Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2020 | Page 32
de normoxia e hipoxia, respetiva-
mente (p <0.001), todavia o tempo
até à exaustão foi semelhante entre
as condições (511 e 460s, respeti-
vamente). De acordo com o nosso
conhecimento, existe apenas um
estudo que analisou o tempo susten-
tado à mesma intensidade relativa
de exercício em condições de hipoxia
e normoxia em cicloergómetro (90%
do wVO 2 max). 14 Embora a intensidade
seja muito próxima da utilizada no
nosso estudo, a FiO 2 foi maior que a
do presente estudo (0.16, correspon-
dente, ~2200m). Em contraste com
os nossos resultados, foi relatado um
tempo significativamente menor até
à exaustão, em hipoxia, em compa-
ração com normoxia (440s e 362s).
Os autores concluíram que a FiO 2
poderá ter desempenhado um papel
importante na duração do teste. Num
outro estudo conduzido à mesma
intensidade relativa de exercício, um
exercício de corrida a uma intensi-
dade de 100% do VO 2 max (FiO 2 = 0.15,
~2400m) não induziu diferenças sig-
nificativas no tempo até à exaustão
entre normoxia e hipoxia. 15
Os nossos resultados corroboram
estudos anteriores sobre a cinética
do VO 2 , no sentido em que a mesma
é mais lenta (constante temporal
maior: 19 vs. 29s, p<0.001, em nor-
moxia e hipoxia, respetivamente;
Tabela 2) em condições de hipo-
xia 21–23 , sugerindo um maior deficit
de oxigénio e, finalmente, maior per-
turbação da homeostasia. 16 Embora
ainda seja controverso, tem sido
sugerido que a componente lenta do
VO 2 está associada ao recrutamento
progressivo adicional de fibras mus-
culares do tipo II, que se presume
ter menor eficiência. 24 Os nossos
resultados parecem sugerir que
essa amplitude (significativamente
superior em normoxia comparativa-
mente a hipoxia: 18.1 vs. 15.9 ml.kg -1 .
min -1 ; Tabela 2) parece depender
também da intensidade relativa de
exercício. Coletivamente, os nossos
Tabela 1. Variáveis medidas (média ± DP) durante os testes Tlim e 3M.
Tlim
3M
Variáveis Normoxia Hipoxia Normoxia Hipoxia
80%D (W) 275.2 ± 36.5 * 242.2 ± 27.9 - -
Tempo sustentado (s) 511 ± 171 460 ± 135 - -
CP (W) - - 277.2 ± 46.8 * 229.1 ± 38.7
W’ (KJ) - - 11.2 ± 2.5 11.7 ± 2.5
80%D, potência associada ao teste Tlim; PC potência crítica; W’, integral da curva
potência-tempo acima da PC; * p<0.001 diferente da condição hipoxia
abela 2. Variáveis medidas (média ± DP) para análise da cinética do VO 2
T
no teste Tlim.
Variáveis Normoxia Hipoxia
A 0 (ml.kg -1 .min -1 ): cf. 14.5 ± 3.9 16.7 ± 4.8
A 1 (ml.kg -1 .min -1 ): cf. 29.9 ± 5.3 ** 23.0 ± 4.1
A 2 (ml.kg -1 .min -1 ): cf. 18.1 ± 2.2* 15.9 ± 1.9
t 1 (s) 18.8 ± 2.5 ** 29.0 ± 7.11
A 0 , VO 2 em repouso; A 1 e A 2 , amplitudes das componentes rápida e lenta do VO 2 ; t 1 ,
constante temporal da componente rápida do VO 2 ; *p<0.05, **p<0.001 diferente da
condição hipoxia
resultados parecem
sugerir que quando a
intensidade relativa do
exercício é comparada,
a menor disponibilidade
de oxigénio implica
uma cinética do VO 2
Figura 1 – Relação sig-
nificativa entre a % de
alteração no (VO 2 max-PC) e
a % de alteração na W’ em
hipoxia vs. normoxia.
30 janeiro 2020 www.revdesportiva.pt
mais lenta, uma menor amplitude
da componente lenta do VO 2 sem, no
entanto, prejudicar a tolerância ao
exercício.
No presente estudo, a redução
significativa da PC em condições de
hipoxia corroborou estudos ante-
riores de ciclismo 25-28 e exercício
da parte superior do corpo. 19 Essa
diminuição da PC (277 vs. 229 W,
em normoxia e hipoxia, respeti-
vamente) pode ser explicada pelo
menor fornecimento de oxigénio,
reduzindo o transporte de oxigénio
para os músculos que trabalham,
resultando, consecutivamente, em
fadiga prematura. Não obstante, não
foram encontradas diferenças sig-
nificativas na W’ entre as condições
de normoxia e hipoxia (11.2 e 11.7kJ),
corroborando estudos anteriores de
que a W’ permanece inalterado sob
condições moderadas de hipoxia
(<3900m de altitude). 19,26-28
No presente estudo também foi
observada uma relação significativa
entre a diferença no VO 2 max-PC e
a alteração em W’ (Figura 1, r =0.69,
p<0.05), entre normoxia e hipoxia,
sugerindo que a W’ não representa
uma quantidade fixa de energia anae-
róbia. Por outro lado, esses resultados
suportam a noção de que os ambientes
com pouca disponibilidade de oxigénio,
por terem um impacto em parâmetros
aeróbios, como PC e VO 2 max, terão, por
sua vez, um impacto na W’. Embora a
redução no VO 2 max e na PC induzida
pela hipoxia tenha sido semelhante (25
e 27%, respetivamente), essa relação
indica que se a hipoxia reduzir mais
o VO 2 max que a PC o domínio de
intensidade de exercício severo (cujos
limites fisiológicos são o VO 2 max e PC,
respetivamente) ficará menos extenso
e, portanto, a W’ será reduzida.
Conclusões
O presente estudo demonstrou que
o impacto da hipoxia normobárica
aguda (FiO2 = 0.13, ~3000m) induz
diminuição na cinética do VO 2 sem,
contudo, o tempo até à exaustão
ser afetado. O ambiente hipóxico
reduziu significativamente a PC, sem
afetar a W’ durante o teste de 3M e,
embora não tenham sido observadas
alterações significativas na zona
do domínio de exercício de intensi-
dade severa, entre a normoxia e as