Nesse diálogo temos o ponto alta desta narrativa, na qual os negros, além de dominarem o uso
da linguagem tal qual o branco, são capazes de elaborarem pensamentos reflexivos e complexos
sobre seu estado de escravidão, e o mais importante, eles têm voz dentro da narrativa, a eles não é
negada a fala, como ocorria em outros romances publicados na mesma época, que silenciava as
vozes dos escravos.
“Úrsula” foi um dos primeiros romances escritos de autoria feminina. Por dar voz e ação aos
personagens escravizados como Túlio e a preta Suzana, o livro é visto como a obra inaugural da
literatura afro-brasileira. Uma vez que o escravismo era visto como o oposto de uma imagem civilizada
e progressista que o país desejava mostrar, assim seria melhor deixar os escravos em silêncio ou nas
sombras daquilo que não eram, como ocorreu nas demais produções literárias. Como aconteceu com
Machado de Assis, que foi embranquecido pela sociedade para poder ter a chance de ser reconhecido
pelo seu trabalho.
Por fim, concluo que “Úrsula” tem uma diferença em muitos aspectos em relação às outras
obras escritas no século XIX, como os papéis variados que cada mulher desempenha na narrativa. A
autora trouxe uma antítese entre Úrsula e Adelaide, na qual temos a mulher pura e verdadeira e a
sedutora que vende seu amor por dinheiro. Também tem aquela que não se encaixa em nenhum
desses padrões como a preta Suzana, que é mostrada como tendo suas próprias opiniões e visão de
mundo de uma mulher negra e escrava. Essa excelente obra finalmente tem ganho a atenção que
merece depois de tantos anos esquecida. É nossa dever como brasileiros ler e não deixar que esse
livro e Maria Firmina sejam relegados novamente às sombras.
Júlia Alana
Edição 1 - 2019 - Úrsula e outras obras