Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2020 | Page 19

Calcaneoastragalina As barras társicas calcaneoastraga- linas ocorrem maioritariamente na componente média desta articula- ção, entre o sustentáculo do astrá- galo (do osso calcâneo) e a superfície articular astragalina média. O principal sinal da presença desta barra társica é o sinal do “C” (C sign), que corresponde à conti- nuidade da linha da cortical óssea do bordo póstero-medial da cúpula astragalina com a do bordo inferior do sustentáculo do astrágalo, visua- lizável na radiografia em incidência lateral (figura 1). Tem uma sensibili- dade e especificidade de 88% e 87%, respetivamente. É considerado um sinal indireto, uma vez que é uma imagem que depende da orientação do pé e dos feixes de raio-X, podendo também estar presente em barras não-ósseas. Em cerca de 50% dos doentes, este acompanha-se pelo sinal do “bico astragalino” (talar beak), uma excres- cência óssea da vertente dorsal dis- tal do astrágalo (semelhante a um osteófito da vertente supero-anterior do astrágalo, mas com orientação mais vertical, não se projetando superiormente ao espaço articular) que resulta do aumento compensa- tório de mobilidade na articulação astragalonavicular em resposta à mobilidade reduzida da articulação calcaneoastragalina. Figura 1 – Radiografia lateral do pé com presença do sinal do “C” (setas), tradu- zindo a continuidade da linha da cortical óssea do bordo póstero-medial da cúpula astragalina com a do bordo inferior do sustentáculo do astrágalo. É o principal sinal da presença de barra társica calca- neoastragalina. Existem ainda outros sinais indi- retos descritos, nomeadamente o sinal do “sustentáculo dismórfico” (alargamento e convexidade do bordo inferior do sustentáculo do astrágalo na radiografia lateral) e o sinal da “faceta média ausente” (não visualização da faceta articular da articulação calcaneoastragalina média numa radiografia lateral bem orientada), mas cuja sensibilidade é menor. Calcaneonavicular A melhor incidência para visualizar a barra társica calcaneonavicular é a oblíqua interna. Na radiografia late- ral também é possível a sua identi- ficação, embora surja sobreposta a outras estruturas ósseas. O achado indireto mais sensível e específico da sua presença (72% e 94%, respetivamente) é o sinal do “nariz do papa-formigas” (anteater nose sign), que traduz um alonga- mento tubular (e por vezes morfolo- gia quadrada) da apófise anterior do calcâneo, assemelhando-se ao nariz deste animal (figura 2). Há ainda uma variação deste sinal, o sinal do “nariz do papa-formigas reverso”, em que a aproximação dos dois ossos não acontece à custa da apó- fise anterior do calcâneo, mas sim devido a um prolongamento lateral e posterior do osso navicular. Tal como Figura 2 – Radiografia lateral do pé com presença do sinal do “nariz do papa- -formigas” (setas), um alongamento tubular e morfologia quadrada da apófise anterior do calcâneo, com irregularidade cortical da sua vertente anterior. É o prin- cipal sinal indireto da presença de barra társica calcaneonavicular. nas barras calcâneo-astragalinas, as calcâneo-naviculares também podem causar o sinal do “bico astra- galino”, mas numa percentagem menor de casos. Achados em TC e RM Em TC e RM as barras társicas são mais facilmente identificáveis. As do tipo ósseo dependem apenas da fácil deteção da continuidade óssea entre os dois ossos envolvidos. As do tipo não ósseo podem ser mais subtis, mas normalmente têm uma aparência em TC semelhante à das alterações de osteoartrite – redução do espaço articular, quistos sub- condrais, irregularidade e esclerose cortical. Contudo, o diagnóstico dife- rencial entre estas duas patologias não costuma ser um problema, uma vez que no caso da barra társica estes achados ocorrem em doentes jovens e são circunscritos a apenas uma articulação, ao contrário da osteoartrose. Na RM as alterações morfológicas são semelhantes, mas visualiza-se ainda a existência de edema medular ósseo centrado à barra társica, que normalmente é facilmente identificável em sequên- cias sensíveis ao líquido, tais como STIR (short tau inversion recovery) ou DP (densidade de protões). A RM é o único método de imagem que permite a distinção entre os dois subtipos de barras társicas não ósseas. Nas barras társicas cartilagí- neas – sincondroses – os dois ossos do tarso encontram-se unidos por tecido de sinal semelhante ao do líquido ou cartilagem (intermédio em T1 e intermédio-elevado em T2), enquanto nas barras társicas fibrosas – sindesmoses – o sinal do tecido interósseo será hipointenso em todas as sequências. No entanto, na prática nem sempre é fácil esta- belecer a distinção, pelo que alguns autores preferem simplesmente des- crever a barra como não-óssea, uma vez que a distinção não tem eviden- tes implicações terapêuticas. Tratamento As opções terapêuticas incluem medidas conservadoras e cirúrgicas. A primeira abordagem costuma ser Revista de Medicina Desportiva informa janeiro 2020· 17