Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2013 | Page 16

Tema 2

Rev . Medicina Desportiva informa , 2013 , 4 ( 5 ), pp . 14 – 16

Bebidas desportivas e bebidas energéticas

Dr . Basil Ribeiro . Medicina Desportiva . Clínica Médica da Foz , Porto , CHVN Gaia – Espinho , EPE – VN Gaia
RESUMO / ABSTRACT
As bebidas desportivas e energéticas são consumidas em grandes quantidades e são um negócio de biliões . Embora sejam consumidas de modo indiferente , elas têm composições diferentes , com implicações clínicas e desportivas . As energéticas são as que têm estimulantes na sua composição , alguns com implicações na dopagem , e não devem ser consumidas pelas crianças e adolescentes . Nesta faixa etária o risco de excesso de peso e de obesidade também deve ser considerado . A hidratação com água é suficiente na quase totalidade das situações .
Sports and energetic drinks are largely consumed and they are a billion business . Although they are indifferently consumed , they have different compositions , with clinical and sports implications . The energetic drink has stimulants in its composition , some related to the doping process , and shouldn ’ t be consumed by children and adolescents . On these age range , the risk of overweight and obesity must also be considered . Water will be sufficed on almost the totality of the occasions .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Bebidas desportivas , bebidas energéticas , cafeína , hidratação . Sports drinks , energetic drinks , caffeine , hydration .
Introdução
Os termos “ bebidas desportivas ” e “ bebidas energéticas ” são utilizados para genericamente designarem bebidas utilizadas pelos praticantes de exercício físico , no contexto da competição ou simplesmente durante e / ou após a corrida ou o jogo de futebol com os amigos . O consumo de qualquer delas poderá parecer indiferente , mas não é , pois a sua composição e objetivo são diferentes .
As bebidas energéticas ( BE ) foram introduzidas nos EUA em 1997 e desde essa altura que a sua popularidade tem aumentado bastante 1 , principalmente entre os teenagers e os jovens adultos 2 , 3 , em que 31 % dos teenagers mais jovens e 34 % a 51 % dos jovens entre 18 e 24 anos referem o consumo regular destas bebidas4 . Entre 6 % e 45 % das tropas americanas no exterior referiram consumirem diariamente uma bebida energética 1 . Entre 1998 e 2003 a venda destas bebidas nos EUA aumentou 465 % e em 2006 gerou receitas da ordem dos 5 biliões US dólares 2 , tendo subido 16 % em 2011 para 9 biliões de US dólares 1 . Desde 2002 que foram vendidas em todo o
Mundo 8 biliões de latas de Monster Energy 5 .
Composição
A diferença entre bebidas desportivas ( BD ) e BE é que estas possuem substâncias estimulantes , das quais se destaca a cafeína , que é um estimulante do sistema nervoso central , mas de potência inferior à das anfetaminas 6 . A bebida desportiva contém , entre outros ingredientes , o açúcar , em percentagem média que varia entre 6 e 8 % 7 . Habitualmente a composição da bebida desportiva é constituída por água , carboidratos e sódio , em formulações que permitam a rápida absorção de líquidos e eletrólitos para prevenção da fadiga . Têm três objetivos : fornecer água , hidratos de carbono e repor os eletrólitos perdidos pelo suor , dos quais se destaca o sódio , que é muito importante para a absorção da água no intestino e para a retenção hídrica dentro do corpo 4 . As BE , para além desta composição , possuem ginseng , guaraná , taurina , cafeína e , eventualmente , substâncias dopantes 8 , cujos nomes estranhos , latinizados , poderão escapar aos mais distraídos . Aqueles que procuram mais energia , melhor estado de alerta e maior rendimento físico poderão não ter conhecimento da quantidade de cafeína que estão ingerir , por exemplo 1 , 3 .
Regulamentação
A eventual falta de regulamentação pela Food and Drug Administration ( FDA ) dos EUA tem contribuído para alguma permissividade na composição destas bebidas . Mesmo as instituições médicas de referência têm alguma dificuldade em lidar com este tema . O Journal of the American Medical Association ( JAMA ) referiu em Dezembro de 2012 , na sua secção “ JAMA ’ s “ Patient Page ”, que as BE não eram reguladas pela FDA , mas logo no dia 08 / 01 / 2013 escreveu que a FDA regulamentava estas bebidas , sem dar , contudo , qualquer explicação para esta alteração de opinião . A classificação destes produtos poderá explicar a discrepância das respostas . Poderão ser consideradas apenas como BE e vendidas como simples bebidas , ou serem consideradas como suplementos energéticos e , neste caso , entram na classificação de suplementos dietéticos , estando sujeitos à regulamentação por parte da FDA 9 .
A regulamentação da composição das BE é importante , pois os consumidores devem saber o que estão a beber e o que bebem deve de facto ter os tais efeitos benéficos e ser desprovido de efeitos laterais . As quantidades de suplementos incluídos são de um modo geral insuficientes para produzirem os tais benefícios e para causarem efeitos laterais adversos , mas poderão ser uma ameaça para a saúde maior que as colas 2 . Importa referir que a falta de indicação de efeitos laterais poderá ser devido à sua ausência de facto ( baixas doses ), mas também por deficiência de declaração por parte dos profissionais de saúde 2 .
O potencial problema surge com a cafeína , a sinefrina , a efedrina , etc ., sendo os efeitos laterais da responsabilidade das concentrações elevadas de cafeína , com feito aditivo na associação com o guaraná , mais do que com a taurina e o ginseng 2 . Existem bebidas com quantidades
14 · Setembro 2013 www . revdesportiva . pt