e crescimento apresentam grande variabilidade inter e intra-individual , particularmente na dependência de fatores genéticos , do ambiente hormonal e do aporte nutricional . Todos estes fatores deverão ser tidos em conta como condicionantes de uma pré-seleção para a prática de certas modalidades desportivas , bem como na aplicação de um programa de treino . O exercício físico exige adaptações na dependência das suas caraterísticas ( intensidade , frequência , solicitação energética , entre outras ), suportadas pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e pelo eixo Gh-IgF1 , os mesmos que são ativados no normal processo de crescimento e maturação . A ocorrência de uma anormal progressão da puberdade ou de irregularidades do ciclo menstrual depende da intensidade do treino ( frenador periférico ), mas particularmente do estado nutricional ( frenador central ). A formação de massa óssea ( MO ) é um motivo de preocupação na adolescência , desempenhando o exercício físico um papel independente na sua formação .
Assim sendo , é espectável que o compromisso do estado de nutrição , da formação da massa óssea e da normal progressão da puberdade ocorra apenas em atletas que pratiquem uma modalidade que exija controlo de peso corporal , sendo consequente à restrição do aporte energético . As alterações serão reversíveis ( totalmente ?) com a redução da intensidade , a paragem do treino ou o reajuste do suprimento nutricional . Efetivamente , estudos recentes e a nossa própria experiência documentam ausência de compromisso nutricional significativo , muito embora se observe mudança da composição corporal ( com valores relativos muito baixos de massa gorda ) e atraso na normal progressão da puberdade sem repercussão na predição estatural final , nem na
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