Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 82

RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 | 81 tava vivo porque conseguiu se esconder dos policiais na casa de uma vizinha. Lobão afirmou que não saiu de perto dos meninos caídos, Allan e Chauam, para que “os policiais não implantassem provas falsas”. Apesar dos policiais terem apresentado armas na delegacia como se fossem dos meninos, elas não apareceram nas filmagens no local do crime. Ele também contou que os policiais demoraram para prestar socorro, e que os jovens só foram levados para o hospital no camburão da polícia porque um vizinho colocou Allan no carro e a prima de Chauam fez o mesmo. Ele foi mantido sob custódia enquanto estava no hospital e foi mantido preso alguns dias na 30ªDP por suposta troca de tiros com os policiais. À época, Josenildo Lobão também relatou que o filho Hebert estava com medo de ir à escola e de ficar sozinho em casa, porque o vídeo foi largamente divulgado na imprensa e seu rosto aparece claramente. Uma testemunha da ocorrência – não identificada por questões de segurança – que esteve no atendimento na Comissão de Direitos Humanos da Alerj afirmou que os jovens estavam brincando na rua, assim como outras crianças e que não havia confronto policial com bandidos no momento. “o carro de polícia chegou e os meninos correram porque estavam brincando”. Os primeiros dois tiros foram disparados de dentro da viatura e logo depois, quando Chauan e Allan já estavam caídos no chão, foram ouvidos mais dois tiros. Perguntada se se sentia ameaçada, a testemunha contou que no domingo após o fato ocorrido, viu um carro com vidro fumê entrando na comunidade – fato que achou estranho, porque não se pode entrar com vidros fechados no local por ordem do tráfico – e passou devagar até a entrada da favela. Mais tarde, quando saiu da igreja, disse que viu o mesmo carro atrás de um carro da polícia, passando devagar em frente à igreja de onde estava saindo. À época, ela relatou que sentia muito medo, que não sairia de casa e que pretendia se mudar o quanto antes. O defensor público do NUDEH se colocou à disposição dos familiares e da testemunha para dar apoio jurídico. Na ocasião, a CDDHC Alerj enviou um ofício para o 9º Batalhão pedindo averiguação do procedimento dos policiais. A CDDHC acompanha os seus desdobramentos. MARÉ: FEVEREIRO DE 2015 Vitor Santiago Borges, de 29 anos, depois de assistir a um jogo de futebol, foi comemorar a vitória de seu time junto com quatro amigos num bar em Bonsucesso. Na madrugada, às 3h, retornava com o grupo de carro para o Conjunto de Favelas da Maré, onde mora. Na entrada da favela Salsa e Merengue, foi surpreendido por militares da Força de Pacificação5, que atiraram contra o automóvel. Vitor foi atingido no braço, pernas e no tórax. Ele teve a perna esquerda amputada. Um segundo passageiro do carro também foi atingido de raspão no braço. O veículo levava ainda um sargento da Aeronáutica lotado no estado do Amazonas e passava férias na Maré. 5. Em 30 de março de 2014, cerca de 2.700 militares das Forças Armadas do Brasil ocuparam a conjunto de favelas da Maré com 20 tanques de guerra e helicópteros blindados. A ação foi justificada como uma das fases da Pacificação da Maré para dar segurança à cidade durante a Copa do Mundo. Os militares mantiveram a Maré sitiada, já que neste período a comunidade esteve sob o regime de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), até junho de 2015.