Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2018 | Page 26

entanto , é comummente descrito na literatura como uma flexão plantar forçada e / ou abdução com o pé em contacto com o solo numa posição equina como sendo o mais comum . 7
A classificação de Quenu e Kuss tem sido utilizada desde que foi descrita no início do século XX , sendo dividida em 3 tipos : homolateral , isolada e divergente . Mais recentemente , Nunley e Vertullo desenvolveram uma classificação considerando a população desportiva e baseada no raio-x ( RX ) em carga . Esta classificação compreende três tipos : 8 , 9
• tipo 1 – o atleta que consegue suportar carga , mas não tem capacidade para a prática desportiva e não são visualizadas alterações no RX
• tipo 2 – existe diástase entre o primeiro e segundo metatarsos de 1 a 5mm , sem o colapso do arco longitudinal no RX lateral
• tipo 3 – apresenta diástase e colapso do arco longitudinal .
O doente apresenta-se na fase aguda com dor e edema no mediopé , com limitação parcial ou total na marcha em carga . A presença de equimose na região plantar é fortemente suspeita de lesão estrutural . O sinal do “ piano ” pode estar presente e consiste na proeminência dorsal das bases dos metatarsianos , que é reduzida com a pressão plantar exercida . 10-12
Imagiologicamente , no RX ântero- -posterior a face medial do segundo metatarso deve estar alinhada com a face medial do cuneiforme intermédio , assim como no RX oblíquo a face medial do cuboide deve intersectar a face medial do quarto metatarso . No RX de perfil em carga deve existir
alinhamento entre a região dorsal do primeiro metatarso e do cuneiforme medial . A comparação com o pé contralateral deve ser obtida para melhorar a acuidade diagnóstica . Adicionalmente , a presença de diástase na região da base deve levantar suspeita relativamente a possível lesão sempre que o valor for superior ou igual a 2mm . O RX em stress apresenta um papel controverso na literatura . 10 , 13 A tomografia computadorizada também pode desempenhar um papel relevante , especialmente em lesões ósseas mais complexas típicas de traumas de alta energia . 13-15 A ressonância magnética apresenta um papel preponderante nas de lesões ligamentares , tanto na caracterização , como na própria
10 , 13 identificação das mesmas .
O tratamento conservador consiste na imobilização gessada suropodálica ou com ortótese durante seis semanas sem carga , sendo que a partir deste ponto , e consoante as queixas álgicas do doente , pode ser permitida a progressão gradual da atividade física , acompanhada por fisioterapia ou , caso ainda existam queixas álgicas , um período de mais quatro semanas com nova ortótese . 9 , 16 Na população desportista o tratamento conservador permanece controverso e está reservado para lesões estáveis e não luxadas . São poucos os estudos na população desportista relativamente a esta lesão . No entanto , diversos apontam este método como compatível com sucesso , apesar de mais recentemente ser associado a um maior risco de falência . 9 , 16-18
O tratamento cirúrgico na população desportista apresenta bons
resultados na literatura com elevadas taxas de retorno à atividade desportiva . Alguma controvérsia existe quanto ao tipo de fixação utilizada ( parafusos , placa e parafusos ou fixação com sistema elástico com botão ). Biomecanicamente não parece existir , aparentemente , uma diferença entre a fixação apenas com parafusos ( Figura 4 ) ou placa e parafusos . Porém , a fixação com sistema elástico com botão apresenta resultados conflituosos na literatura . Uma preocupação pertinente e sustentada na literatura é relativamente ao dano articular causado pelos parafusos transarticulares e a evolução de alterações degenerativas , assim como a capacidade de se atingir uma redução anatómica em ambas as técnicas , estando por vezes descrita uma melhor redução com a utilização de placa e parafusos .
10 , 19 , 20
A artrodese primária é descrita na literatura em diversas circunstâncias , incluindo na população desportista , reportando-se resultados díspares . Um dos problemas subjacentes para esta questão prende-se com o facto de na população desportista a maioria das lesões serem de caráter ligamentar e , por diversas vezes , os resultados descritos na literatura serem referentes a populações com lesões ósseas secundários a traumas de alta energia ( contrariamente aos acidentes mais comuns na prática desportiva ). A opinião dos autores , em relação à artrodese primária em lesões puramente ligamentares na população atlética , é de que não deve ser realizada , sendo esta opinião sustentada pela literatura científica
10 , 21
.
A reabilitação após cirurgia apresenta valores altamente variáveis na literatura ( entre 3 e 8 semanas )
Figura 2 – Exemplificação do modelo clássico do mecanismo de lesão .
Figura 3 – Radiografia do pé com lesão de Lisfranc .
Fugura 4 – Radiografia do pé após tratamento cirúrgico .
24 março 2018 www . revdesportiva . pt