Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2016 | Page 10

Figura 1 – Arco de mobilidade do tornozelo direito Figura 2 – Radiografia de perfil em carga e imagem de RMN (sequência Turbo-Spin-Echo, Fat Saturated). Figura 3 – Imagens da artroscopia antes e depois da exérese do osteófito anterior da tíbia. Figura 4 – Radiografia simples de perfil pós-operatória. 8 Novembro 2016 www.revdesportiva.pt início cerca de cinco anos antes. Foi submetido a tratamento conservador, incluindo tratamento fisiátrico, compressão elástica e medicação analgésica sem sucesso. Negava qualquer sensação de instabilidade, referindo apenas agravamento progressivo da sintomatologia, com episódios frequentes de derrame articular. No exame objetivo apresentava dor na palpação da interlinha anterolateral do tornozelo, intensificada pela dorsiflexão forçada. Não apresentava sinais de instabilidade lateral ou medial do tornozelo, nem da articulação subastragalina. Não apresentava limitação clinicamente relevante do arco de mobilidade, com flexão plantar de 40º e flexão dorsal de cerca de 15º (que provocava dor no seu extremo), semelhante ao tornozelo contralateral (figura 1). Foram realizadas radiografias simples, em face e de perfil, em carga e a ressonância magnética nuclear (RMN), que demonstraram a presença de osteófito de grandes dimensões localizado na face anterior e distal da tíbia distal e pequeno osteófito dorsal do astrágalo, classificando-se como grau 3 de Scranton e McDermott, com hipersinal anterior na sequência Turbo-Spin-Echo, Fat Saturated na RMN, demonstrativos de conflito ósseo anterior do tornozelo (Figura 2). Foi feito o diagnóstico de síndrome do conflito ósseo anterior do tornozelo e proposto tratamento cirúrgico através de artroscopia anterior do tornozelo. Após sinovectomia alargada, procedeu-se à exérese de todo o osteófito da região distal e lateral da tíbia (Figura 3). O exame artroscópico permitiu excluir lesões associadas, como instabilidade ligamentar interna ou externa do tornozelo, lesões osteocondrais do astrágalo ou presença de corpos livres. No exame dinâmico do arco de mobilidade verificou-se que, ao mover o astrágalo em dorsiflexão, não ocorria qualquer conflito entre o osteófito dorsal do astrágalo e a vertente inferior da tíbia, pelo que não se realizaram gestos cirúrgicos adicionais. A radiografia simples de perfil pós-operatória mostrou o rebordo distal e anterior da tíbia regularizado (figura 4). No pós-operatório foi autorizada carga total imediata, assim como tratamento fisiátrico diário. Não ocorreram complicações no per ou no pós-operatório, tendo voltado à atividade desportiva sem limitações seis semanas depois da cirurgia. Um ano após a cirurgia, apresentava-se sem queixas dolorosas e sem novos episódios de derrame. O Score da Sociedade Ortopédica Americana do Pé e Tornozelo (AOFAS) para retropé subiu de 69 para 96 e a Escala de Dor Visual (EDV) desceu de sete para zero. Discussão O diagnóstico da síndrome do conflito anterior do tornozelo é clínico, baseando-se no relato de dor intermitente ou constante no tornozelo, reprodutível na palpação da interlinha articular, exacerbada na dorsiflexão forçada do tornozelo. Por vezes, observa-se derrame articular e limitação do arco de mobilidade1-4. A origem do conflito anterior pode ser por interposição de partes