Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2013 | Page 32

Rev . Medicina Desportiva informa , 2013 , 4 ( 3 ), pp . 30 – 31

Olhar e ver

O alinhamento do joelho

Dr . André Bahute 1 , Dra . Ana Rita Gaspar 2 , Dr . Pedro Marques 2 , Prof . Dr . Fernando Fonseca 3
1
Interno de Ortopedia no CHUC ; 2 Especialista em Ortopedia no CHUC ; 3 Diretor de Serviço de Ortopedia do CHUC / Professor Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra ; Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra .
RESUMO / ABSTRACT
O alinhamento do joelho pode ser analisado através de pangonogramas em carga e avaliado segundo vários índices angulares , como o ângulo HKA , CH , PA e CP . O alinhamento é multifatorial , dependendo da geometria do fémur e da tíbia , assim como das suas superfícies articulares . O impacto do alinhamento no desenvolvimento de gonartrose é controverso , mas a avaliação seriada radiográfica do membro inferior permite aferir a progressão da osteoartrose .
Knee alignment can be analyzed using standing long leg radiographs and it is characterized through several angular elements , such the HKA , CH , PA and CP angles . Limb alignment depends on multiple factors , namely femoral and tibial geometry , as well as the geometry of their articular surfaces . The impact of knee alignment on the development of osteoarthritis is still controversial , but repeated radiographic evaluations over time may help to assess the development of the disease .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Joelho , biomecânica , alinhamento , eixo mecânico . Knee , biomechanics , alignment , mechanical axis .
Introdução
O alinhamento do joelho tem uma importância que deve ser cada vez mais valorizada em face dos estudos atualmente disponíveis . O estudo desta variável é útil , não só no diagnóstico e seguimento de patologia articular , assim como planeamento pré-operatório de intervenções sobre esta articulação e na apreciação do resultado final 1 .
Estudo imagiológico
A avaliação do alinhamento do joelho faz-se por meio da observação clínica do doente e do estudo imagiológico do membro inferior . O panganograma permite obter uma imagem radiográfica de toda a extensão do membro inferior e , por isso , é o exame padrão para determinar o alinhamento do membro inferior . A radiografia deve ser efetuada em carga e o plano de flexão e extensão deve estar orientado com o plano ântero-posterior .
Em 2007 , Cooke et al 2 propôs um sistema para uniformização das designações e medições angulares do joelho , numa tentativa de padronizar a nomenclatura utilizada . De acordo com o seu modelo , o alinhamento do joelho pode ser determinado no pangonograma através de uma linha reta imaginária que liga o centro da cabeça femoral ao ponto médio da superfície articular distal da tíbia . Esta linha denomina- -se eixo mecânico do membro inferior ( load bearing axis – LBA ), idealmente deverá cruzar o centro do joelho e é considerado o eixo mais preciso para definir a direção da transmissão de forças através do membro inferior . De acordo com esta definição , serão valgos os joelhos que se encontrem medialmente ao eixo mecânico do membro inferior e varos os que se situem lateralmente .
O eixo mecânico do fémur segue uma linha reta que une o centro da cabeça femoral e o ponto médio entre as espinhas da tíbia , habitualmente designado como o centro do joelho . Por sua vez , o eixo mecânico da tíbia desenha-se desde o centro do joelho e o ponto médio da articulação tibioastragalina . O ângulo medial formado pela intersecção destas duas linhas denomina-se ângulo anca-joelho-tornozelo ( hip- -knee-ankle – HKA ) e representa o alinhamento no plano coronal do membro inferior .
O ângulo HKA pode ser decomposto em três componentes angulares :
1 . o ângulo entre a superfície articular dos côndilos femorais e o eixo mecânico do fémur , denominado ângulo côndilo- -anca ( condylar-hip – CH );
2 . o ângulo entre o planalto tibial e o eixo mecânico da tíbia , designado como ângulo planalto-tornozelo ( plateau-ankle – PA ); 3 . o ângulo entre as duas superfícies articulares ou ângulo côndilo-planalto ( condylar-plateau – CP ).
O ângulo HKA é expresso em graus de desvio dos 180 °, enquanto os ângulos CH e PA são expressos como desvio dos 90 °. A relação entre estes parâmetros pode ser demonstrada pela fórmula HKA = [ CH + PA ] + CP . Este ângulo é , por convenção , negativo em joelhos varos e positivo nos valgos e idealmente deverá ser de 0 °, ou seja , centrado no eixo mecânico do membro inferior . Na população geral , porém , o ângulo HKA é ligeiramente negativo e as duas superfícies articulares convergem medialmente com um ângulo CP de aproximadamente 1 °, o que traduz a normal menor altura do espaço femorotibial medial . Por seu lado , a entrelinha articular tem cerca de 3 ° de varo em relação ao eixo mecânico do membro inferior .
O eixo anatómico do fémur ( FS ) corresponde a uma linha que une o ponto médio da largura da diáfise ao centro do joelho ou , em alternativa , a um outro ponto 10 cm acima do centro da articulação do joelho . Na tíbia , o eixo anatómico , divide longitudinalmente o terço médio da tíbia e , em joelhos normais , é coincidente com o eixo mecânico . De acordo com o estudo de Hinman et al 3 , o eixo FS pode ser utilizado para calcular o eixo mecânico , uma que vez que fazem entre si um ângulo relativamente constante de cerca de 5 °. Contudo , a presença de deformidades do fémur pode introduzir erros significativos nesta medição e , portanto , apenas o pangonograma poderá dar uma perspetiva fidedigna para a medição do eixo mecânico .
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