Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2012 | Page 11

alguns estudos que demonstram que os atletas de alta competição são mais propensos a certos sintomas gastrointestinais tais como diarreia, flatulência e náusea. Três estudos recentes abordaram o papel da atividade física nos sintomas do SII. O primeiro estudo de Kim e colaboradores11, abordou a prevalência do SII e a influência do estilo de vida no SII em estudantes universitários. Estes investigadores concluíram que as pessoas com SII efetuavam em média menos exercício físico, apesar de esta diferença não ter atingido significado estatisticamente significativo (OR – 0.99, 95% CI 0.95 – 1.04). Um segundo estudo, de Daley e colaboradores12 estudou diretamente os efeitos da atividade física nos sintomas e qualidade de vida dos doentes com diagnóstico conhecido de SII. Este estudo randomizou doentes para dois grupos: um grupo de controlo (n= 28) e outro grupo (n= 28) ao qual foram oferecidas duas consultas específicas para o incremento da atividade física durante um período de doze semanas, cujo objetivo era incentivar os sujeitos desse grupo a efetuarem exercício físico moderado durante 30 minutos por dia pelo menos em cinco dias da semana. Este estudo revelou uma melhoria estatisticamente significativa nos sintomas relacionados com a obstipação (p< 0.05) no grupo da atividade física. Contudo, não se observou diferença entre os dois grupos relativamente aos outros sintomas em estudo (dor abdominal, diarreia) e também não se observou diferença relativamente à qualidade de vida. Este estudo foi o primeiro a abordar de uma forma controlada e randomizada a possível melhoria dos sintomas do SII com atividade física moderada e, apesar de algumas limitações (impossibilidade de ocultação do tratamento e o facto de a quantidade de exercício efectuada ter sido avaliada de modo subjetivo), foi igualmente o primeiro a demonstrar que o exercício físico moderado pode melhorar alguns dos sintomas associados ao SII. O terceiro estudo a abordar este tema de grande interesse foi recentemente publicado. Johannesson e colaboradores13 estudaram o efeito da atividade física nos sintomas do SII. Estes investigadores randomizaram doentes com diagnóstico conhecido de SII em dois grupos: atividade física (n= 37) e grupo de controlo (n= 38). A intervenção no grupo da atividade física consistiu em contactos telefónicos regulares de um fisioterapeuta que oferecia conselhos individuais sobre atividade física durante doze semanas; os sujeitos no grupo de controlo eram encorajados a manter o seu estilo de vida. Os investigadores avaliaram os resultados através de vários questionários previamente validados e de um diário de treino. Estes investigadores verificaram uma diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos na melhoria global dos sintomas relacionados com o SII conforme o medido através do questionário “IBS-Severity Scoring System”. Verificaram igualmente que a proporção de doentes com aumento na gravidade dos sintomas era maior no grupo de controlo (p< 0.01) e que alguns parâ- Figura 1. Demonstração da melhoria dos sintomas (medido através do IBS-SSS) entre o grupo da atividade física relativamente ao grupo de controlo. Adaptado de Johannesson et al. Physical activity improves symptoms in irritable bowel syndrome: a randomized controlled trial. Am J Gastroenterol. metros específicos do SII relativos à qualidade de vida (IBS-QOL), como o sono, níveis energéticos, papel social e físico, melhoraram no grupo de atividade física relativamente ao grupo de controlo (p<0.05). Estes autores concluem que o aumento da atividade física diminui os sintomas associados ao SII, ao mesmo tempo que consegue melhorar alguns parâmetros da qualidade de vida destes doentes, sendo o primeiro estudo que advoga a implementação da atividade física como modalidade terapêutica primária no SII. Conclusão O SII é uma doença crónica, recorrente, que afeta consideravelmente a qualidade de vida. Múltiplas modalidade terapêuticas estão atualmente disponíveis para esta doença, apesar de serem poucas as que efetivamente conseguem melhorar os sintomas e a qualidade de vida de modo significativo. Os efeitos benéficos da atividade física regular são já conhecidos para uma enorme variedade de doenças, tornando o seu incentivo nos doentes com SII plausível e apetecível. Apesar desta potencialidade terapêutica, até há bem pouco tempo não havia estudos que demonstrassem efeitos benéficos desta no SII. Os estudos apresentados demonstram que a inclusão da atividade física moderada e regular (como caminhar durante 30 minutos durante 5 dias da semana) no tratamento dos sintomas associados ao SII deve ser considerado em todos os doentes com SII. Foi demonstrado que a atividade física regular melhora vários aspetos da qualidade de vida dos doentes com SII, diminuindo igualmente a probabilidade de agravamento dos sintomas. O tratamento do SII deve ser efetuado de uma forma individualizada, uma vez que não existe um único tratamento capaz de eliminar os sintomas de forma eficaz na grande maioria dos doentes. Desta forma, a implementação de um programa de atividade física regular nestes doentes, tanto pelos efeitos benéficos conhecidos para outras doenças, como pela capacidade que demonstrou em melhorar certos parâmetros da qualidade de vida e sintomas destes doentes, deve ser implementado como modalidade terapêutica de primeira linha nos doentes com SII. Bibliografia 1. American College of Gastroenterology Task Force on Irritable Bowel Syndrome, Brandt L.J., Chey W.D., Foxx-Orenstein A.E., Schiller L.R., Schoenfeld P.S., Spiegel B.M., Talley N.J., Quigley E.M.. An evidence-based position statement on the management of irritable bowel syndrome. Am J Gastroenterol. 2009 Jan;104 Suppl 1:S1-35. (Continua na página 12) Revista de Medicina Desportiva informa Janeiro 2012 · 9