Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2018 | Page 24

Rev. Medicina Desportiva informa, 2018; 9 (4):22-26. https://doi.org/10.23911/Resumos_Curso_Coimbra_2_Jan_2018 XXVIII Curso de Reabilitação e Traumatologia do Desporto Coimbra, 27 janeiro 2018 Organizadores: Prof. Doutor J. Páscoa Pinheiro, Dr. Pedro Lemos Pereira Dr. A. Pereira de Castro. Ortopedia, Lisboa. Fraturas com atingimento da cartilagem de crescimento. Tratamento e Complicações As fraturas são muito frequen- tes em crianças, sendo mais frequentes no sexo masculino. Podem resultar de um trau- matismo direto ou indireto. Os ossos longos das crianças têm epífises e cartilagens de cresci- mento que parece serem o elo mais fraco do esqueleto da criança. Uma fratura pode definir-se como uma solução de continuidade num osso, o que é verdade num adulto, mas já não o será numa criança ou adolescente, pois pode corresponder à cartilagem de crescimento ou fise. Quando a fratura atinge a cartilagem de crescimento chama-se epifisiólise. A cartilagem de crescimento (fise ou physe) é uma estrutura biológica entreposta entre a epífise e diáfise dos ossos longos. É uma estrutura mecanicamente mais frágil, consti- tuída por quatro camadas celulares: camada basal, camada proliferativa ou colunar, camada hipertrófica e zona de ossificação provisória. As epífises e as fises são estruturas em que a normal anatomia deve ser preservada. Daí o dilema: as fises, a parte mais fraca dos ossos e o local de muitas fraturas na criança, também são as estruturas que devem ser mantidas em condições mais normais possível para evitar a para- gem de crescimento e deformações angulares. O diagnóstico é baseado no exame clínico, mas necessita sempre de um exame radiológico, mais do que qualquer outro exame complementar (TAC ou RM). Uma fratura acompanha-se de uma histó- ria de traumatismo, dor e impotência 22 julho 2018 www.revdesportiva.pt funcional, edema e deformação e, nos casos mais graves, pode notar-se mobilidade do foco de fratura. Note- -se que a presença de um movimento ativo indolor do membro não afasta e possibilidade de uma fratura. A suspeita de uma fratura implica a imobilização imediata do membro e o encaminhamento para um serviço de urgência. Se for uma fratura exposta, deve limpar-se a ferida e tapá-la com uma compressa ou pano limpo. Quanto à localização podem ser na diáfise, epífise ou a metáfise. Quanto à orientação do traço de fratura podem ser transve rsais, oblíquas, helicoidais e esquirolosas. Classifica- ção: Para as lesões epifisárias existem várias classificações para estas lesões: Weber, Poland, Ogden, mas a mais utilizada e consensual é a de Salter-Harris. Devemos tentar sempre classificar a epifisiólise, pois o tipo de lesão é a base do tratamento e do prognóstico da evolução. Na classifi- cação de Salter-Harris as epifisiólises classificam-se em 5 tipos: Tipo I – A rotura dá-se transversal- mente, através da área de transição da camada hipertrófica e de ossifi- cação provisória, seguindo o plano destas camadas, não atingindo as camadas basal e proliferativa; Tipo II – a rotura dá-se transversal- mente de forma semelhante ao tipo I, mas a partir de certa altura o traço de fratura inflete-se para a metáfise, originando um fragmento triangular (triângulo de Holland). Também neste caso não há lesão das camadas basal nem proliferativa; Tipo III – a rotura inicia-se igual- mente pela camada hipertrófica e de ossificação provisória e inflete-se para a epífise, atravessando as camadas proliferativa e basal, a epífise, e atinge a superfície articular. Neste tipo de lesão todas as camadas da cartilagem de crescimento são atingidas Tipo IV – lesão semelhante à anterior, mas o traço de fratura prolonga-se no sentido da metáfise, originando um fragmento triangular. Tal como no tipo III, todas as camadas da fise e a epífise são atingidas; Tipo V – esta é originada por forças de compressão que esmagam as diver- sas camadas celulares da cartilagem de crescimento. Não existe propria- mente um traço de fratura, mas sim o esmagamento das camadas celu- lares. Prognóstico. Esta classificação das epifisiólises permite fazer um prognóstico da gravidade da lesão: se nos tipos I e II o prognóstico é bom, já nos tipos III, IV e V existe a possibili- dade de complicações. Na fratura que envolva a cartilagem de crescimento, os pais devem ser alertados para os eventuais riscos de distúrbios de crescimento. Tratamento. Do mesmo modo esta classificação das epifisió- lise ajuda a planear o tratamento: se nos tipos I e II o tratamento conser- vador é aconselhado, já nos tipos III e IV há a hipótese de tratamento cirúrgico para se conseguir uma boa redução da fratura. O tratamento da maior parte das fraturas da criança é essencialmente ortopédico, baseado na redução manual, tração e/ou imobilização gessada. As manobras de redução fechada destas fraturas devem ser cuidadosas e gentis para evitar a lesão ou esmagamento da fise. Se a redução for fácil é necessá- rio controle radiológico regular para despistar deslocamentos. O osso é forrado por uma membrana espessa, o periósteo, o qual estando integro serve de guia à redução e estabili- zação da fratura. Desvios angulares de 20° são aceitáveis pelo processo de remodelação do calo ósseo, assim como os encurtamentos também são aceites por maior estimulação de crescimento do osso fraturado. O tratamento cirúrgico é raro e tem indicações muito precisas. Deve ser realizado muito precocemente, por causa do tipo e da localização. A osteossíntese das fraturas em crianças tem as suas próprias exigên- cias que devem ser absolutamente respeitadas. Algumas destas fraturas, chamadas fraturas de necessidade, o tratamento cirúrgico é na maior parte dos casos necessário: côndilo externo do úmero, colo do fémur e a epífise distal da tíbia. Complicações. A complicação duma epifisiólise a eventual lesão da cartilagem de cres- cimento. Desde a formação de pontes