Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2020 | Page 17
Caso clínico Resultado
Doente do sexo feminino, 43 anos,
previamente saudável, que recorreu
à consulta externa por dor na região
inguinal direita, com três meses de
evolução, sem história de trauma-
tismo ou outras queixas.
Tratava-se de uma atleta amadora
a realizar treino diário, desde há sete
meses, com aumento progressivo de
intensidade, tendo em vista a prepa-
ração para a primeira maratona.
Referia dor inguinal direita, inicial-
mente no final de cada treino, que
obrigava à suspensão do mesmo,
necessitando de períodos de repouso
progressivamente mais prolongados,
sem alívio completo das queixas
álgicas com analgesia oral. Houve
agravamento gradual das queixas
e depois aparecimento de dor em
apoio monopodálico em repouso. Ao
exame objetivo apresentava queixas
à mobilização da anca direita em fle-
xão com rotação interna. O restante
exame objetivo não tinha alterações.
A radiografia indicava sinais de
fratura dos ramos ísquio-íleo-púbi-
cos, confirmada posteriormente por
tomografia computorizada (fratura
ramo ileopúbico direito e ramos
isquiopúbicos bilateralmente).
Após duas semanas de descarga e
analgesia, seguida de carga progres-
siva, apresentava remissão completa
da dor, iniciando então a reabilitação
funcional. O retorno à atividade des-
portiva deu-se de forma gradual, com
reinício do treino de corrida quatro
meses após o diagnóstico. O controlo
de imagem foi realizado através da
tomografia computorizada, que mos-
trou sinais de consolidação. Este caso demonstra a dificuldade
diagnóstica desta patologia, em que
inicialmente foi interpretada como
hipotética tendinopatia/mialgia,
sem melhoria da sintomatologia
com diminuição da carga de treino e
AINEs. A ausência de evento trau-
mático e a descrição do tipo e carga
de treino facilitaram o diagnóstico.
Neste caso particular, tratando-se
de dor associada ao exercício e a
alteração do treino com aumento de
intensidade, provavelmente a sua
causa resultou de excesso de treino,
associado à idade e ao sexo feminino.
Conclusão
A fratura de stress é uma patologia
de difícil diagnóstico na fase aguda,
podendo levar ao desconforto
prolongado do doente se não for
reconhecida. Apesar da dor ser auto-
-limitada, e no caso da fratura dos
ramos isquiopúbicos haver evolução
favorável na maioria das situações, o
diagnóstico na fase inicial permite a
recuperação precoce, seguida de rea-
bilitação, com dispensa de estudos
diagnósticos desnecessários.
No caso apresentado, trata-se de
uma mulher corredora amadora que
aumentou a duração, a frequência e
a intensidade de treino com um início
de sintomatologia insidioso e que
melhorava com repouso. O tratamento
instituído vai de encontro ao preconi-
zado na literatura 14 , com cessação do
treino de corrida e atividades de salto,
descarga parcial e repouso que podem
ser prolongados (de 6 semanas a 8
meses). Um período de descarga com-
pleta pode ser necessário, dependendo
das queixas do doente.
Os autores declaram ausência de confli-
tos de interesse, assim como a origina-
lidade do texto e a sua não publicação
prévia.
Figura 1 – Radiografia anca direita
onde já apresenta sinais de fratura
do ramo iliopúbico à direita
Figura 2 – Tomografia computo-
rizada com sinais de fratura do
ramo iliopúbico à direita e ramos
isquiopúbicos bilateralmente
Correspondência
[email protected]
Bibliografia
1. Michael Coughlin, Charles Saltzman,
Robert B. Anderson. Mann’s Surgery of The
Foot and Ankle, 2013; 9th Edition, Chapter
31, Stress Fractures of the Foot and Ankle.
2. Bennell KL, Brukner PD. Epidemiology and
site specificity of stress fractures. Clin Sports
Med. 1997; 16:179-96.
3. J. Espregueira-Mendes et al. Stress Fractures:
Current Concepts. Injuries and Health Pro-
blems in Football. 2017; 41:461-71.
4. Breithaupt J. Zur pathologie des menschlichen
fubes. Med Zeitg. 1855.
5. Brukner P, Bennell K. Stress fractures in
female athletes. Diagnosis, management and
rehabilitation. Sports Med (Auckland, NZ).
1997; 24:419-29.
6. Warden SJ, Burr DB, Brukner PD. Stress frac-
tures: pathophysiology, epidemiology, and risk
factors. Curr Osteoporos Rep. 2006; 4:103-109.
7. Ekstrand J, Torstveit MK. Stress fractures in
elite male football players. Scand J Med Sci
Sports. 2012; 22(3):341-6.
8. Per Holmich, Per A. F. H. Renstron, Tonu
Saartok. Kjaer – Textbook of Sport Medicine
– Basic Science and Clinical Aspects of Sports
Injury and Physical Activity. 6.3 Hip, Groin
and Pelvis. 2003.
9. Tim Meyer, Oliver Faude, Karen aus der
Fünten. Sports Medicine for Football, Insight
from Professional Football for All Levels. Meyer
& Meyer Sport. 2015.
10. Fabrizio Margheritini, Roberto Rossi. Ortho-
pedic Sports Medicine Principles and Practice.
SpringerLink. 2011; 275-280.
11. Ohta-Fukushima M, Mutoh Y, Takasugi
S, Iwata H, Ishii S. Characteristics of stress
fractures in young athletes under 20 years. The
Journal of Sports Medicine and Physical
Fitness. 2002; 42(2):198-206.
12. Jan Ekstrand et al. Encyclopedia of Football
Medicine. Injury Diagnosis and treatment, 1st
ed., Thieme. 2017; (2):415-418.
13. Simon AM, Manigrasso MB, O’Connor JP.
Cyclo-oxygenase 2 function is essential for bone
fracture healing. Journal of bone and mineral
research: the official journal of the Ameri-
can Society for Bone and Mineral Research.
2002; 17(6):963-76.
14. Hod N, Ashkenazi I, Levi Y, et al. Charac-
teristics of skeletal stress fractures in female
military recruits of the Israel Defense Forces
on bone scintigraphy. Clin Nucl Med. 2006;
31:742-749.
15. Brukner P, Bennell K,
Matheson G. Stress
fractures of the trunk.
In: Brukner P, ed. Stress
Fractures. Victoria: Bla-
ckwell Science. 1999;
119-138.
16. Eller DJ, Katz DS,
Bergman AG, et al.
Sacral stress fractures in
long-distance runners.
Clin J Sport Med. 1997;
7:222-225.
Revista de Medicina Desportiva informa janeiro 2020· 15