Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2020 | Page 21
Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(1):19-21. https://doi.org/10.23911/T_espondilolise_2020_1
Espondilólise – Causa de
Dor Lombar nos Atletas
Adolescentes
Dra. Susana Ângelo 1 , Dr. Francisco Gomes 1 , Dr. Tiago Roseiro 1 , Dra. Cláudia Vale 1 , Dr. Pedro Carvalhais 2
1
Médico interno de formação específica de Ortopedia e Traumatologia do Serviço de Ortopedia, Hospital
Distrital da Figueira da Foz; 2 Assistente Hospitalar do Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Hospital
Distrital da Figueira da Foz; e Ortopedista na Spine Center, Coimbra.
RESUMO / ABSTRACT
A espondilólise é uma causa importante de dor lombar nos atletas adolescentes. Corres-
ponde a um defeito congénito ou adquirido, bilateral ou unilateral, da pars interarticularis. A
forma adquirida nos jovens atletas é secundária a movimentos repetitivos de hiperexten-
são, rotação e flexão da coluna lombar. O objetivo do tratamento dos doentes com espon-
dilólise é eliminar a dor, permitindo o retorno à atividade física. O diagnóstico precoce é
essencial para o sucesso do tratamento conservador. A maioria dos doentes recupera com
o tratamento médico, sendo a cirurgia reservada para os casos em que este falha, aproxi-
madamente em 10-15% dos casos de espondilólise.
Spondylolysis is an important cause of lumbar pain in young athletes. Spondylolysis is a defect, con-
genital or acquired, bilateral or unilateral, within the pars interarticularis. Acquired spondylolysis
in young athletes is secondary to repetitive hyperextension, rotation, or flexion of the lumbar spine.
The goal of treatment for patients with spondylolysis is to have pain-free patients to return to their
sporting activity. Early diagnosis is crucial in the success conservative treatment of spondylolysis.
Most patients recover with non-operative treatment and surgery is indicated on those where the
conservative management fails, in about 10-15% the cases of the spondylolysis.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Espondilólise, dor lombar, atividade física, atletas adolescentes
Spondylolysis, lumbar pain, sport activity, young athletes
A espondilólise é um defeito con-
génito ou adquirido, bilateral ou
unilateral, da pars interarticularis do
arco vertebral. Ocorre mais frequen-
temente na vértebra L5 em cerca de
82 a 95% dos casos e em L4 entre 5 e
15% dos casos, apesar de poder ocor-
rer em qualquer nível da coluna. 1 A
incidência da espondilólise congé-
nita é de 4% na população geral e a
espondilólise adquirida ocorre em 6
a 8% da população geral, com uma
proporção entre homens e mulheres
igual a 2:1, sendo a bilateralidade
mais frequente. A espondilólise,
congénita ou adquirida, tem sido
reportada em 5.2% das crianças com
12 anos de idade. 2,3 A prevalência
de espondilólise em atletas adoles-
centes com lombalgia é de 13 a 47%.
Devido às variações hormonais, na
população desportiva as mulheres
são mais afetadas que os homens. 4,5
A espondilólise secundária a fra-
tura por stress nos jovens atletas é
causada por movimentos repetitivos
de flexão, rotação ou hiperextensão
da coluna lombar. 2 É rara em
indivíduos que não deambulam, o
que revela o papel fundamental do
ortostatismo e de microtraumas
repetitivos no desenvolvimento
desta entidade clínica. Estudos bio-
mecânicos demonstraram aumento
do stress na pars interarticularis com a
coluna em extensão e aumento das
forças de cisalhamento através da
mesma área com a persistência da
lordose. 4-7
A espondilólise pode progredir
para espondilolistese, definida
como o deslocamento anterior do
corpo vertebral relativamente aos
corpos adjacentes. Os desportos
que aumentem a lordose e impli-
quem carga repetitiva da coluna em
extensão ou hiperextensão, como
ginástica olímpica, mergulho, levan-
tamento de peso, voleibol, futebol
americano, ballet e patologias como
cifose aumentam a incidência de
espondilólise, de fratura da pars inte-
rarticularis e de espondilolistese. 4,5,8
A espondilólise e espondilolistese
geralmente são bem toleradas, mas
em alguns casos a gravidade dos
sintomas e a não resposta ao trata-
mento médico leva à necessidade de
intervenção cirúrgica. 5
Clínica
A espondilólise é geralmente assin-
tomática. No entanto, quando é
sintomática o quadro clínico carac-
teriza-se por lombalgia, podendo
haver associação com um episódio
traumático, uma queda ou um
movimento de hiperextensão. 9,10 A
dor exacerba-se com a extensão da
coluna e com a atividade desportiva
e alivia com o repouso.
O exame físico pode revelar a pre-
sença de dor à extensão da coluna
lombar em ortostatismo, sobretudo
na posição monopodálica (teste de
hiperextensão monopodálico), dor
localizada à palpação profunda do
segmento acometido por contratura
muscular, contratura dos tendões
isquiotibiais (80%) e, por vezes, teste
de Laségue positivo. No entanto,
nenhum destes achados no exame
físico é específico desta patologia. 9-11
As alterações neurológicas, como
fraqueza, parestesias, incontinên-
cia urinária e ou fecal, são raras na
espondilólise isolada e qualquer
alteração neurológica ou sistémica
(febre, astenia, dor noturna) deve
levar a pensar noutro diagnóstico. 3,4
Diagnóstico
O diagnóstico é indicado pela
existência de um defeito na pars
interarticularis na radiografia oblí-
qua da coluna lombar (Figura 1),
Figura 1 – Radiografia oblíqua da coluna
lombar – espondilólise de L4 (seta branca)
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