Revista Conviva Nº 75 revista_conviva_interativa_2019 | Page 17
Pastoral
e normas bem claras a esse respeito. Tais
orientações são perfeitamente cabíveis pa-
ra nossas práticas educacionais, pois res-
pondem ao sonho de uma excelente for-
mação acadêmica e humana.
Durante o encontro, destacou-se a fala
do professor Esteban Ocampo Flores, da
Universidade Xaveriana, de Bogotá, Co-
lômbia, a esse respeito. Ele enfatizou que
“com o tempo, conseguimos a façanha de
separar o inseparável, o Acadêmico do Pas-
toral, e agora estamos fazendo um esforço
hercúleo para integrar o que separamos”.
E acrescentou que “o espiritual tem que
fazer parte do acadêmico, e o acadêmico,
parte do espiritual. Devem caminhar jun-
tos, articulados, sem perder o específico
de cada dimensão. E nisso não estamos
sozinhos, formamos parte de uma gran-
de rede global”. Não podemos esquecer
nem ignorar que os jovens são uma das
cinco preferências apostólicas da Compa-
nhia de Jesus para os próximos dez anos.
Entre os principais desafios apontados,
estão as questões de acolher o global sem
nos esquecermos de nos voltarmos para o
local. A ideia, aqui, é abrir mão de certas
práticas e verdades que engessam. Preci-
samos nos desacomodar e inovar. Como
disse o Pe. Pedro Arrupe, “Não podemos
responder aos problemas de hoje com so-
luções de ontem”.
Qual é o modelo proposto para
este momento?
A Companhia de Jesus tem um modelo
educativo enraizado na tradição humanis-
ta do Renascimento, sustentado pela con-
vicção de que, ao educar o caráter da pes-
soa, em função do bem comum, realiza-se
uma importante tarefa apostólica. O pro-
pósito da nossa educação é a formação da
pessoa que dê sentido à sua vida e, com ela,
contribua com o bem comum em seu con-
texto, no de sua sociedade e de seu plane-
ta. Homens e mulheres conscientes, com-
petentes, compassivos e comprometidos.
Buscamos formar pessoas capazes de uti-
lizar os conhecimentos aprendidos na re-
solução de problemas da vida prática, em
vista da transformação da realidade em que
vivem – pessoas que tenham, na justiça e
no amor, os princípios norteadores de su-
as ações, e que se desenvolvam a partir de
uma fecunda fé, promotora da justiça. Pa-
ra que a determinação do êxito acadêmico
que perseguimos alcançar seja compreen-
dida no contexto adequado, é fundamen-
tal que as escolas e os colégios jesuítas es-
cutem seus estudantes, aproximando-se
de seus mundos, acolhendo seus sonhos e
suas preocupações, aprendendo com eles.
Nossas escolas devem se esforçar por
formar pessoas lúcidas, que saibam apli-
car os conteúdos, as competências e as ha-
bilidades desenvolvidas durante a escola.
Trata-se de pessoas hábeis para interpre-
tar o mundo de hoje, para saber discer-
nir e oferecer soluções aos problemas, pa-
ra moverem-se em um mundo cambiante
e assegurarem a sua educação vitalícia. Es-
sa educação não pretende adestrar ou ins-
trumentalizar as pessoas para que vençam
ou subam na vida, mas, ao contrário, pa-
ra que desçam os seus degraus, seguindo
o exemplo de Jesus Cristo, a fim de que
sirvam ao próximo, à sociedade e ao meio
ambiente naquilo de que mais precisam.
(KLEIN, 2014, p. 2).
Nossos colégios perseguem, diariamen-
te, esse ideal de educação, ainda que nem
sempre alcancem êxito no combate ao in-
dividualismo, ao consumismo e a outras
manifestações derivadas do mundo glo-
balizado, que imputam à escola a obser-
vância ao mercado ou às regras das com-
petências técnico-científicas exacerbadas.
A articulação necessária entre as dimen-
sões Acadêmica e Pastoral em um colégio
jesuíta é fundamental para seguir forman-
do pessoas livres e comprometidas com a
missão e com a fé que promove a justiça.
Como a Pastoral deve trabalhar
para alcançar os objetivos
propostos?
Nesse sentido, a Pastoral educativa de-
ve ser uma dimensão que atravessa to-
da a escola, impregnando o currículo. O
entrelaçamento dessas duas esferas cons-
titui-se no específico da missão educati-
va da Companhia de Jesus, e tal articula-
ção precisa estar ancorada em princípios
pedagógicos e institucionais. Assim, Ma-
gis, discernimento e cura personalis são
princípios fundamentais para a articula-
ção entre as dimensões Acadêmica e Pas-
toral, norteando a educação que abrange
a pessoa inteira.
É bom lembrar que todos da comuni-
dade educativa – professores, famílias, alu-
nos, religiosos, gestores, etc. – participam
desse processo de articulação Acadêmica
e Pastoral, tendo como fator integrativo
a formação religiosa e espiritual, intrín-
seca à formação da pessoa na perspectiva
da educação jesuíta.
Pe. Guido Valli, SJ
Coordenador de Pastoral
“Nossos colégios são magníficas plataformas
para ouvir, servir e contribuir para que crianças e
jovens de hoje possam sonhar com um mundo novo,
reconciliado, justo e em harmonia com a criação, que
eles mesmos são construtores. É preciso que todos
possamos caminhar juntos, como rede global com
uma missão universal”. (SOSA, 2017).
Fonte:
KLEIN, L. F. Pedagogia Inaciana: sua origem espiritual e configuração personalizada. Conferência no 2º Encontro
de Diretores Acadêmicos dos Colégios Jesuítas da América Latina, 8 a 12 set. Quito, Equador, 2014.
SOSA, Arturo. La educación de la Compañia: uma pedagogia al servício de la formación de um ser humano re-
conciliado com sus semejantes, com la creación y com Díos. Congresso Internacional de Delegados de Educación de la
Compañia de Jesús, Rio de Janeiro, out. 2017.
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