LIXO, MODA & SOCIEDADE
Para Fernanda, as peças precisam ter significado
- e isso requer uma verdadeira imersão na temáti-
ca que deseja abordar em sua coleção. Para falar
sobre a relação da moda com o lixo, a estilista
estudou a obra “Lixo, vanitas e morte; considera-
ções de um observador de resíduos”, de Emílio Eigh-
neer, o qual aborda a consciência humana, decadência
dos corpos e do valor da vida; além do documentá-
rio “Estamira” (2004), dirigido por Marcos Prado.
“Os catadores e garis representam hoje uma parcela
importante para a sociedade e principalmente para o
meio ambiente, porém sofrem com o preconceito e são
incompreendidos diante da importância do trabalho
que realizam, sendo vítimas da relação estigmati-
zada que existe sobre o lixo”, afirma Fernanda. De
acordo com um estudo realizado pela Folha de São
Paulo, mesmo sendo fundamentais para a vida urbana,
os lixeiros e garis lideram o ranking de rejeição
em relação ao trabalho, com uma porcentagem de 32%.
Nossa sociedade possui hábitos de consumo extre-
mamente poluentes, não preserva seus recursos natu-
rais e desvaloriza os profissionais responsáveis pela
manejamento de seu lixo. De acordo com Fernanda,
é necessário desconstruir esse pensamento. “Neste
trabalho não falo só do lixo como resíduo sólido, o
lixo também tem muito haver com preconceito e desi-
gualdade social, assim como diz Estamira, o lixo se
relaciona com os conceitos da sociedade”.
Não se trata apenas de uma transformação na área
de produção, a moda chega a sociedade conectada a
uma publicidade que não representa boa parte da po-
pulação. “Nos últimos anos, temos assistido a uma
mudança. As grandes marcas têm começado a produzir
peças com significado, coleções fortes e relevan-
tes. Isso afeta tudo: pessoas, mercado, economia e
planeta”. Fernanda afirma que os veículos de comuni-
cação têm começado a notar a necessidade de trazer
conteúdo e produtos que estejam mais próximos da
realidade de seus leitores, o que transforma uma
mídia que até pouco tempo era ditada pelo padrão.
O papel da moda não se encerra aqui. Fernanda
Marques acredita que este elemento vai além do mer-
cado. “Eu nunca vi a moda de uma maneira que não
fosse arte. Acho que tudo que expressa uma ideia,
tudo que tem significado é uma forma artística. Claro
que não é todo tipo de moda que é arte. Acho que o
conceito real de moda tem um viés muito artístico,
singelo e único. Moda é arte sim e tem que ser va-
lorizada como tal, tem que perder um pouco desse
conceito de que moda é fútil, algo fraco, sem rele-
vância. A moda é muito importante para as pessoas”.
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