Rev . Medicina Desportiva informa , 2016 , 7 ( 3 ), pp . 14 – 18
Artroplastias e exercício físico
Tema 2
Prática Desportiva e Artroplastias da Anca , Joelho e Ombro
Dr . Diogo Moura 1 , Dr . António Figueiredo 2 , Dr . Augusto Reis e Reis 3 , Prof . Dr . Fernando Fonseca 4
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Médico interno complementar de Ortopedia ; 2 Assistente Hospitalar Graduado – Setor da Anca ; 3 Assistente Hospitalar Graduado – Setor do Ombro ; 4 Diretor de Serviço – Setor do Joelho . Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra .
RESUMO / ABSTRACT
O sucesso da cirurgia artroplástica tem sido responsável pelo aumento das expetativas dos pacientes , sendo que atualmente muitos pretendem não apenas o alívio sintomático da dor artrósica , mas também a recuperação funcional e mesmo praticar algum grau de atividade física e desportiva . No entanto , a prática de exercício físico , ao provocar um aumento das forças exercidas através da prótese articular , pode ser um importante fator de risco para a sua falência precoce . A literatura científica sobre desporto após artroplastias está limitada a pequenos estudos retrospetivos com pouco tempo de seguimento , na maioria insuficiente para a avaliação da duração da prótese articular . Este artigo apresenta uma revisão da literatura sobre prática desportiva no contexto de artroplastias da anca , joelho e ombro e propõe recomendações gerais com base na evidência científica atual .
The success of joint replacement surgery has been responsible for increasing patient ’ s expectations regarding the procedure . Nowadays , many not just pretend the symptomatic relief of the arthritis pain , but also functional recovery and even participate in athletic activity and sports . However , physical exercise causes high forces through the articular prosthesis , which can became an important risk factor for its early failure . Scientific literature on athletic activity after total joint arthroplasty is limited to small retrospective studies with short-term follow-up , mostly insufficient to evaluate the implant durability . This paper presents a literature review on the physical activity after hip , knee and shoulder arthroplasties and suggests general recommendations based on the current scientific evidence .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Desporto , exercício físico , atividade , artroplastia , anca , joelho , ombro Sport , physical exercise , activity , arthroplasty , prosthesis , hip , knee , shoulder
Introdução
A substituição articular por uma prótese é uma das cirurgias com mais sucesso na prática médica , tendo a artroplastia total da anca sido considerada por Learmonth ID et al . como a cirurgia do século 1 , 2 . Estão claramente demonstrados os benefícios da substituição de uma articulação em estadio avançado de degeneração , em particular da anca , joelho e ombro , sobretudo ao nível do alívio álgico , melhoria da função , correção de deformidades e melhoria da qualidade de vida 1 , 3 , 4 . Estes fatores associados ao envelhecimento da população , à maior exigência funcional e à menor tolerância da população à sintomatologia artrósica , exigindo a substituição articular em idades mais precoces e em fases menos avançadas das
alterações degenerativas articulares , têm sido responsáveis pela incidência crescente substancial das cirurgias artroplásticas a nível mundial 1 , 4 .
Os benefícios do exercício físico para a saúde estão claramente demonstrados , conferindo vantagens físicas e mentais em todas as faixas etárias 1 , 5 . Face ao sucesso da cirurgia artroplástica , as expetativas dos pacientes aumentaram , sendo que atualmente muitos pretendem não apenas o alívio sintomático da dor artrósica , mas também a recuperação funcional , procurando ultrapassar as limitações provocadas pela artrose e mesmo praticar algum grau de atividade física e desportiva 1 , 4 . Alguns pacientes têm mesmo como objetivo o regresso a determinado desporto que haviam ficado impedidos de praticar devido à patologia osteoarticular degenerativa 6 .
A literatura científica sobre desporto após artroplastias está limitada a pequenos estudos retrospetivos com pouco tempo de seguimento , na maioria insuficiente para a avaliação da duração da prótese articular 1 . As atuais próteses totais da anca e do joelho ( Figura 1 – A , B ) têm uma taxa de duração média superior a 90 % aos 10-20 anos após a sua aplicação , como tal admite-se que o tempo mínimo de seguimento para avaliar a duração de uma artroplastia são 10 anos , altura em que começam a surgir as complicações 7-10 .
A prática de exercício físico , ao provocar aumento das forças exercidas através da prótese articular , pode tornar-se um importante fator de risco para a sua falência precoce . Foi demonstrado que um nível elevado de atividade física aumenta o risco de estresse e desgaste entre
Figura 1 – A – Artroplastia total da anca ; B – Artroplastia total do joelho ; C – Artroplastia total gleno-umeral anatómica .
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14 Novembro 2016 www . revdesportiva . pt