Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2018 | Page 29

pequena percentagem de indivíduos desenvolve a sintomatologia não é ainda conhecida , pelo que tem sido considerada a hipótese de fatores genéticos estarem envolvidos . 18
Patofisiologia
Os mecanismos fisiopatológicos subjacentes ao SCCE permanecem pouco esclarecidos . Estudos têm sugerido que a hipertrofia muscular , consequente ao esforço , pode condicionar um aumento de até 20 % do volume do músculo durante o exercício , retomando o volume normal em repouso . 1 , 8 A presença de uma fáscia firme , sem elasticidade , e frequentemente espessada , impede a capacidade de acomodar o aumento de volume . 2 , 5 , 13 Estes fatores condicionam um aumento da pressão intracompartimental , com consequente compromisso microvascular e diminuição do retorno venoso . 6 , 16 A isquemia resultante , de característica transitória e reversível , traduz-se clinicamente em dor , em alguns casos insuportável , intolerância ao esforço e perda de função dos grupos musculares envolvidos . 2 , 9 Os compartimentos palmares são os mais afetados na SCCE , fruto do maior esforço desses grupos musculares nas atividades referidas . 20
Clínica
A história clínica é , sem dúvida , o elemento diagnóstico preponderante , sendo que o exame objetivo pode ajudar a corroborar os dados e a excluir outras patologias . O envolvimento habitual numa atividade física caracterizada por esforço intenso e prolongado do membro superior , representa um critério essencial no diagnóstico . 1 Os doentes com SCCE relatam habitualmente queixas de dor intensa e progressiva , de características variáveis , desde aperto a cãibra no compartimento muscular afetado , com início alguns minutos após o esforço . 1 , 3 , 16 Às queixas álgicas podem , ainda , associarem-se sintomas de edema do membro e sensação de falta de força . 8 , 18 Parestesias , disestesias e , em última instância , limitação funcional do membro afetado , completam o quadro clínico . 1 A sintomatologia não se associa a um episódio traumático e frequentemente é bilateral . 6 , 16 Como referido anteriormente , os grupos musculares mais afetados são os dos compartimentos palmares . 1 À observação , as massas musculares apresentam-se edemaciadas , tensas e possivelmente dolorosas à palpação ( Figura 1 ). 17 Nenhuma alteração à avaliação dos pulsos periféricos é expectável . 1 Os sintomas tendem a desaparecer progressivamente finda a atividade , embora a dor possa persistir até uma hora após . 21
Em repouso , o exame objetivo destes doentes é caracteristicamente inocente , sem achados patológicos de relevo , nomeadamente no exame neurológico e vascular . 5 , 17 Contudo , perante uma história clínica sugestiva , testes de stress que simulem o esforço , nomeadamente contração forte e prolongada das mãos , podem desencadear o quadro clínico . 20
Numa fase inicial os sintomas são habitualmente ligeiros e inespecíficos , pelo que frequentemente os doentes adaptam a sua atividade , diminuindo a intensidade ou duração dos esforços , por forma a evitar a sintomatologia . 16 Nos atletas de alta competição isto pode comprometer o desempenho competitivo , chegando no motociclismo de competição a condicionar a imobilização durante a prova , apresentando um quadro similar à contratura isquémica de Volkmann , pelo que é fundamental que a equipa médica esteja alerta para o problema .
Exames complementares de diagnóstico
Embora o diagnóstico de SCCE seja clínico , a avaliação da pressão intracompartimental tem mostrado ser o exame complementar gold standard
14 , 17
para a confirmação do diagnóstico . Atualmente continua a haver consenso em relação aos critérios para identificação da SCCE do membro inferior , definidos por Pedowitz em 1990 ( Tabela 1 ). 22 Contudo , pouco se sabe ainda , no que diz respeito aos valores de pressão intracompartimental considerados patológicos para o membro superior . 3 , 12 A verdade é que os estudos publicados têm extrapolado os valores do diagnóstico do membro inferior para o membro superior , com resultados aparentemente fidedignos .
Um estudo publicado em 2017 por Sergi Barrera-Ochoa introduziu um novo critério diagnóstico para SCCE ( TRest ) baseado no tempo decorrido entre a pressão intracompartimental máxima imediatamente após o esforço e o retorno à pressão basal . 14 A ressonância magnética nuclear tem mostrado ser um exame complementar de diagnóstico eficaz , com a vantagem de ser não invasivo , demonstrando um aumento significativo na intensidade de sinal em T2 no compartimento envolvido ,
17 , 23
imediatamente após o esforço . A espectroscopia tem também sido estudada neste campo , avaliando o nível de isquemia dos tecidos , com base na saturação de hemoglobina local . 1 , 24
Critérios diagnósticos de SCCE do membro inferior - Pedowitz ( 1990 ) 22 1 Pressão pré exercício igual ou superior a 15mmHg ;
Figura 1 – Edema tenso das massas musculares da face anterior do antebraço , imediatamente após prova , em atleta de motociclismo .
2 Pressão 1 minuto pós exercício igual ou superior a 30mmHg ; 3 Pressão 5 minutos pós exercício igual ou superior a 20mmHg
Revista de Medicina Desportiva informa março 2018 · 27