Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2018 | Page 20
podem não ter a ver diretamente
com a artroplastia, mas com as
restrições que os próprios cirurgiões
impôem aos pacientes submetidos
a artrodese, apenas permitindo
atividade física sem restrições após
confirmação imagiológica da con-
solidação da artrodese. Por sua vez,
não existe um limite radiológico de
segurança para atividade física sem
limitações nas artroplastias discais,
sendo difícil para os cirurgiões não
permitirem a sua prática após estar
verificada a resolução completa
dos sintomas. Este estudo destaca
também a importância da aplicação
de rigorosos critérios de seleção de
pacientes com indicação correta
no sucesso da artroplastia discal,
referindo que esta pode ser uma
excelente opção quando se pretende
um regresso mais rápido à atividade
física.
Os autores propõem algoritmos
para regresso à prática desportiva
após artroplastias discais 5 :
• Para as artroplastias discais
cervicais sugerem que o paciente
pode iniciar atividade física sem
impacto durante o 1.º mês de pós-
-operatório quando já não têm dor
ou não necessitam de analgésicos.
Durante o 2.º mês iniciam progres-
sivamente atividade com impacto
ligeiro. Se estiverem assintomá-
ticos, com mobilidade da coluna
cervical preservada nas radiogra-
fias dinâmicas e se não existirem
quaisquer complicações com a
prótese, os pacientes são autoriza-
dos a partir do 3.º mês a praticar
atividade física sem qualquer res-
trição, o que inclui atividades de
elevado impacto e de contacto;
• Para as próteses discais da coluna
lombar, sugerem início de ativi-
dade física sem impacto quando
assintomáticos ou sem necessi-
dade de analgésicos, o que acon-
tece tipicamente apenas após o 3.º
mês de pós-operatório. Durante o
4.º e 5.º meses é iniciado exercício
com ligeiro impacto e se todas as
condições referidas previamente
para as artroplastias cervicais
estiverem reunidas é permitido
exercício físico sem restrições
apenas após o 6.º mês.
Um estudo alemão, realizado em
51 pacientes praticantes de desporto
submetidos a artroplastia discal
18 julho 2018 www.revdesportiva.pt
cervical, verificou que a maioria
regressou à prática desportiva
competitiva em apenas 11 semanas,
tendo iniciado os treinos poucos
dias após a intervenção cirúrgica 49 .
Os autores referem mesmo que dois
atletas do seu estudo ganharam
medalhas apenas quatro meses
após a cirurgia e que um paciente
que não praticava desporto antes
da cirurgia começou a praticar. O
tempo de seguimento médio foi de
4 anos e os autores referem que
não identificaram quaisquer com-
plicações, estando todos os pacien-
tes com a coluna cervical móvel e
indolor.
Atualmente não existe evidência
científica suficiente acerca do tipo
e do nível de intensidade de prática
desportiva que deve ser recomen-
dada ou evit ada após uma artro-
plastia discal de modo a não afetar
a duração da neo-articulação 5 .
Nenhum dos estudos existentes tem
tempo de seguimento suficiente
para se poder concluir acerca dos
efeitos do exercício físico nas pró-
teses discais. O objetivo passa por
encontrar um equilíbrio que garanta
os benefícios da atividade física, ao
mesmo tempo não prejudique de
forma significativa a duração da
artroplastia 34,36 .
Recomendações gerais atuais
A ausência atual de estudos pros-
petivos aleatorizados de grande
dimensão com avaliação da duração
das artroplastias discais leva a que a
conduta corrente em relação à prá-
tica desportiva nestes pacientes seja
apenas baseada na opinião de espe-
cialistas no tema, havendo portanto
um reduzido nível de evidência
científica 3,34 . O fundamental é ana-
lisar caso a caso, discutir pré-ope-
ratoriamente os objetivos e expe-
tativas do paciente e procurar que
o tipo de tratamento cirúrgico e de
reabilitação efetuados os permitam
adequar aos resultados finais 35,38,50,51 .
Os pacientes devem ser encorajados
a manterem-se fisicamente ativos,
mas aqueles que desejam prati-
car desportos de alto impacto, de
contacto ou ao nível de competição
devem ser informados e compreen-
der os riscos teoricamente associa-
dos a essa prática, particularmente
em termos de migração e de des-
gaste do implante, com consequente
necessidade de cirurgia de revi-
são precoce. A decisão de praticar
determinado desporto deve ser do
paciente, após ponderação entre
riscos e benefícios na posse de toda
a informação necessária 34,38,42,43,50 .
Além disso, estes pacientes devem
ter um controlo clínico-radiológico
assíduo da sua artroplastia discal,
de modo a detetar e intervir pre-
cocemente nas complicações que
possam surgir 38 . São necessários
estudos prospetivos multicêntricos a
longo prazo e com maior número de
pacientes, de modo a poder identifi-
car os riscos da atividade física sobre
as próteses discais 3 .
Nota: Os autores declaram não existir
qualquer conflito de interesses.
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Restante Bibliografia em:
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