Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2018 | Page 17

Tema 1

Rev . Medicina Desportiva informa , 2018 ; 9 ( 4 ): 15-18 . https :// doi . org / 10.23911 / artroplastia _ discal

Artroplastia Discal e Prática Desportiva

Dr . Diogo Moura 1 , Dr . Marcel Sincari 2 , Prof . Doutor Fernando Fonseca 3
1
Médico interno complementar de Ortopedia e Traumatologia ; 2 Especialista em Neurocirurgia ; 3 Diretor do Serviço de Ortopedia e Traumatologia . Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra .
RESUMO / ABSTRACT
Apesar da crescente da popularidade da artroplastia discal , sobretudo em pacientes novos e ativos para o tratamento da discopatia degenerativa sintomática , atualmente ainda não existe evidência científica consistente acerca dos seus benefícios em comparação com o clássico tratamento , a artrodese intersomática . Alguns estudos atuais , e apesar de existir alguma controvérsia , afirmam que a artroplastia discal tem indicações rigorosas e está associada a uma coluna mais funcional e móvel , garantindo menos doença do disco adjacente e um regresso à atividade física mais precoce em comparação com a artrodese . Em teoria , os desportos de alto impacto , de contacto e os praticados ao nível de competição podem induzir cargas axiais e rotacionais repetidas e intensas sobre a coluna e a prótese discal , o que pode estar associado a risco superior de falência precoce da artroplastia . Neste artigo apresentamos a evidência científica atual sobre a biomecânica e os resultados clínicos das artroplastias discais , bem como os poucos estudos sobre a aplicação destes implantes em praticantes de atividade física .
Despite the increasing popularity of disc arthroplasty in predominantly young and active patients for treatment of symptomatic degenerative disc disease , currently there is still no strong scientific evidence about its benefits in comparison to classic treatment , the intersomatic fusion . Current studies , despite of some controversy , support disc arthroplasty have strict indications and is associated with a more functional and mobile spine , guaranteeing less adjacent segment disease and an earlier return to physical activities when compared to fusion . In theory , high impact , contact sports and intense activities can induce repetitive and intense axial and rotational loads to the spine and to the disc prosthesis , which can be associated with a higher risk of early arthroplasty failure . In this paper we present current scientific evidence about disc arthroplasties biomechanics rational and its clinical results and review the few studies about these implants application in athletic patients .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Artroplastia discal , substituição discal , coluna vertebral , disco intervertebral , discopatia , desporto Disc arthroplasty , disc replacement , spine column , intervertebral disc , discopathy , sports
Artroplastia discal – conceito e biomecânica
O tratamento cirúrgico clássico para a discopatia degenerativa avançada é a artrodese intersomática , isto é , a excisão do disco intervertebral e a fusão dos corpos vertebrais com a aplicação de cages e de enxerto ósseo . Apesar do seu sucesso em termos de alívio sintomático , alguns pacientes desenvolvem doença do disco adjacente , que consiste na degeneração sintomática dos discos adjacentes , devido à alteração biomecânica da distribuição de cargas provocada pela perda de mobilidade por artrodese de um segmento , bem como ao aumento compensatório da mobilidade dos níveis não artrodesados . Além disso , os pacientes mais ativos ficam com menor mobilidade da coluna cervical , o que pode prejudicar a atividade desportiva e a qualidade de vida . De modo a contornar este problema foram criadas as artroplastias discais , que em teoria , permitirem mobilidade e recriarem uma biomecânica , funcionalidade e distribuição de cargas mais perto do normal no segmento afetado , poderiam estar associadas a menores índices de degeneração discal dos níveis adjacentes ( Figura 1 ) 1 . No entanto , atualmente as indicações para artroplastias discais são relativamente restritas e , como é conhecido , uma indicação correta é a chave para o sucesso de uma intervenção cirúrgica 2 .
As artroplastias discais devem ser aplicadas em discopatias degenerativas sintomáticas isoladas que não respondem ao tratamento conservador durante seis meses e , de forma geral , apenas em pacientes sem deformidades estruturais ou instabilidades da coluna vertebral , em particular sem alterações osteoartrósicas inter-facetárias , e com qualidade óssea aceitável 2 . Como tal , face à prevalência elevada das contraindicações referidas com o avançar da idade , atualmente a maioria das artroplastias é efetuada em pacientes novos , muitos deles com nível de atividade importante e expetativas de um nível funcional elevado 3 , 4 . Um estudo prospetivo aleatorizado comparativo multicêntrico demonstrou em 187 pacientes com tempo de seguimento de dois anos , que os submetidos a artroplastia discal cervical apresentaram um aumento da mobilidade da coluna cervical significativamente superior aos submetidos a artrodese (+ 5.9 ° vs-0.8 °, p = 0.001 ). As contribuições para a mobilidade da coluna cervical foram equivalentes nos vários níveis dos pacientes submetidos a artroplastia , incluindo naquele substituido por prótese discal , recriando assim uma mobilidade mais fisiológica , com contribuições discais uniformes para o arco de mobilidade total . Por sua vez , nos pacientes submetidos a artrodese , as contribuições para a mobilidade total foram , como esperado , significativamente superiores nos segmentos adjacentes não artrodesados .
Vários estudos sobre artroplastias discais cervicais e lombares demonstraram resultados clínico-funcionais superiores e tempo de recuperação mais rápido em comparação com as artrodeses . A sólida fixação das próteses discais nos corpos vertebrais permite iniciar mobilização controlada nos primeiros dias de pós-operatório e assim iniciar a reabilitação precocemente 5-29 . Apesar disto , devido à ausência de resultados consistentes a longo prazo , algumas revisões sugerem prudência na aplicação de artroplastias discais devido ao risco de complicações que apenas poderão surgir a longo termo . A prevenção da doença do disco adjacente permanece por comprovar e alguns estudos verificam que uma porção considerável das artroplastias discais desenvolve ossificação heterotópica e perda de
Revista de Medicina Desportiva informa julho 2018 · 15