Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2018 | Page 30
O campeão Miguel Oliveira com flexão do cotovelo e tensão no antebraço permanentes
Diagnóstico diferencial Tratamento
O diagnóstico de SCCE é um diag-
nóstico de exclusão, sendo múltiplas
as entidades clínicas que devem ser
diferenciadas desta síndrome. O
doente tipo é caracteristicamente
um adulto jovem, havendo um
número limitado de casos descritos
na adolescência. 21 Mostra-se funda-
mental distinguir a SCCE da sín-
drome compartimental aguda, uma
patologia traumática emergente,
com consequências possivelmente
devastadoras. 6 O quadro clínico de
SCCE pode simular patologias
neurológicas, pelo que deve ser
diferenciado de neuropatias periféri-
cas, bem como síndromes compres-
sivos radiculares. 1,6,9 As lesões
vasculares, fraturas de stress,
distonia focal e processos inflamató-
rios crónicos musculotendinosos
fazem também diagnóstico diferen-
cial com a SCCE. 16,19,21,25 O alívio da sintomatologia com
o repouso representa uma das
características principais da SCCE,
pelo que a cessação da atividade é o
único tratamento conservador com-
provadamente eficaz. 5,20 O recurso a
anti-inflamatórios, ortóteses imobili-
zadoras do membro e programas de
fisioterapia tem mostrado resultados
pouco satisfatórios nesta doença. 6,13
Uma vez que a SCCE afeta essencial-
mente desportistas de alta competi-
ção, a diminuição da intensidade de
esforço, ou mesmo a cessação da ati-
vidade física, não são opções viáveis
na maioria dos doentes, pelo que o
tratamento de eleição continua a ser
a fasciotomia descompressiva do
compartimento afetado. 16 Embora
alguns cirurgiões considerem a liber-
tação do compartimento superficial
suficiente no alívio da sintomatolo-
gia, não há ainda consenso em rela-
ção a esta questão, pelo que muitos
autores continuam a defender a
fasciotomia do compartimento pro-
fundo associada. 13,16 A controvérsia
mantém-se também no que diz res-
peito ao valor da fasciectomia como
alternativa à fasciotomia. Os estudos
têm sugerido resultados sintomá-
ticos semelhantes, mas associando
a fasciectomia a uma diminuição
significativa da força muscular. 16
Embora a técnica gold standard
continue a ser a fasciotomia aberta,
as abordagens minimamente inva-
sivas, nomeadamente endoscópicas
ou por diversas mini-incisões, têm
ganho popularidade nos últimos
anos (Figura 2). 5,8,24 A principal van-
tagem da cirurgia aberta é, indubita-
velmente, permitir uma visualização
completa das estruturas, não só
musculares, mas também neurovas-
culares e, portanto, diminuir teori-
camente o risco de complicações e
recorrências. 1,14,15 A cirurgia mini-
mamente invasiva, por outro lado,
parece proporcionar períodos de rea-
bilitação mais rápidos, com menor
área de cicatrização, permitindo um
retorno mais rápido à atividade. 1,2
Alguns autores têm descrito maiores
taxas de complicações associadas a
estas técnicas, nomeadamente no
que diz respeito a hematomas, infe-
ções superficiais, lesão neurovascu-
lar, hérnias musculares e libertação
incompleta da fáscia (Figura 3). 9,26
Contudo, o estudo pu blicado em
2016 por Barrera-Ochoa, compa-
rando os resultados a longo termo
da cirurgia aberta e da cirurgia mini-
mamente invasiva em motociclistas,
conclui que ambas as técnicas se
mostram igualmente eficazes no
tratamento da SCCE do antebraço,
embora a cirurgia minimamente
invasiva se associe a maior taxa de
complicações minor, sem significân-
cia estatística. 26
Prognóstico
Figura 2a e 2b – Resultado clínico favo-
rável pós-fasciotomia minimamente
invasiva.
28 março 2018 www.revdesportiva.pt
Figura 3a e 3b – Hematoma extenso do
membro pós-fasciotomia minimamente
invasiva.
Embora nem todos os doentes
alcancem um alívio completo da
sintomatologia após a cirurgia, as
taxas de retorno à atividade física
são bastante elevadas, com bons
resultados clínicos a curto prazo. 1
A patologia, só por si, não parece