forma a ocupar o tempo do “Red Carpet” com
assuntos que realmente importam, em vez das
típicas perguntas de moda e triviais sem
significado.
Ao contrário do que muitos pensam, Burke foi a
primeira a ter reservas pela atenção mediática
que foi gerada pela hashtag. O seu medo não era
que afetasse pessoas inocentes, mas, pelo
contrário, que as vítimas fossem prejudicadas
pela comunicação social e pela consequente
reação do público.
Durante anos, Burke tentou manter-se longe da
ribalta, concretizando o trabalho árduo de criar
programas de apoio às vítimas de abuso,
programas que não incluíam compartilhar seu
status de vítima online. No entanto, percebeu que
este movimento proporcionou uma grande
divulgação em torno do tema do abuso, o que se
evidencia como um ganho maior do que os
possíveis riscos, abrindo-se a este processo de
conversação mediática.
O importante para Burke, neste momento, para
além de continuar a conversação, é também
estendê-la a outra questão: o que acontece
depois. Depois de uma violação, a vítima perde
todo o seu sentido de autoestima e valorização
pessoal. Outro passo importante, e um objetivo
do movimento é que as vitimas interiorizem e
aceitem a ideia de que por serem vítimas de
abuso, não precisam, necessariamente, de
compartilhar o seu “estatuto” com o mundo. Após
o ato em si, vem um longo processo de tentar
superar o trauma da melhor maneira e continuar
a vida com alguma paz interior.
Um ano depois do movimento, foram analisados
vários questionários e estudos de algumas
entidades americanas, para saberem o que a
população americana sentia em relação a este
fenômeno. Veja algumas conclusões:
•
40% dos homens e 59% das mulheres
discordam que o abuso verbal e, em casos mais
extremos, físico no local de trabalho não seja um
problema presente. 30% dos homens encaram o
problema com muita seriedade, enquanto 34% vê
alguma seriedade, enquanto 38% das mulheres
consideram o problema muito sério e outras 39%
não vêm tanta gravidade.
•
36% das pessoas que votaram em Donald
Trump em 201 6 acreditam, em 201 8, que
acusações falsas de abuso sexual são um
problema maior; 50% dos votantes em Donald
Trump acreditam que ao se queixarem de abuso,
as mulheres causam mais problemas do que
aqueles que resolvem; 65% dos votantes de Trump
acreditam que homens que abusaram destas
vítimas há 20 anos atrás não deviam perder os
seus postos de trabalho agora;
•
Após o sucesso do movimento, quase
metade dos chefes do sexo masculino sentem-se
reticentes em relação a compartilhar partes do
trabalho, como ser mentor ou trabalhar juntos num
projeto; Metade das mulheres afirmam que as suas
empresas reforçaram as medidas de prevenção
após o crescimento do movimento, combatendo
casos entre os seus colaboradores.
•
Após o sucesso do movimento, 37% das
mulheres reconhecem experiências passadas como
inapropriadas, em contraste de 7% dos homens.
1 6% das mulheres têm receio em falar sobre o
movimento com homens.
O movimento ainda sofreu um golpe altamente
pejorativo quando uma das suas principais
representantes: a atriz italiana Asia Argento, umas
das vítimas que compartilhou a sua experiência
com Harvey Weinstein, foi também acusada de
abuso sexual por um jovem ator chamado Jimmy
Bennet, quando este tinha apenas 1 7 anos,
DEZEMBRO 2018 - REVISTA AMOORENO - 39