Leonna, Geni e Lyra durante a apresentação
uma fadinha de outro mundo, que
não consegue entender os rótu-
los que os terráqueos dão para
a orientação sexual das pessoas.
Em seu número musical ela mos-
tra os estigmas embutidos e diz
que ela só gosta de pessoas:
“Por que é tão difícil entender
isso?”. Lyra também é uma mulher
cis e foi a porta de entrada
do grupo para essa matéria. A
mulher explicou que o espetá-
culo só foi para frente porque
o grupo ganhou o PROAC LGBT em
2018. Essa sigla, na verdade, é
um edital do governo do Estado
de São Paulo, que tem o intuito
de promover a arte, por isso faz
uma seleção das obras enviadas e
quem for o ganhador recebe uma
quantia em dinheiro para seguir
com o projeto.
Sentado no chão junto a Lyra,
também estava o diretor do es-
petáculo, Daniel Veiga, um homem
trans, de estatura baixa, ócu-
los fundos e de muito bom hu-
mor. Apesar da euforia de todos
no lugar, Daniel conseguia dar
os comandos e ordens de forma
tranquila, organizou o espaço e
interagiu com as Drags. No en-
tanto, o único momento em que
assumiu uma postura mais serena
foi no meio do ensaio, quando
estava tentando explicar para as
atrizes que não teriam o palco
inteiro do teatro para apresen-
tar. Nesse momento, todas ficaram
indignadas e ele apenas respon-
deu, entristecido: “Vocês vão
brilhar meus amores, mas não é
possível ainda, teatro no Brasil
é muito díficil”.
O que é ser Drag Queen?
Como todas concordaram em fa-
zer uma entrevista coletiva, no
fim do último ensaio, enquanto se
desmontam, guardavam seus ves-
tidos e perucas, começaram uma
conversa aberta sobre o que é
ser Drag Queen. Aos poucos, uma
roda no centro da sala foi se
formatando e cada uma começou a
soltar sua própria concepção do
que é fazer drag. É importan-
te dizer, desde o ínicio, que
cada um tem sua visão sobre o
que é essa transformação, então
não existe certo e errado, mas
talvez seja possível atingir um
consenso.
Quando buscamos a definição no
Google aparece: “Homem que se
veste com roupas extravagantes
de mulher e imita voz e trejei-
tos tipificadamente femininos”.
Bom, não é bem assim. Para fazer
drag não é preciso ser homem e
muito menos possuir um perfil fe-
minino. Para Lyra Delírio, drag
é uma expressão artística, não
é o homem fazendo papel de mu-
lher, se fosse isso, seria uma
atitude completamente misógina.
Nessa linha de raciocínio, drag
é criar, você pode ser o que
quiser, por exemplo, a drag de
17