Tema 1
Revista Medicina Desportiva informa , 2018 ; 9 ( 2 ): 12-15 . https :// doi . org / 10.23911 / Vol . 9Iss . 3TunelCarpico
Síndrome do Túnel Cárpico na Atividade Desportiva
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João L Pinheiro , 2 Prof . Doutor João Pinheiro , 3 Dr . Armando Rocha
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Interno de formação específica de Neurocirurgia ; 2 Médico de Medicina Física e Reabilitação , Medicina Desportiva ; 3 Assistente hospitalar sénior de neurocirurgia . Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra .
RESUMO / ABSTRACT
Apesar de ser uma síndrome canalar pouco comum em atletas , o conhecimento teórico e abordagem clínica desta neuropatia periférica não deve ser menosprezada . A incapacidade funcional e a perda de performance desportiva são consequências comuns . As modalidades associadas a movimentos repetitivos do punho ou à utilização de acessórios , tais como cadeira de rodas , halteres , arco ou tacos são as que mais frequentemente predispõe a esta patologia . A terapêutica da lesão divide-se entre a abordagem conservadora e a cirúrgica . Apesar da retoma competitiva ser exigente , a síndrome do túnel cárpico tem bom prognóstico particularmente quando diagnosticado e tratado precocemente .
Despite being a rare entrapment syndrome in athletes , the knowledge of this peripheral neuropathy should not be overlooked . Functional disability and loss of performance are common consequences . The modalities associated with repetitive wrist movements or the use of accessories such as wheelchairs , dumbbells , bows or cleats are the ones that most frequently predispose to this pathology . The treatment of the lesion is divided between the conservative and the surgical approach . Although the competitive recovery is demanding carpal tunnel syndrome has a good prognosis particularly when diagnosed and treated early .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Nervo mediano , túnel cárpico , síndrome de conflito , desporto . Median nerve , carpal tunnel , entrapment , sports .
Introdução
Descrito pela primeira vez em 1854 pelo cirurgião e patologista James Paget 1 , a síndrome do túnel cárpico ( STC ) é uma mononeuropatia por compressão mecânica e consequente aprisionamento do nervo mediano ( NM ) na sua porção distal , ao nível do túnel do carpo ( TC ). 2 Está presente em 3,8 % da população geral , correspondendo a 90 % de todas as neuropatias periféricas . 3 É a lesão mais comum do nervo mediano e apresenta-se geralmente como uma neuropraxia .
O mecanismo físico responsável pelas neuropatias periféricas ( NP ) pode ser dividido em alta , média ou baixa energia . O mecanismo de aprisionamento ou conflito do nervo periférico está incluído nas lesões traumáticas de baixa energia . 4
A classificação morfológica da lesão do nervo , inicialmente criada por Seddon , foi posteriormente substituída pela de Sunderland . Esta última é constituída por cinco grupos , organizados por ordem crescente de gravidade : 5
• Grau I ( Neuropraxia ) – bloqueio da condução nervosa e reação inflamatória ao longo da bainha de mielina , sem alterações da microanatomia ou degeneração axonal ;
• Grau II ( Axonotmese ) – Lesão axonal , mas preservação do endoneurium ;
• Grau III ( Axonotmese ) – Lesão axonal e concomitante do endonerium ;
• Grau IV ( Axonotmese ) – Lesão axonal associada a lesão do endoneurium e perineurium ;
• Grau V ( Neurotmese ) – transecção completa do nervo .
Etiologia
Os fatores etiológicos responsáveis pelo STC são múltiplos . Fatores intrínsecos , como o género feminino , a história familiar , uma estenose constitucional do TC ou um retináculo dos flexores espesso , são causas a considerar . Estão em curso vários estudos com o intuito de se perceber o papel dos genes responsáveis pela produção de proteínas do tecido conjuntivo , tais como o colagénio tipo V . 6 , 7
Fatores metabólicos , como a diabetes mellitus tipo I e II , a amiloidose , o hipotiroidismo e as doenças autoimunes , devem também ser tidos em conta . 6 A gravidez pode por si só despertar esta patologia . 8 A toma de fármacos , tais como a hormona de crescimento ou os contracetivos orais , podem induzir a lesão . 9 A prática desportiva é também um fator de risco para STC , considerando os movimentos repetidos e de “ overuse ” dos músculos flexores do antebraço , o uso de instrumentos / acessórios , a patologia traumática direta entre outros . 10
Anatomia do nervo periférico
A microanatomia do nervo periférico tem uma organização similar à das fibras musculares esqueléticas . A envolver o nervo está o epineurum externo . Dentro do nervo identificam-se grupos de fascículos suportados pelo epineurum interno . Cada fasciculo é envolvido pelo perineurum e constituído por axónios rodeados pelo endoneurium . Cada axónio é coberto por uma camada de mielina , produzida pelas células de Schwann . A bainha de mielina não é continua sendo intercalada por regiões desmielinizadas , denominadas Nódulos de Ranvier . Ressaltar ainda a existência da barreira nervo-sangue , formada pelas células do perineurum e pelas células endoteliais endoneurais dos microvasos que acompanham o nervo mediano , ramos da artéria ulnar e radial . 11
Anatomia do túnel cárpico
O TC é uma área osteofibrosa na porção anterior do punho . Localiza-se entre o retináculo dos flexores ( RF ) e os ossos do carpo . O ligamento carpal transverso , parte intermédia do RF , corresponde ao limite superior do túnel . Insere-se medialmente no osso pisiforme e no gancho do hamatum e lateralmente no tubérculo do navicular e trapézio . Os ossos carpais e os vários ligamentos que os unem correspondem ao seu pavimento . O TC tem 4-6 cm de comprimento , 3-4 cm de largura e 2,5-3,5 mm de espessura .
12 março 2018 www . revdesportiva . pt