Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2018 | Página 10

Figuras 2 e 3 – Teste de Hook e teste de Ruland para pesquisa de avulsão (ou rotura) do tendão bicipital distal http://www.orthobullets.com/shoulder-and-elbow/3081/distal-biceps-avulsion?expandLeftMenu=true O teste provocativo mais utilizado para estudo diagnóstico é o teste de Hook (Figura 2), que consiste no posi- cionamento do cotovelo em flexão a 90° e do antebraço em supinação máxima: com o dedo indicador, o examinador deverá conseguir encai- xar a porção lateral do tendão distal. Se a corda tendinosa não é palpável, o teste é considerado positivo e é um sinal praticamente patogno- mónico de avulsão (ou rotura) do tendão. 6,7 Na presença de rotura parcial o tendão é palpável, mas o teste torna-se doloroso. 7 Este teste torna-se importante principalmente devido à sua fiabilidade: apresenta sensibilidade, especificidade e valo- res preditivos positivo e negativo próximos de 100%, ultrapassando os valores correspondentes associados à realização da RMN. 7 Outro teste provocativo possível é o teste de Ruland (Squeeze test): com o cotovelo posicionado a 60-80° de flexão e antebraço em ligeira pronação, uma mão do examinador imobiliza o cotovelo a outra efetua o squeeze da porção distal do musculo bicipital (Figura 3). Se não oc orrer a supinação do antebraço o teste é considerado positivo e é, também, um sinal praticamente patognomó- nico de avulsão (ou rotura) distal do tendão bicipital (96% de sensibili- dade). 6,7 Na presença de rotura par- cial poderá ocorrer o movimento de supinação, mas o teste é doloroso. 7 A imagiologia com radiografia poderá permitir a visualização de uma avulsão óssea ou uma pequena mancha ao nível da tuberosidade óssea. A TAC permite a localização de ossificação ectópica assim como possível mapa para a abordagem 8 julho 2018 www.revdesportiva.pt Figura 4 – Imagem intraoperatória da avulsão do tendão bicipital distal compa- tível com processo tendinoso degenerativo cirúrgica. 6,9 A RMN pode ser útil nos casos de duvida entre rotura parcial versus rotura total, para esclarecer o local patológico (rotura da zona tendinosa versus zona muscular) e para perceber o grau de retração tendinoso. 8,9 Contudo, o diagnóstico é essencialmente clínico. 6,9 Seguidamente foi sujeito a um período de imobilização braquio- palmar do membro durante três semanas, seguido de programa de reabilitação durante oito semanas. Atingiu a recuperação total para as atividades desportivas e laborais a partir da 12ª semana. Caso Clínico Resultados Doente do sexo masculino, com 31 anos de idade, atleta de Culturismo. Recorreu ao Serviço de Urgência por queixa de dor intensa ao nível do cotovelo e incapacidade de flexão do cotovelo esquerdo após movimento brusco inesperado de extensão do membro superior durante uma prova desportiva. Durante a obten- ção da história clínica, o doente con- firmou ser consumidor de esteroides injetáveis com o objetivo de ganho de maior massa muscular. Ao exame físico apresentava edema volumoso ao nível do terço distal do braço, incapacidade de flexão e de supinação do antebraço e deformação muscular a nível bicipi- tal. Apresentava ainda teste de Hook e teste de Ruland positivos. Realizou RMN que confirmou o diagnóstico de avulsão distal total do tendão bicipital. O doente foi sujeito a tratamento cirúrgico onde foi usada a técnica de incisão anterior isolada com fixação tendinosa por via de duas âncoras. Intraoperatoriamente foi possível observar a presença de processo degenerativo extenso do tendão bicipital distal (Figura 4). A Figura 5 mostra a radiografia de controlo no pós-operatória imediato. Atualmente com 24 meses de follow- -up, o doente apresenta recuperação completa da função do membro afetado, sem queixas álgicas, sem défices de extensão, flexão ou prono- -supinação e inclusive da massa muscular (comparativamente ao lado oposto), tendo reiniciado a sua atividade desportiva e laboral sem incapacidades descritas. Discussão A fisiopatologia desta patologia ainda não se encontra totalmente esclarecida. Processos degenerati- vos (medicamentosos, autoimunes, idade) e/ou processos mecânicos (impingement local; trauma violento) têm sido documentados como pro- váveis etiologias. Relativamente a este doente, verificou-se ser consu- midor de esteroides injetáveis o que levou a um processo degenerativo evoluído do tendão. Os doentes que não desejam sacri- ficar parte da função do membro (geralmente doentes jovens ou adul- tos jovens), têm na reparação cirúr- gica precoce a melhor opção 6,9 , a qual, idealmente, deverá ocorrer nos primeiros dias após o diagnóstico,