Resumos de congressos
Rev . Medicina Desportiva informa , 2013 , 4 ( 5 ), pp . 22 – 26
V Jornadas de Pediatria
Centro Hospitalar do Alto Ave – Guimarães
O serviço de pediatria do CHAA – Guimarães realiza todos os anos uma reunião de âmbito nacional abordando temas que considero de interesse na pediatria . As V Jornadas realizadas em 19 de Abril 2013 , com o tema “ Desporto em Pediatria – fazer para bem crescer ”, foram idealizadas e concretizadas tendo como finalidade dois aspetos :
O primeiro foi o da abordagem de temas relacionados com a problemática do desporto no grupo etário pediátrico , focando a importância da atividade física , os seus problemas , a motivação , a adequada alimentação , o correto exame médico , a orientação para as brincadeiras , a prática de desportos individuais e de grupo até à alta competição , para reflexão dos profissionais de saúde ;
O segundo aspeto foi o da integração do tema proposto na programação de “ Guimarães 2013 , Cidade Europeia do Desporto ”, contribuindo para a concretização dos objetivos traçados aquando da candidatura da autarquia vimaranense a cidade europeia do desporto , promovendo o conhecimento , a investigação , a inovação desportiva , a informação , o debate e a reflexão sobre desporto e suas práticas .
Fundamental para a concretização destas Jornadas foi o empenho e rigor postos pelas comissões organizadora e científica na escolha dos temas , moderadores e palestrantes , os quais com o seu enorme valor científico as valorizaram e a quem agradeço terem estado presentes . Cumprimentos .
Considerações fisiológicas da prática desportiva com crianças e jovens
Prof . Doutor José Soares Professor catedrático . FADEUP , Porto
Muito se tem falado sobre o papel do desporto no crescimento e desenvolvimento de crianças e jovens . Todavia , por paradoxal que pareça , existem ainda poucos dados científicos que suportem muitas das afirmações que se vão lendo e ouvindo . Por um lado , fala-se de que há cada vez mais crianças com excesso de peso e obesidade e , simultaneamente , debate-se a questão do denominado treino intensivo precoce . Isto é , os possíveis malefícios do treino intenso com crianças e jovens .
Recentemente participei como conferencista nesta reunião científica para pediatras e em que abordei exatamente este tema : o papel do exercício no crescimento saudável dos nossos miúdos . Não são raras as
Dr . Pedro Freitas , diretor do serviço de pediatria do CHAA – Guimarães
vozes a falarem sobre os malefícios provocados pelo treino de modalidades exigentes em idades precoces como a natação e a ginástica . Fala- -se muito que esses jovens atletas acabam por ter uma vida social muito limitada , têm problemas de crescimento , lesões frequentes , etc . Ora , o que se sabe , do ponto de vista científico , é que não há quaisquer evidências que suportem estas afirmações . Retira-se daqui , obviamente , os casos absurdos e irresponsáveis .
Tenho tido uma experiência profissional fantástica como fisiologista da equipa de natação do FC Porto . Já lá vão 3 anos . São jovens que treinam 9 a 10 vezes por semana . Entram na piscina às 7.00 da manhã , faça chuva ou sol , acabam o treino e vão diretamente para as aulas . Às 8.30 já estão prontos para começar um dia escolar intenso . Voltam de novo às 19.00 à água ou ao ginásio . Repetem isto todos os dias da semana e acrescentam ainda 2 treinos no fim-de-semana . Resultado : excelentes atletas , miúdos alegres , sociáveis , bons estudantes . Saem à noite , convivem , vão a festas , fazem férias , etc . Ou seja , não são extra-terrestres ! Fico impressionado quando ouço alguns neo-pedagogos chamarem à atenção para este aparente exagero . Não é exagero . É organização , cumprimento de objetivos , solidariedade com a equipa , identificação coletiva , orgulho de pertença . Não é isto que nós dizemos sistematicamente que falta a esta geração ? Se sim , porque receamos ?
Por exemplo , onde estão as evidências dos malefícios do treino intenso em crianças ? Serão os seus efeitos benignos e reversíveis ou irreversíveis e persistentes no tempo ? Serão as crianças mais suscetíveis às lesões de sobrecarga ? Como se demonstra que especializar precocemente encurta a carreira desportiva de um atleta ? Como é possível entender as denominadas “ fases sensíveis ” se a prática do treino se encarrega cabalmente de as desmentir ? Que justificações biológicas têm , na realidade , as “ fases sensíveis ”?
Temos de nos preocupar é com as consequências de um número cada vez maior de crianças e jovens que passam o tempo “ sem fazer nada ”. Não praticam um desporto , não estudam , não se identificam , não se focam e , como tal , acabam por pagar um preço elevado . Este deverá ser a nossa preocupação central .
Já percebemos que a questão do excesso de peso não é fácil de resolver . Não é o desporto por si só que resolverá o problema . Mas ajuda . E , para isso , a Escola tem que , por um lado , encarar as aulas de Educação Física tão importantes como a Matemática ou o Português . E , por outro , eleger estes jovens desportistas como exemplos , como referenciais . Caso contrário , teremos uma geração de gente pouco saudável , física e intelectualmente .
Deixemo-nos de hipocrisias e falsos sentimentalismos . Os jovens desportistas que treinam , que têm objetivos e que lutam por eles são um exemplo e devem ser vistos dessa forma . De resto , salvo raras exceções e que correspondem habitualmente à falta de conhecimento , os estudos mais recentes salientam
22 · Setembro 2013 www . revdesportiva . pt