#METOO
E
m 5 de outubro de 201 7, o New York
Times publicava uma reportagem contra um dos
mais influentes produtores de cinema das
últimas décadas, Harvey Weinstein.
Mas, antes de o movimento se transformar em
uma hashtag de libertação das mulheres (e
homens), já existia uma organização desde
2006, ou seja, há 1 2 anos atrás. A organização
foi criada para informar, alertar e combater
comportamentos de abuso sexual e violação.
Tarana Burke é a mulher por trás desta
organização que nasceu no Bronx, em Nova
York, em 1 973. Nos seus anos de juventude
trabalhava como voluntária em conjunto com
associações que tinham como objetivo ajudar
jovens negras, que nasceram em comunidades
marginalizadas, mesmo ela não tinha tido uma
vida fácil, crescendo numa família de operários
que ganhavam um salário mínimo ou, às vezes,
nem isso.
A experiência que mudou a sua vida para
sempre e que a levou a criar esta organização,
foi o fato de ter sido vítima de violação aos seis
anos até a sua vida adulta, constantemente
abusada verbalmente e fisicamente por rapazes
da vizinhança.
Burke ingressou na Alabama State University e,
mais tarde, transferiu-se para Auburn University,
onde terminou os seus estudos. No fim dos anos
80, mudou-se para Selma, no Alabama, onde
trabalhou em associações relacionadas com os
direitos dos negros. Anos mais tarde, serviu
como consultora no filme Selma, realizado por
Ava Duvernay e com Oprah Winfrey como uma
das produtoras executivas – duas mulheres que
mais tarde apoiaram o movimento de Burke.
Em 2006, fundou a sua própria ONG, chamada
Just Be Inc., uma organização que focava no
bem-estar de “mulheres negras”. Foi
trabalhando nesta organização que Burke
começou a falar abertamente da sua
experiência, compartilhando com uma jovem
que admitiu que estava sendo abusada
sexualmente pelo namorado de sua mãe,
proferindo pela primeira vez as palavras Me Too.
A reportagem contra Harvey Weinstein, no New
38 - REVISTA AMOORENO - DEZEMBRO 2018
@Alyssa_Milano
York Times, fez com que ele fosse afastado de
sua própria produtora e retirado imediatamente
do corpo de jurados da Academia (entidade por
trás do Oscar).
Inspirada pela coragem destas vítimas, a atriz
Alyssa Milano lançou um tweet no dia 1 5 de
outubro, compartilhando o seu segredo e
desafiando todas as pessoas que também foram
vítimas fazerem a mesma coisa, de forma a
alertar para a magnitude de um problema que
tem sido ignorado há décadas e desencadeando
o grande movimento que conhecemos
atualmente.
A atriz desconhecia a origem da frase que nas
próximas semanas viria ser utilizada por milhões
de vezes. No início, Burke receava que não fosse
reconhecida pelo seu trabalho relacionado com o
slogan que rapidamente se espalhou pelas redes.
No entanto, o seu trabalho acabou por ser
valorizado de uma das maneiras mais
honoráveis. Ela foi honrada pela revista Time,
tendo sido nomeada como uma das pessoas do
ano de 201 7.
Burke acabou sendo convidada pela atriz
Michelle Williams para ser o seu par na
programação de entrega do Globo de Ouro. No
início Burke estava um pouco reticente, pois não
queria ser usada como um trunfo para estas
mulheres “ativistas” progredirem nas suas
carreiras. Williams acalmou Burke explicando a
sua intenção. Juntamente com outras atrizes que
se juntaram à causa, Laura Dern, Mery Streep,
Amy Phoeber, Emma Watson, Emma Stone e
Shailene Woodley, decidiram levar oito mulheres
ativistas, de todas as raças e classes, e cujo
trabalho ajuda milhares em toda a América, de