Revista Amooreno Edição 11 - DEZ18 | Page 40

#METOO Natacha Cortêz, Karen Ka e Jessica Aronis (Foto: Marcela De Mingo) enquanto Argento tinha 37. De fato a acusação é verídica e Argento chegou a pagar a Bennet para que ele não fizesse queixa. Ele afirma que assim que for reembolsado pelos danos da experiência, fará questão de doar o montante para o movimento Me Too. Após as acusações, as ativistas mantêm alguma distância em relação a Argento. Para o bem da causa, defendem que a justiça seja feita pelos órgãos competentes e que o comportamento de uma pessoa não deve tirar o crédito das experiências de muitas outras mulheres e homens, algo que este caso também evidenciou uma verdade que mesmo estas mulheres não abordam com a mesma frequência: os homens também podem ser vítimas de violação e abuso sexual, pois esse ato é relacionado com o comportamento humano e não com um sexo, raça ou religião em específico. O fenômeno do movimento Me Too expandiu-se para outras indústrias e percebemos que mesmo os mais conservadores reconhecem a causa e apoiam a mudança cultural que tem que ser feita. Mas, será que as pessoas estão sujeitas a rever os seus próprios comportamentos? Tarana Burke afirma que o movimento carrega um balanço positivo, onde poderá haver alguns sacrificados, mas onde a resolução final de trazer algum conforto às vítimas se sobrepõe claramente à alternativa de não fazer 40 - REVISTA AMOORENO - DEZEMBRO 2018 absolutamente nada em relação ao assunto. A conversa sobre assédio sexual está bem longe de terminar e, no Brasil, no último dia 6 de dezembro (201 8), foi abordado, com a iniciativa do Instituto Avon, uma conversa com a modelo Jessica Aronis, cujo foco principal e muito importante foi sobre o assédio na indústria da moda. Onde essa realidade também é muito presente. A conversa, que aconteceu na Casa Mulheres do Brasil, em São Paulo, começou com exemplos que são um marco na discussão sobre o assunto no mercado: as denúncias feitas aos grandes fotógrafos do mundo fashion, como Terry Richardson, Bruce Weber e Mario Testino. Jessica é embaixadora do evento e passou, ela mesma, por situações de violência extrema: recentemente, ela decidiu falar na internet sobre o relacionamento abusivo do qual fazia parte e como foi vítima de violência física, antes de entender que estava em uma situação de risco e que precisaria de ajuda para encontrar a saída. “As pessoas são abusadas e não sabem”, disse ela durante o bate-papo, reforçando que ainda é preciso abrir mais espaço para a conversa sobre o tema, porque o diálogo ainda se vê limitado no Brasil e as pessoas não tem noção do que é viver uma realidade de assédios e abusos. Aliás, durante a pesquisa para a conversa, foram encontrados poucos casos de mulheres brasileiras de renome no mercado fashion que falaram de forma aberta sobre o assunto – uma exceção foi a modelo Laís Ribeiro, que contou ter sido assediada por um fotógrafo no Caribe e como prefere não se envolver mais com a Semana de Moda de Milão por conta do histórico de preconceito do evento. A conversa, muito descontraída e repleta de comentários super agregadores do público presente, chegou a um ponto comum: a necessidade da criação de espaços confortáveis para que as pessoas consigam discutir o que é assédio, como se relacionam com o tema e, claro, o que é preciso para mudarem a sua própria visão sobre o assunto e instigar essa mudança no próximo. “Abuso é tudo o que tira a gente da naturalidade”, explicou, clareando a ideia do que pode ser considerada uma situação abusiva