Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2019 | Page 22

Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(2):20-21. https://doi.org/10.23911/Patol_trauma_crossfit A Patologia Traumática na Prática do CrossFIT ® Dr. Amílcar Cordeiro 1 , Prof. Doutor João Páscoa Pinheiro 2 1 Interno de Formação Específica; 2 Assistente Hospitalar Graduado e Diretor. Serviço de Medicina Física e de Reabilitação. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. RESUMO / ABSTRACT O CrossFit ® (CF) é um programa de condicionamento físico que tem vindo a crescer e a ganhar progressiva notoriedade nos últimos anos. Comparativamente com outras modali- dades verificou-se que as taxas de lesões no CF foram maiores que na ginástica despor- tiva, semelhantes na halterofilia e significativamente menores que no râguebi. Apesar dos poucos estudos publicados, não parece que a prática do CF aumente a incidência de lesões, comparativamente a outras modalidades desportivas. CrossFit ® (CF) is a physical conditioning program that has been growing and gaining progressive notoriety in last years. Compared with other modalities, it was found that the injury rates in CF were higher than in gymnastics, similar in weightlifting and significantly lower than rugby. Despite the few published studies, it does not appear that CF practice increases the incidence of injuries compared to other sports. PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS CrossFit ® , lesão. CrossFit ® , injury. Introdução Performance e lesão traumática O CrossFit ® (CF) é um programa de condicionamento físico que tem vindo a crescer e a ganhar noto- riedade nos últimos anos. Esta prática desportiva é composta por uma variedade de exercícios praticados em alta intensidade 1 , que vão desde a corrida, ao remo, ao levantamento de peso (diversas opções funcionais) e a diversos movimentos gímnicos. A prática de CF visa desenvolver ganhos de resistência cardiorrespiratória e outros parâmetros cinéticos, tais como a força, a potência, a veloci- dade, a coordenação, a agilidade e o equilíbrio. Devido aos treinos de alta intensidade no CF esta prática desportiva divulgada inicialmente na população em geral, também tem sido progressivamente adap- tada ao treino de militares com notável eficácia. 2 Apesar da sua divulgação na comunidade, pouco foi estudado sobre o impacto do treino de CF na saúde do praticante e quais os bene- fícios / malefícios associados a esta modalidade. Existem alguns estudos para ava- liar o nível de condicionamento físico adquirido na prática do CF, bem como os tipos de lesões e a sua frequência associada a esta prática. 3-7 Um estudo conduzido no exército norte-americano reportou uma melhoria significativa na per- formance física dos soldados, mais força e maior resistência muscu- lar após a implementação de um programa regular de CF. 8 Smith el al 9 demonstraram que a prática de CF melhorava a capacidade metabólica e conduzia a melhoria física baseada no aumento do consumo máximo de oxigénio. Verificaram ainda que após 10 semanas de treino em adultos jovens havia uma redução valorizá- vel da percentagem de massa gorda. Relativamente à lesão muscular associada ao CF, existem diversos artigos publicados, genericamente pouco conclusivos e com algumas lacunas metodológicas. 2,4,10 A inci- dência lesional global em soldados norte-americanos após treinos de programas de condicionamento intenso, como o CF, foi de 12%. No entanto, a incidência de lesões em militares que não participaram 20 março 2019 www.revdesportiva.pt neste tipo de treino foi de 10%. Como fatores de risco associados à existência de lesões nos programas de condicionamento extremo, foram descritos o maior número de quiló- metros por semana percorridos, um índice de massa corporal aumentado e consumo ativo de tabaco. 11 Um trabalho realizado pela Universidade Internacional da Flórida demonstrou que pelo menos 24% dos praticantes de CF teriam sofrido uma lesão nos últimos seis meses. 10 Esta incidência de lesões associadas à prática de CF foi também descrita por outros autores. 7 Um outro estudo, realizado online a praticantes de CF, demons- trou que existe uma taxa de lesão de 3,1/1000 horas de treino. Neste estudo não foi reportado nenhum caso de rabdomiólise. 3 Uma investi- gação que envolveu 14 locais afilia- dos com o CF reportou uma taxa de lesão de 2,3/1000 horas de treino. 7 Outra investigação, suportada por questionário online em inúmeros ginásios de CF, apresentou uma taxa de global de lesão de 19,4/1000 horas. 4 Comparativamente com outras modalidades, com exigência cinética idêntica ao CF, verificou-se que as taxas de lesões no CF foram maiores que na ginástica desportiva (1,0/1000 horas) 12 , semelhantes à taxa de lesões da prática de levanta- mentos olímpicos (3,3/1000 horas) 13 e levantamentos de peso (4,4/1000 horas) 14 , e foram significativamente menores que na prática de râguebi (24,5/1000 horas). 15 Estudos epide- miológicos em fundistas reportaram uma taxa de incidência de lesões no global, muito variável de 19,4 a 79,3/1000 horas de treino. 16 Relativamente à topografia lesional, esta foi reportada como sendo 25% no ombro, 14% na região lombar e 13% no joelho. 4 Está descrito que a lesão no ombro está mais frequentemente associada a movimentos de ginástica e a lesão no joelho a movimentos de levantamentos de peso. 11,15 Mon- talvo el al 10 apontam o joelho como a região mais afetada com esta prática, com uma incidência global de 37,5%. Verificaram que a prática não competitiva tinha uma menor probabilidade de lesão, comparati- vamente à competitiva, ainda que sem significado estatístico. No geral, verificou-se uma