à complexidade da sua farmacocinética . A absorção do THC pelos pulmões é muito elevada . Consequentemente , podem ocorrer efeitos imediatos dependendo da dinâmica do ato de fumar . A duração e o intervalo de tempo entre cada inalação , bem como a quantidade de fumo inalado , são determinantes para a intensidade dos seus efeitos e , consequentemente , variam de indivíduo para indivíduo . Por cada cigarro fumado , a concentração máxima de THC é atingida no sangue 3 – 8 minutos após , o início de ação sobre o SNC verifica- -se aproximadamente em 20 minutos e o pico da sua ação dá-se em 2 – 4 horas . A duração dos efeitos psicoativos é de 4 – 6 horas . O THC é biotransformado no fígado em 11 – OH-THC e carboxi-THC , sendo posteriormente eliminados na urina . Os canabinoides possuem um elevado coeficiente de partilha óleo / água e , por isso , podem acumular-se no cérebro e no tecido adiposo . A semivida plasmática dos canabinoides é variável e a cinética bicompartimental com redistribuição tecidular primária para compartimentos bem perfundidos ( cérebro , músculos ) e acumulação secundária em tecidos com reduzida perfusão sanguínea ( tecido adiposo ) justificam o aparecimento de metabolitos do THC na urina vários dias após o seu consumo . Esta farmacocinética torna imprevisível a relação entre a concentração de canabinoides nos fluidos orgânicos e a intensidade dos efeitos psicomotores .
Quando fumado sob a forma de haxixe ou de marijuana cerca de 50 % do THC é excretado durante 3 dias , principalmente sob a forma de ácido 11 – nor-Δ9 – THC-9 – carboxílico conjugado com glucuronato , conjuntamente com outros ácidos carboxílicos livres ou conjugados . Os restantes 50 % acumulam-se no tecido adiposo , de onde são libertados lentamente durante os dias seguintes . O THC é excretado durante dias ou semanas , principalmente sob a forma de metabolitos ácidos , 20 – 35 % na urina e 65 – 80 % nas fezes ; menos de 5 % de uma dose oral é eliminada de forma inalterada pelas fezes , facto explicado pela sua excelente biodisponibilidade oral .
De entre os cerca de 20 metabolitos do THC identificados , o 11 – nor-9 – carboxi-THC é o melhor marcador do consumo de THC por humanos . Os metabolitos do THC são eliminados na urina durante muitos dias ( 3 – 7 dias após o consumo de um único cigarro e cerca de 12 dias após aplicação oral de haxixe ou marijuana ) podendo ser detetados durante mais de 30 dias a vários meses após consumo recorrente . A AMA considera positiva a presença de valores superiores a 15 ng / ml de 11 – nor-9 – carboxi-THC na urina dos atletas em competição ( avaliação por cromatografia gasosa / espectrometria de massa – GS / MS ). Este valor , que deveria ser corrigido à creatinina urinária para evitar fenómenos de diluição ou adulteração da urina , foi estabelecido para evitar falsos positivos relacionados com valores detetados em fumadores passivos , embora se mantenha alguma controvérsia sobre o conceito de “ fumador passivo ” e a concentração de THC no ar inalado “ passivamente ” num determinado compartimento . Por outro lado , a concentração dos metabolitos de THC encontrada na urina pode variar em diversas circunstâncias , incluindo a presença de colonização bacteriana com Staphylococcus aureus , Pseudomonas aeruginosa e Proteus vulgaris . Para além da via inalatória , mais comum para fins recreativos , o consumo de canabinoides pode ocorrer “ inadvertidamente ” através de uma refeição . A cannabis pode ser adicionada aos alimentos sob a forma de gelatina , mel , bolos , rebuçados e algumas bebidas , cuja prática é legal em alguns países , mas não noutros . Felizmente , a concentração de THC nesses alimentos é relativamente baixa .
Para além do THC de origem natural , o COI e a Agência Mundial Anti- -Dopagem ( AMA ) ainda recriminam o uso dos novos derivados sintéticos do THC e de todos os canabinomiméticos , como o Spice , contendo JWH- 018 e HU-210 . O K2 é um conjunto de ervas para fumar pulverizadas com o canabinomimético JWH-018 . Qualquer destes compostos possui metabolitos excretados na urina que podem ser detetados por GS / MS .
Pelos argumentos atrás referidos , a proibição do uso de canabinoides “ em competição ” deverá ter em consideração o período necessário à eliminação urinária dos seus metabolitos para níveis inferiores aos permitidos .
2 . Eles têm alguns efeitos terapêuticos benéficos ?
PS – A primeira descrição do uso médico da Cannabis remonta há 5000 anos atrás na antiga China e , posteriormente , na Assíria . A medicina tradicional indiana preconizava o uso da Cannabis como sedativo , ansiolítico , relaxante , analgésico e estimulante do apetite . Estas propriedades não diferem muito dos relatos mais recentes encontrados na Medicina Ocidental . No entanto , só nos anos sessenta do século XX com a descoberta do composto ativo da Cannabis , o THC , a investigação se tornou mais sistematizada . Nas últimas décadas , o conhecimento das bases moleculares do metabolismo e da clonagem dos recetores para os canabinoides , CB1 e CB2 , têm incentivado a indústria farmacêutica a procurar compostos ( agonistas e antagonistas ) com ação sobre este sistema para o tratamento de diversas doenças . Neste contexto , os derivados sintéticos do THC , dronabinol e nabilona , foram aprovados em muitos países para o tratamento da anorexia e da perda de peso associado ao SIDA , bem como para a redução das náuseas e vómitos relacionadas com a quimioterapia antineoplásica . Também o extrato estandardizado de Cannabis ( Sativex , spray sublingual ) foi autorizado no Canadá como adjuvante para o alívio sintomático da dor neuropática na esclerose múltipla . Encontraram- -se níveis elevados de endocanabinoides em doentes hipotensos com diversas formas de choque . Os canabinoides parecem ter um papel protetor na progressão da aterosclerose e da isquemia do miocárdio e cerebral . Estes dados sugerem que a manipulação do sistema endocanabinoide pode revelar-se eficaz no controlo da hipertensão arterial .
Existem hoje pelo menos 3 estratégias na descoberta de fármacos relacionados com o sistema canabinoide : ( 1 ) o uso de antagonistas dos recetores CB1 , como o rimonabant , foi aprovado para o tratamento da obesidade mórbida e estão a ser avaliados para a cessação tabágica ; ( 2 ) o uso de agonistas seletivos CB2 tem
26 · Julho 2013 www . revdesportiva . pt