#METOO
Natacha Cortêz, Karen Ka e Jessica Aronis
(Foto: Marcela De Mingo)
enquanto Argento tinha 37. De fato a acusação é
verídica e Argento chegou a pagar a Bennet para
que ele não fizesse queixa. Ele afirma que assim
que for reembolsado pelos danos da experiência,
fará questão de doar o montante para o movimento
Me Too.
Após as acusações, as ativistas mantêm alguma
distância em relação a Argento. Para o bem da
causa, defendem que a justiça seja feita pelos
órgãos competentes e que o comportamento de uma
pessoa não deve tirar o crédito das experiências de
muitas outras mulheres e homens, algo que este
caso também evidenciou uma verdade que mesmo
estas mulheres não abordam com a mesma
frequência: os homens também podem ser vítimas
de violação e abuso sexual, pois esse ato é
relacionado com o comportamento humano e não
com um sexo, raça ou religião em específico.
O fenômeno do movimento Me Too expandiu-se para
outras indústrias e percebemos que mesmo os mais
conservadores reconhecem a causa e apoiam a
mudança cultural que tem que ser feita. Mas, será
que as pessoas estão sujeitas a rever os seus
próprios comportamentos? Tarana Burke afirma que
o movimento carrega um balanço positivo, onde
poderá haver alguns sacrificados, mas onde a
resolução final de trazer algum conforto às vítimas
se sobrepõe claramente à alternativa de não fazer
40 - REVISTA AMOORENO - DEZEMBRO 2018
absolutamente nada em relação ao assunto.
A conversa sobre assédio sexual está bem longe
de terminar e, no Brasil, no último dia 6 de
dezembro (201 8), foi abordado, com a iniciativa
do Instituto Avon, uma conversa com a modelo
Jessica Aronis, cujo foco principal e muito
importante foi sobre o assédio na indústria da
moda. Onde essa realidade também é muito
presente.
A conversa, que aconteceu na Casa Mulheres
do Brasil, em São Paulo, começou com
exemplos que são um marco na discussão sobre
o assunto no mercado: as denúncias feitas aos
grandes fotógrafos do mundo fashion, como
Terry Richardson, Bruce Weber e Mario Testino.
Jessica é embaixadora do evento e passou, ela
mesma, por situações de violência extrema:
recentemente, ela decidiu falar na internet sobre
o relacionamento abusivo do qual fazia parte e
como foi vítima de violência física, antes de
entender que estava em uma situação de risco e
que precisaria de ajuda para encontrar a saída.
“As pessoas são abusadas e não sabem”, disse
ela durante o bate-papo, reforçando que ainda é
preciso abrir mais espaço para a conversa sobre
o tema, porque o diálogo ainda se vê limitado no
Brasil e as pessoas não tem noção do que é
viver uma realidade de assédios e abusos.
Aliás, durante a pesquisa para a conversa, foram
encontrados poucos casos de mulheres
brasileiras de renome no mercado fashion que
falaram de forma aberta sobre o assunto – uma
exceção foi a modelo Laís Ribeiro, que contou
ter sido assediada por um fotógrafo no Caribe e
como prefere não se envolver mais com a
Semana de Moda de Milão por conta do histórico
de preconceito do evento.
A conversa, muito descontraída e repleta de
comentários super agregadores do público
presente, chegou a um ponto comum: a
necessidade da criação de espaços confortáveis
para que as pessoas consigam discutir o que é
assédio, como se relacionam com o tema e,
claro, o que é preciso para mudarem a sua
própria visão sobre o assunto e instigar essa
mudança no próximo.
“Abuso é tudo o que tira a gente da
naturalidade”, explicou, clareando a ideia do que
pode ser considerada uma situação abusiva