Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2018 | Page 22
Revista Medicina Desportiva informa, 2018; 9(2):20-22. https://doi.org/10.23911/Vol.9Iss.2Mesoterapia
Mesoterapia na Patologia
Musculoesquelética
Dr. Pedro Miguel Tavares Prata
Pós-graduação Medicina Desportiva, S. C. S. João Ver; IFE de Medicina Geral e Familiar, UCSP Anadia I
RESUMO / ABSTRACT
A dor é um sintoma desagradável que, mais cedo ou mais tarde, atinge qualquer Ser
Humano. Existem várias alternativas no combate à dor, quer farmacológicas, quer não
farmacológicas. A mesoterapia consiste na administração de pequenas doses de misturas
de fármacos na pele, o mais perto possível da lesão, permitindo a diminuição dos efeitos
secundários associados aos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) usados na sintoma-
tologia dolorosa. Existem várias teorias que explicam o mecanismo de ação desta técnica
cada vez mais usada na patologia musculoesquelética. Os estudos apresentados demons-
tram o seu benefício e eficácia na patologia orto-traumática, reumatológica e desportiva
através d o uso de fármacos analgésicos e miorrelaxantes. A mesoterapia é uma arma tera-
pêutica adicional e alternativa a outros tratamentos habituais usados no controlo da dor.
Pain is an unpleasant symptom that sooner or later hits any Human Being. There are several
alternatives to relieve the pain, pharmacological and non-pharmacological. Mesotherapy is the
administration of small doses of drug mixtures in the skin as close as possible to the injury, allow-
ing a decrease on the side effects associated with non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs)
prescribed for the painful symptomatology. There are several theories that explain the mechanism of
action of this technique, increasingly used in the musculoskeletal pathology. The published studies
demonstrate its benefit and efficacy in the orthotraumatic, rheumatologic and sports pathologies
with the use of analgesic drugs and myorelaxants. Mesotherapy is an additional therapeutic meas-
ure and alternative to other usual treatments prescribed for the treatment of pain.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Dor, mesoderme, analgesia, doses baixas, eficácia
Pain, mesoderm, analgesia, low doses, efficacy
A dor é um sintoma desagradável
vivenciado pelo Homem, indepen-
dentemente do seu caráter agudo ou
crónico, neste caso, quando persiste
mais de três meses. 1,2 A dor crónica
é um estado frequente, afetando
aproximadamente 20% da popula-
ção mundial, contabilizando 15-20%
das consultas médicas. 2
Na Europa, os anti-inflamatórios
não esteroides (AINEs) são a pri-
meira linha terapêutica no combate
à dor, associados a terapêuticas não
farmacológicas, nomeadamente o
exercício físico, a fisioterapia e a
acunpuntura. 3 Os efeitos adversos
dos AINEs por via sistémica 3 , nomea-
damente toxicidade gastrointesti-
nal, disfunção renal, complicações
cardiovasculares, especialmente em
idosos, faz da mesoterapia, caso bem
tolerada, uma técnica alternativa no
combate à dor. 3,4
A mesoterapia teve início na
década de 50 do século passado,
fundada pelo médico francês, Michel
Pistor, que a definiu como a “injeção
de medicamentos em doses muito
20 março 2018 www.revdesportiva.pt
baixas na pele, o mais perto possível
da lesão ou da sua origem, onde se
exprime a dor,” e “com o mínimo
de efeitos indesejáveis”. Em 1964,
fundou a Sociedade Francesa de
Mesoterapia. 5
Existem diversas teorias sobre o
mecanismo de ação desta técnica 6,7 :
• Teoria Pistoriana
• Teoria microcirculatória de Bicheron
• Teoria da mesoderme ou das três
unidades de Dalloz – Bourguignon
• Teoria da mesoterapia pontual
sistematizada de Mrejen
• Teoria da terceira circulação de
Multedo
• Teoria unificada de Kaplan
• Teoria da mesoterapia energética
de Ballesteros.
Estas microinjeções de fármacos
produzem uma distensão mecâ-
nica dos tecidos circundantes e das
fibras sensitivas. Ao mesmo tempo,
a agulha ativa os recetores cutâ-
neos (arco reflexo), aumentando os
níveis de endorfinas após a “picada”
da agulha, apesar desta hipótese
ainda não estar completamente
confirmada. 3 Nenhuma das teorias
atrás referidas esclarece, por si só, o
mecanismo de ação da mesoterapia.
No entanto, cada uma delas explica
parte de um todo. 7
A prática correta desta técnica
requer conhecimento clínico e
farmacológico, nomeadamente dos
fármacos a administrar, bem como
dos cuidados de assépsia. 8
A mesoterapia pode ser aplicada
pela técnica manual ou pela técnica
assistida. A primeira é realizada com
uma seringa e agulha, já a segunda
usa um suporte para a seringa – a
pistola, mira e válvula anti-refluxo.
Quando comparadas, a primeira é
mais dolorosa, a profundidade da
injeção não é constante e a dose não
é uniforme. 6
Podemos ainda subdividir as
técnicas de aplicação em quatro
categorias 6 :
• Em rajada ou nappage – 2 a 4 inje-
ções, de 2 a 4mm de profundidade
espaçadas 2 a 4mm entre si
• Contínua de pequeno volume –
0,05ml
• Contínua de grande volume –
pápula intradérmica
• Hipodérmica – 4 a 10mm de pro-
fundidade.
O objetivo desta técnica é a
modelação da farmacocinética das
substâncias ativas injetadas, de
modo a prolongar o efeito farma-
cológico a nível local. 3 Binaglia, em
1981, revelou que microinjeções de
cetoprofeno de sódio intradérmicas
tinham uma ação mais duradoura
do que a respetiva injeção intramus-
cular, demonstrando igualmente
que, quando injetado a uma pro-
fundidade superior a 10mm, per-
manecia menos tempo nos tecidos,
chegando mesmo a atingir a circula-
ção sistémica. 8,9
Um estudo mais recente, de 2011,
demonstrou que a injeção intradér-
mica da hormona recombinante
folicular humana (rhFSH), quando
injetada a nível abdominal com uma
profundidade de 1-2mm em vez de
uma administração subcutânea de
10-13mm, aumentava a absorção da
FSH, permitindo manter os níveis de
FSH elevados, durante mais tempo e
com menos efeitos adversos. 10
Para combater a dor, associada à
patologia musculoesquelética,