Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2016 | Page 17

os componentes da prótese e na interface prótese-osso e , consequentemente , de descolamento precoce e de instabilidade da prótese articular . O exercício físico e a diminuição da proprioceção e da dor , protetores da articulação artificial , são também responsáveis por um risco aumentado de lesões traumáticas da neo- -articulação 1 , 4-12 . Segundo o registo sueco , em 92675 artroplastias da anca e 30003 artroplastias do joelho analisadas , as taxas de revisão cirúrgica aos 10 anos foram significativamente mais elevadas nos pacientes com idade inferior a 55 e a 65 anos ( respetivamente 20 % e 18 %), em comparação com os pacientes de idade mais avançada ( respetivamente 5 % e 6 %), o que poderá ser atribuído a um nível de atividade mais elevado dos pacientes mais novos 13 , 14 . Por sua vez , Gschwend et al . 15 compararam 2 grupos de 50 pacientes submetidos a artroplastia da anca , um que praticava regularmente esqui e o outro mais sedentário , apenas com prática esporádica de atividade física . Após 7 anos , o grupo mais ativo apresentava desgaste do polietileno de 2.42mm ( 0.4mm / ano ), enquanto o desgaste no outro grupo era de apenas 1.16mm ( 0.16mm / ano ). Apesar disto , aos 5 anos de seguimento , no grupo ativo não havia sinais de descolamento , enquanto no grupo inactivo se verificou descolamento de cinco próteses da anca . Aos 10 anos , apesar do desgaste de polietileno ser superior do grupo ativo , a incidência de descolamento permaneceu mais elevada no grupo inativo . Outro
Figura 2 – Prática de hidroginástica .
estudo verificou também que a prática desportiva está associada a taxas inferiores de revisão por descolamento precoce em comparação com a inatividade física ( 1,6 % vs 14,3 %), o que se poderá explicar pelo exercício ter um efeito protetor da prótese ao estimular a osteogénese , reforçando a qualidade óssea e a osteointegração ao nível da interface osso-prótese 5 , 16-18 . Existe assim alguma evidência que a inatividade física aumenta o risco de descolamento precoce ( inferior a 10 anos ) por osteopénia e osteointegração insuficiente da prótese , enquanto a atividade física intensa aumenta o risco de desgaste dos componentes ( mais frequentemente do polietileno ) e consequentemente o descolamento tardio ( superior a 10 anos ), causado por osteólise reativa às partículas libertadas 5 , 8 .
Apesar disto , atualmente não existe evidência científica acerca do tipo e o nível de intensidade de atividade física que que devem ser recomendados ou evitados após uma artroplastia , de modo a não afetar a duração da neo-articulação 1 , 10 , 14 , 19 . O objetivo passa por encontrar um equilíbrio que garanta os benefícios da atividade física e ao mesmo tempo não prejudique de forma significativa a duração da artroplastia .
Artroplastia da anca e exercício físico
O tipo e a mecânica do material das superfícies articulares de uma prótese , bem como a técnica de fixação da mesma , são fatores críticos para a sua duração 10 . A fixação não cimentada da artroplastia total da anca é considerada gold-standard para pacientes novos , ativos e praticantes de desporto , na medida em que permite uma osteointegração dinâmica da prótese , que se adapta à solicitação funcional , demonstrando níveis inferiores de descolamento em comparação com as próteses cimentadas 10 , 20 , 21 . Em termos de superfícies articulares , atualmente mantém-se a controvérsia em relação ao par articular tribológico ideal para pacientes ativos . Apesar de vários estudos e a extensa experiência referirem bons resultados com metal-polietileno , a cerâmica ( em particular o par cerâmica-polietileno ) tem tido uso crescente , sobretudo devido à sua menor suscetibilidade ao desgaste e consequentes menor libertação de partículas e osteólise , associados a menor índice de complicações em comparação com outros materiais 22-25 . A evolução e maior resistência dos polietilenos de última geração têm permitido maior confiança ao ortopedista na aplicação de uma prótese total da anca em pacientes ativos 26-28 .
Os índices de regresso à prática desportiva após uma artroplastia total da anca variam entre 29 % e 56 % e são menores para os desportos de elevado impacto 16 , 20 , 29 . Os principais motivos de não regresso à prática desportiva são a dor , amplitudes articulares insuficientes , recomendação médica e receio em danificar a neo-articulação 30 . Os trabalhos de Ritter e Meding 29 e Dubs et al . 16 demonstraram uma diminuição da prática desportiva de 78 % no pré-operatório para 56 % após a artroplastia da anca . Pelo contrário , em termos de desportos a nível recreativo , Visuri e Honkanen 31 verificaram um aumento na sua prática de 2 para 55 % para as caminhadas , 7 para 29 % para o ciclismo e 13 para 30 % para a natação . Outro estudo verificou também um ligeiro aumento ( 80 % para 83 %) da prática desportiva recreativa após a artroplastia total da anca 32 .
Atualmente , a maioria dos ortopedistas aconselham os pacientes submetidos a artroplastias das articulações de carga , particularmente da anca e joelho , a evitarem prática de desportos de elevado impacto
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