Revista Amooreno Edição 11 - DEZ18 | Page 39

forma a ocupar o tempo do “Red Carpet” com assuntos que realmente importam, em vez das típicas perguntas de moda e triviais sem significado. Ao contrário do que muitos pensam, Burke foi a primeira a ter reservas pela atenção mediática que foi gerada pela hashtag. O seu medo não era que afetasse pessoas inocentes, mas, pelo contrário, que as vítimas fossem prejudicadas pela comunicação social e pela consequente reação do público. Durante anos, Burke tentou manter-se longe da ribalta, concretizando o trabalho árduo de criar programas de apoio às vítimas de abuso, programas que não incluíam compartilhar seu status de vítima online. No entanto, percebeu que este movimento proporcionou uma grande divulgação em torno do tema do abuso, o que se evidencia como um ganho maior do que os possíveis riscos, abrindo-se a este processo de conversação mediática. O importante para Burke, neste momento, para além de continuar a conversação, é também estendê-la a outra questão: o que acontece depois. Depois de uma violação, a vítima perde todo o seu sentido de autoestima e valorização pessoal. Outro passo importante, e um objetivo do movimento é que as vitimas interiorizem e aceitem a ideia de que por serem vítimas de abuso, não precisam, necessariamente, de compartilhar o seu “estatuto” com o mundo. Após o ato em si, vem um longo processo de tentar superar o trauma da melhor maneira e continuar a vida com alguma paz interior. Um ano depois do movimento, foram analisados vários questionários e estudos de algumas entidades americanas, para saberem o que a população americana sentia em relação a este fenômeno. Veja algumas conclusões: • 40% dos homens e 59% das mulheres discordam que o abuso verbal e, em casos mais extremos, físico no local de trabalho não seja um problema presente. 30% dos homens encaram o problema com muita seriedade, enquanto 34% vê alguma seriedade, enquanto 38% das mulheres consideram o problema muito sério e outras 39% não vêm tanta gravidade. • 36% das pessoas que votaram em Donald Trump em 201 6 acreditam, em 201 8, que acusações falsas de abuso sexual são um problema maior; 50% dos votantes em Donald Trump acreditam que ao se queixarem de abuso, as mulheres causam mais problemas do que aqueles que resolvem; 65% dos votantes de Trump acreditam que homens que abusaram destas vítimas há 20 anos atrás não deviam perder os seus postos de trabalho agora; • Após o sucesso do movimento, quase metade dos chefes do sexo masculino sentem-se reticentes em relação a compartilhar partes do trabalho, como ser mentor ou trabalhar juntos num projeto; Metade das mulheres afirmam que as suas empresas reforçaram as medidas de prevenção após o crescimento do movimento, combatendo casos entre os seus colaboradores. • Após o sucesso do movimento, 37% das mulheres reconhecem experiências passadas como inapropriadas, em contraste de 7% dos homens. 1 6% das mulheres têm receio em falar sobre o movimento com homens. O movimento ainda sofreu um golpe altamente pejorativo quando uma das suas principais representantes: a atriz italiana Asia Argento, umas das vítimas que compartilhou a sua experiência com Harvey Weinstein, foi também acusada de abuso sexual por um jovem ator chamado Jimmy Bennet, quando este tinha apenas 1 7 anos, DEZEMBRO 2018 - REVISTA AMOORENO - 39