Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2020 | Page 18
Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(1):16-18. https://doi.org/10.23911/barras_tarsicas_2020_01
Achados Radiográficos de
Barras Társicas – uma Causa
de Dor e Incapacidade
Funcional em Desportistas
Adolescentes
Dr. Pedro Azevedo 1 , Dr. Joaquim Agostinho 2
1
Médico Interno de Radiologia; 2 Médico Especialista em Radiologia e Medicina Desportiva. Centro
Hospitalar Tondela-Viseu.
RESUMO / ABSTRACT
As barras társicas são patologias decorrentes de malformações no desenvolvimento dos
ossos do tarso que levam a deficiente articulação entre si, com consequente dor e limi-
tação da mobilidade do pé. Tendem a ser mais sintomáticas em adolescentes desportiva-
mente ativos e a radiografia simples é o melhor exame diagnóstico para investigar a sua
presença numa fase inicial. O conhecimento das incidências ideais para a sua avaliação e
dos sinais radiográficos diretos e indiretos que cada diferente tipo de barra társica origina
é essencial para um diagnóstico correto.
Tarsal coalitions are pathologies that arise from development malformations of the tarsal bones,
originating a deficient articulation between them, with consequent pain and stiffness of the foot.
They tend to be more symptomatic in physically active adolescents and a conventional radiography
is the best initial examination to investigate their presence. The knowledge of the best projections for
their evaluation and of the direct and indirect signs of each different type of tarsal coalition in the
conventional radiograph is essential for a correct diagnosis.
Barra társica, pé, radiografia simples, malformação
Tarsal coalition, foot, conventional radiography, malformation
Uma barra társica é uma conexão
anómala dos ossos do tarso decor-
rente de uma falha congénita no seu
processo de diferenciação e segmen-
tação.
Epidemiologia
Embora não existam muitos estudos
epidemiológicos realizados sobre as
barras társicas, considera-se que a
prevalência de barras társicas é de
aproximadamente 1%. No entanto,
pelo menos um estudo em cadáve-
res revelou a prevalência de 13%,
o que poderá indiciar que muitos
dos casos são assintomáticos e não
são diagnosticados. Cerca de 90%
das barras társicas envolvem as
articulações calcaneoastragalina ou
calcaneo-navicular e em 25-50% dos
16 janeiro 2020 www.revdesportiva.pt
Os sintomas decorrentes da pre-
sença de barras társicas tendem
a surgir na infância tardia ou na
adolescência em crianças/jovens
desportivamente ativos e podem só
aparecer na idade adulta ou nunca
sequer chegar a serem sintomá-
ticos em pessoas menos ativas.
Tipicamente as barras calcaneona-
viculares surgem numa idade mais
precoce do que as calcaneoastraga-
linas (8-12 anos versus 12-16 anos de
idade, respetivamente), de acordo
com a sequência de ossificação
destes ossos.
Os sintomas e sinais são inespecí-
ficos e por vezes indistinguíveis dos
sintomas expectáveis na deformi-
dade de pé plano, que muitas vezes
surge associada à barra társica,
resultantes da alteração da dinâ-
mica de forças. Estes incluem dor,
rigidez e limitação na amplitude de
movimentos do retro e médio-pé,
tendinopatia dos músculos pero-
neais e entorses recidivantes dos
ligamentos do tornozelo.
Achados radiográficos
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Definição
Clínica
doentes as barras társicas são bila-
terais, embora nem sempre os dois
lados sejam sintomáticos.
Classificação
As barras társicas podem classificar-
-se em ósseas (sinostose), quando os
dois ossos se encontram fundidos
por ponte óssea, e não ósseas. As
não ósseas podem ainda ser subclas-
sificadas em cartilagíneas (sincon-
drose) ou fibrosas (sindesmose),
quando existe tecido cartilagíneo ou
fibroso a unir os dois ossos, respeti-
vamente.
Esta classificação é útil para o
diagnóstico imagiológico, uma vez
que os diferentes subtipos apresen-
tam achados imagiológicos distintos,
mas do ponto de vista clínico e de
tratamento têm uma importância
menor.
Tal como na generalidade das
patologias ósseas, a investigação
deverá iniciar-se por um exame
de fácil acessibilidade, rápido e de
baixo custo – a radiografia sim-
ples. Na radiografia, os dois tipos
de barras társicas mais comuns
podem manifestar-se sob a forma
de achados diretos (visualização de
continuidade óssea entre dois ossos
do tarso, no caso de barras do tipo
sinostose) ou, mais frequentemente,
sob a forma de achados e sinais
indiretos (no caso de barras do tipo
sincondrose ou sindesmose), com os
quais devemos estar familiarizados,
pois o seu conhecimento poderá
fazer a diferença entre um exame
erradamente interpretado como
“normal” e que pode significar o
término prematuro da investigação
diagnóstica e um aumento do índice
de suspeição que justifique o pedido
de outros exames imagiológicos
para confirmação e melhor carac-
terização da suspeita diagnóstica,
nomeadamente a tomografia com-
putorizada (TC) e/ou a ressonância
magnética (RM).