Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2013 | Page 16

Rev . Medicina Desportiva informa , 2013 , 4 ( 4 ), pp . 14 – 16

Tema 3

A luxação dos tendões peroniais

Dr . André Bahute 1 , Dra . Ana Rita Gaspar 2 , Prof . Dr . Fernando Fonseca 3
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Interno de Ortopedia no CHUC ; 2 Especialista em Ortopedia no CHUC ; 3 Diretor de Serviço de Ortopedia do CHUC / Professor Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra , Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra .
RESUMO / ABSTRACT
A luxação dos peroniais é uma patologia incomum e frequentemente confundida com a entorse do tornozelo . Afeta maioritariamente indivíduos jovens e ativos e está associada a traumatismos desportivos . As manifestações clínicas são pouco específicas , com dor retromaleolar e sensação de instabilidade do tornozelo . O diagnóstico frequentemente só é feito com o auxílio de exames imagiológicos , como a radiografia simples , a ecografia dinâmica e a ressonância magnética . O tratamento é essencialmente cirúrgico .
Peroneal tendon dislocation is an uncommon injury which is frequently confused with ankle sprains . It is mostly found on young , active individuals and it is related to sports trauma . Clinically , it manifests itself as retromalleolar pain and ankle instability . It is usually diagnosed using imaging tools , such as plain radiography , dynamic ultrasound and magnetic resonance imaging . Surgical treatment is usually required .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Luxação dos tendões peroniais , tendões peroniais , lesões do tornozelo . Peroneal tendon dislocation , peroneal tendons , ankle Injuries .
Introdução
A luxação dos peroniais é uma patologia incomum , que se carateriza pela excursão dos tendões peroniais para fora da sua posição normal , atrás do maléolo lateral do tornozelo .
Descrita por Monteggia em 1803 1 numa bailarina , verificou-se que esta patologia predomina entre praticantes de esqui , futebol , basquetebol e patinagem artística 2 , 3 . Os estudos efetuados apresentam valores diferentes quanto à sua incidência e prevalência , mas estima-se que ocorra em cerca de 0.5 % de todos os traumatismos do tornozelo , sendo mais frequente em adultos jovens , do sexo masculino e geralmente ocorre no membro dominante 4 .
Nos casos agudos está em 90 % das situações associada a um traumatismo 5 e o doente experimenta a perda de posição dos tendões durante a dorsiflexão violenta do pé , com contração excêntrica dos músculos peroniais . Nos casos recidivantes há uma sucessão de episódios de luxação , geralmente relacionada com uma incompetência das estruturas responsáveis pelo seu normal posicionamento . Os episódios de luxação comportam risco acrescido de lesão tendinosa , nomeadamente tendinites , tenossinovites e roturas tendinosas .
Anatomia
Os tendões peroniais encontram-se no compartimento lateral da perna . O músculo peronial longo origina-se ao nível da cabeça e do terço proximal da fíbula e insere-se na base do 1 .º metatársico , enquanto o músculo fibular curto tem origem nos 2 / 3 distais da fíbula e insere-se na base do 5 .º metatársico . Em alguns indivíduos encontra-se um músculo acessório , denominado músculo fibular quarto , com origem e inserções variáveis e que pode propiciar a luxação tendinosa por efeito de massa .
O tendão fibular curto situa-se entre o maléolo posterior e o tendão fibular longo e , em conjunto , estes dois músculos atuam como flexores plantares e eversores do pé . Estes tendões deslizam numa bainha tendinosa comum no sulco retromaleolar da fíbula . Na maioria dos casos esta estrutura é côncava , acomodando perfeitamente os tendões . Numa pequena minoria , o sulco pode ser plano ou mesmo convexo , o que pode predispor a luxação 6 . Por sua vez , este sulco é aprofundado por um bordo cartilagíneo lateral em 2 a 4 mm .
O retináculo fibular superior constitui a parede lateral deste canal e é uma estrutura de extrema importância , pois atua como opositor principal à luxação . Origina-se nos 2 cm mais distais da fíbula , orientando-se posterior e inferiormente , recobrindo a bainha tendinosa e com inserção na face lateral do calcâneo . É constituído por fibras da fáscia superficial do periósteo da tíbia e da bainha tendinosa e ao longo do seu curso tem expansões para o tendão de Aquiles .
Classificação
Em 1976 Eckert e Davis 5 desenvolveram um sistema de classificação em 3 graus para caraterizar a luxação dos peroniais :
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nas lesões de grau 1 há uma elevação do retináculo do maléolo lateral e os tendões preenchem a bolsa de descolamento entre o osso e o periósteo ;
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no grau 2 observa-se o destacamento do bordo fibrocartilagíneo ;
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no grau 3 ocorre a avulsão óssea da cortical do maléolo .
Posteriormente em 1985 Oden 7 adicionou o grau 4 a esta classificação e que se carateriza pela rotura do retináculo fibular superior ao nível da sua inserção posterior no calcâneo .
14 · Julho 2013 www . revdesportiva . pt