Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2018 | Page 10

Decorreu em novembro, no Funchal, a 4.ª Reunião Científica Gonartrose e Medicina Desportiva. O Dr. Pedro Pessoa, responsável da Unidade Joe- lho do Hospital Sant`Iago do Outão, e coordenador do evento, referiu que a osteoartrose era considerada uma patologia exclusivamente associada ao envelhecimento e à população idosa, mas “a doença está cada vez mais relacionada com o desporto de alta competição” e entre 1990 e 2010 houve um crescimento exponencial dos doentes mais novos com artrose generalizada, nomeadamente do joelho e “quando este tipo de lesões da cartilagem ocorre nos atletas, o tratamento pode ser complexo, na medida em que a grande preocupa- ção passa pelo regresso à atividade física”. Muitos doentes continuam a pedir a colocação de prótese, mas antes de chegarmos à prótese temos outras soluções”. A viscossuplemen- tação é uma dessas soluções e já demonstrou eficácia no controlo da dor e na melhoria da funcionalidade. “Além disso, permite que seja atra- sado o recurso a tratamento cirúr- gico. Seja qual for a decisão terapêu- tica, “a nossa preocupação é tratar as lesões da cartilagem o melhor possível, com todos os materiais a que temos acesso”, sublinhou. Resu- mindo, “o grande desfio é encontrar 8 março 2018 www.revdesportiva.pt as melhores combinações. Aque- las que se traduzem em maiores benefícios para o doente. Em casos em que há inflamação ativa, recor- remos primeiro aos corticoides e só depois fazemos a infiltração de ácido hialurónico”. Se o doente não tiver qualquer tipo de sinovite e se tem o joelho seco, podemos fazer logo a infiltração viscossuplementação. “A combinação de PRP com ácido hialurónico também parece pro- missora”. Atenua a degenerescência da cartilagem e tem fatores anti- -inflamatórios, ao passo que o ácido hialurónico aumenta a duração dos PRP e funciona como um fio condu- tor”, adiantou o Dr. Pedro Pessoa. Com uma vasta experiência no tratamento de artrose em atletas, o Prof. Doutor José Carlos Noro- nha sublinhou que a artrose do joelho é uma consequência relati- vamente frequente do desporto de alta competição. “O futebol, em si, é uma modalidade que predispõe às lesões”. O aumento da incidên- cia deste tipo de lesões em atle- tas prende-se com o aumento da competitividade e das exigências a que estão atualmente sujeitos. Pelo que, a possibilidade de lesão, de micro ou macro traumatismo é muito significativa. “Mesmo não contando com algumas lesões graves, os traumatismos por repe- tição vão degradando o joelho”, adiantou o ortopedista do Porto. A par do risco associado à atividade desportiva, e independentemente das sobrecargas, há indivíduos que estão predispostos ao aparecimento dessa deformação cartilagínea por apresentarem outros fatores de risco como as lesões do ligamento cruzado, do menisco, a fadiga, e a descoordenação muscular. Por outro lado, há também o peso da heredita- riedade. “Quem tem pais portadores de gonartrose, mesmo sem terem sofrido lesões graves, é de prever que, em 25%, os filhos vão desenvol- ver também”, referiu. No entanto, “uma artrose radiologicamente extensa, nem sempre corresponde a sintomatologia grave. Assim como as queixas dolorosas dos doentes nem sempre correspondem a lesões radiológicas graves”. É por isso que, segundo o Prof. Doutor José Carlos Noronha, “não se devem operar Raio-X, mas sim doentes”. Por outras palavras, só devem ser tratados os doentes que apresentam queixas. Na origem da dor e da incapacidade funcional, não está necessariamente a lesão apresentada em Raio-X, mas sim os chamados “mediadores pró- -inflamatórios”, nomeadamente as interleucinas. Pela primeira vez houve a partici- pação de um psiquiatra. As fron- teiras da patologia osteoarticular podem passar dos ossos e articu- lações para o cérebro, gerando um quadro depressivo e de ansiedade. Os estudos epidemiológicos demons- tram exatamente isso. “Na popu- lação global, de acordo com dados de 2015 da Organização Mundial de Saúde, a incidência de depressão é de 4,4%. O que significa que mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo têm depressão. Na popula- ção com osteoartrose, a incidência de depressão é de 18% e alguns estu- dos sugerem que pode chegar aos 40%”, afirmou o Dr. Gustavo Jesus, psiquiatra, atualmente a concluir o seu doutoramento na Faculdade de Medicina de Lisboa. “Em doentes com osteoartrose que revelam sinais de depressão, é muito importante a implementação de tratamento concomitante para a depressão, para que o peso da incapacidade não seja tão relevante e para que o peso económico que estas doenças representam seja também aliviado”, defendeu o Dr. Gustavo Jesus, acrescentando que a osteoartrose é causa de depressão, provavelmente, não só pela dor que acarreta, mas também pela perda de funcionalidade. Por outro lado, a existência de depressão agrava o prognóstico da osteoartrose e da patologia osteoar- ticular, em geral. “Está também demonstrado que os doentes com osteoartrose e depressão têm uma menor adesão ao tratamento. Pouco falado nestas reuniões, o consentimento informado repre- senta uma fonte de preocupação para todo s os cirurgiões ortopédicos e foi aqui abordado pelo Dr. António