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Lyra, que na verdade é inter- pretada por uma mulher cis, é uma fada e às vezes um gnomo, que assume formas não humanas, quebrando essa visão idealiza- da do papel feminino na trans- formação. “Ai ta bom gente, eu posso começar”, disse Leonna ao notar que todas estavam um pouco dis- traídas e acanhadas com a roda. Logo que iniciou sua fala, a drag já foi sem rodeios: “Você pode ser um pouco mais do que gostaria de ser” Ou seja, o processo de trans- formação solta uma trava, da li- berdade para agir da forma que quiser. Porém, mais do que isso, o fazer drag se encontra em um lugar no qual os limites entre persona, personagem e pessoa são muito vagos. Por isso, não tem Leonna antes da apresentação 18 como encarar o trabalho como um simples papel, que depois de en- cenado volta ao normal, isso é algo que faz parte da personali- dade dos artistas, não tem como afastar quem eles realmente são. Foi seguindo essa linha de pensamento que Maldita se mani- festou: “É tudo muito pessoal, esse lugar de você estar se mos- trando, suas coisas mais sen- síveis estão expostas na drag, talvez de uma forma mais óbvia ou não, seja na música, na rou- pa, algo tem um significado para você.” Por isso, não existe uma regra, um modelo de como se ves- tir, agir e onde frequentar, tudo depende do estilo da pró- pria pessoa. Completando, para Maldita, é como comparar vários artistas distintos, ninguém vai negar que são artistas, só que cada um decidiu seguir seu pró- prio caminho e linha de compor- tamento. Todas concordaram. Logo depois, Geni, que estava quieta até o momento, decidiu se manifestar e definiu o fazer Drag em uma só palavra: Discurso. Para ela, Drag Queen é um conjun- to de informações, tudo informa algo, desde a maquiagem até a música escolhida para a perfor- mance. Quando alguém se monta, passa por todo o processo de au- t oconhecimento e aceitação, por isso, depois de todo esse tra- balho o pensamento precisa ser: sou importante e tenho algo para falar. Então, Geni completa: “Se você veio aqui para dizer algo, então diga! Porque, com certeza, não veio aqui à toa”. Nesse momento, Georgyna con- cordou e fez um parênteses sobre o que significa ser mulher nesse meio. Existe uma diferença bru- tal entre quem começa fazer drag menino e quem começa menina. O público de Drag Queens ainda é majoritariamente masculino, sendo assim, Georgyna relata que muitas pessoas a questionam se ela é realmente uma drag. Com isso, Lyra também concorda e se